Ginecologista: mulheres relatam descaso em consultas
A ginecologista Ligia Mascarenhas comenta sobre situações de mau atendimento e explica como denunciar
Por Beatriz de Oliveira
25|09|2023
Alterado em 27|09|2023
Já foi mau atendida por um ginecologista? Adiou ou deixou de marcar uma consulta por medo de como seria tratada? O Nós, mulheres da periferia perguntou às suas leitoras se já haviam passado por situações como essas; os relatos que recebemos elucidam como o descaso é cotidiano. Diante da pergunta “Já aconteceu de você ser maltratada(o) em uma consulta ginecológica?”, o termo “várias vezes” se repetiu em boa parte das respostas.
Já fui inúmeras vezes atendida de forma completamente desinteressada, negligente, grosseira e outros que nem sei adjetivar… Infelizmente estou acostumada com atendimento desumano da parte de ginecologistas…. Triste e lamentável
Relato de uma leitora
A ginecologista Lígia Mascarenhas aponta que essa realidade é mais cruel para mulheres negras. “As mulheres negras são base da pirâmide econômica, então tendem a ter uma renda menor e ir para lugares em que o próprio poder público negligencia, de certa forma. Há questões relacionadas também ao racismo estrutural”, afirma.
Aponta ainda que o racismo não se restringe às paredes do consultório. “Ela é mau atendida quando está no balcão, pelo segurança na porta, é julgada pelo técnico de enfermagem. Tem toda uma estrutura institucional que contribui com o preconceito”, diz. Lígia atua na Área Técnica da Saúde da População Negra, inserida na Secretaria de Saúde da prefeitura de São Paulo.
Quando ir ao ginecologista?
Ginecologista é a especialidade que tem como foco a saúde sexual e reprodutiva da mulher, além da gestação. Lígia elucida que não há idade delimitada para começar ou parar de frequentar esse tipo de médico. “Ginecologista é um médico que a gente deve ir sempre. De preferência, vá uma vez ao ano”, explica. Em relação à periodicidade, vale se atentar também aos chamados exames de rastreamento:
Papanicolau: exame ginecológico de citologia cervical, deve ser realizado entre 25 e 65 anos de idade. Depois de realizar dois exames seguidos, com intervalo de um ano, e obter resultado normal, a mulher pode passar a realizá-lo à cada três anos;
Mamografia: exame radiológico feito nas mamas, deve ser realizado a partir dos 50 anos de idade, a cada dois anos.
Durante a consulta, o profissional deve realizar o exame físico ginecológico e a anamnese – conversa entre médico e paciente. Uma leitora do Nós relatou não ter sido bem amparada ao tentar tirar dúvidas com o ginecologista.
Fui numa consulta para questionar as opções de métodos contraceptivos e o médico mandou eu pesquisar no Google
Relato de uma leitora
O profissional agiu de forma incorreta, segundo Lígia, “faz parte da consulta esclarecer dúvidas, então eu tenho que falar para o meu paciente quais são os prós e contras de cada método”, afirma.
Como denunciar descaso em consulta ginecológica?
Para a ginecologista Lígia Mascarenhas um caminho para diminuir casos de mau atendimento em consultas ginecológicas é o investimento em treinamento contínuo de profissionais que atuam no SUS (Sistema Único de Saúde), principalmente em unidades das periferias, em que há rotatividade grande de profissionais.
Para denunciar descaso, abuso ou racismo em consultas realizadas pelo SUS é necessário entrar em contato com a Ouvidoria:
Ligar gratuitamente para a Disque Saúde – 136;
Registrar denúncia na plataforma online Fala.BR;
Quem mora em São Paulo, pode ligar na Central SP 156.
A Ouvidoria pode ser acionada ainda para pedir informações e realizar elogios e sugestões.
A depender do caso, o ou a paciente pode denunciar no conselho de classe do médico ou instaurar um processo civil, orienta Lígia. Nas situações de racismo, vale ligar para o Disque 190 (Polícia Militar) ou para o Disque 100 (denúncias de violações de direitos humanos), além de registrar um boletim de ocorrência.
Por fim, a médica ressalta a importância das mulheres seguirem atentas à sua saúde. “A gente só tem um corpo, temos que cuidar bem dele, assim como, muitas vezes, cuidamos de outros corpos. Cuide-se bem”.