Futebol Feminino: conquistas históricas e desafios superados pelas mulheres 

Uma análise sobre o progresso do futebol feminino no país, celebrando conquistas históricas e discutindo os desafios em busca da igualdade

27|06|2023

- Alterado em 17|05|2024

Por Mônica Saraiva

No texto de hoje, celebro, elogio e exalto as mulheres no futebol
As que jogam com a bola
As que jogam com as palavras nas narrações e comentários
As que jogam com as letras
É tempo de celebrar todos os feitos históricos, as conquistas.
É tempo de comemorar todos os gols, dentro e fora dos gramados.

Ao longo desta leitura, entenderemos o motivo deste começo tão repleto de elogios e convicções.

Há menos de um mês, terá início a 9ª edição da Copa do Mundo Feminina, entre os países Nova Zelândia e Austrália. É a primeira vez que o Mundial ocorre no Hemisfério Sul. Antecedendo este grande evento futebolístico, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino já está em andamento desde 24 de fevereiro no Brasil. O torneio teve uma pausa em julho e agosto, devido à Copa, mas retornará até setembro para as finais.

São 16 times representando as diferentes regiões do Brasil: Corinthians, Palmeiras, Ferroviária, Santos, Flamengo, Internacional, São Paulo, Cruzeiro, Grêmio, Avaí/Kindermann, Real Brasília, Atlético Mineiro, Bahia, Athletico Paranaense, Real Ariquemes e Ceará. Um total de 176 jogadoras atuando como titulares, com 413 gols marcados até a data de escrita deste texto (23/6).

Na final do Brasileirão de 2022, foi registrada uma marca histórica para o futebol feminino, com a presença de 41.070 torcedores no jogo entre Corinthians e Internacional.

Esses feitos históricos devem ser celebrados com muito orgulho, pois são resultado de um trabalho árduo realizado por mulheres ao longo de muitos anos, apesar dos desafios e das proibições em relação ao corpo e à bola.

Vale a pena refletir sobre as razões pelas quais não temos tantas meninas jogando futebol, considerando as proibições e os desafios que enfrentaram.

Eu vou contar alguns fatos interessantes

No dia 14 de abril de 1941, o então presidente Getúlio Vargas baixou um Decreto-Lei de n° 3.199, art° 54, que proibia as mulheres de praticar esportes que não fossem “compatíveis com a natureza feminina”, entre eles o futebol. Essa proibição durou quase 40 anos, passando inclusive pelo período da Ditadura Militar no Brasil nos anos 60 e 70.

A regulamentação do futebol feminino aconteceu em 1983, apesar do fim do decreto ter sido no ano de 1979. A primeira Seleção Feminina de Futebol surgiu só em 1988, há 34 anos, minha idade.

Por outro lado, a Copa do Mundo Masculina já acontecia desde 1930, onde a Seleção tinha conquistado três Copas (1958, 1962 e 1970).

Algumas matérias do Jornal O Imparcial, do acervo da Fundação da Biblioteca Nacional, sobre nós.

Por que será que não temos tantas meninas jogando futebol? Onde estão os medos, as proibições, os desafios?

Alguns dados históricos entre tantos

A primeira partida de futebol feminino no Brasil ocorreu em 1921, com senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo. O jornal A Gazeta noticiou o evento como uma atração, em meio às festas juninas.

Até a década de 40, o futebol feminino estava longe de ter times ou grandes ligas. O que se sabia eram práticas ocorrendo nas periferias. Nesse período, embora ainda não houvesse proibição oficial, a modalidade era considerada violenta e destinada apenas aos homens.

O Araguari Atlético Clube é considerado o primeiro time do Brasil a formar uma equipe feminina, convocando 22 mulheres para um jogo beneficente em 1958.

Em 1983, o Esporte Clube Radar, no Rio de Janeiro, criou um dos primeiros times profissionais de futebol feminino no Brasil. De 1983 a 1988, a equipe conquistou o hexacampeonato do Campeonato Carioca e da Taça Brasil de Futebol Feminino.

Essas mulheres, tanto do passado quanto do presente, inspiram a nova geração que joga nas ruas, nas quadras, nas periferias e nos projetos sociais. Atualmente, as meninas têm referências ao assistir aos jogos na TV, ler histórias no YouTube e ver fotos no Instagram. Essas referências também vêm de uma equipe de mulheres que trabalham no futebol feminino, abordando-o de diferentes perspectivas.

Neste texto, mencionamos duas jornalistas que são referências no assunto. Rafaelle Seraphim, nascida e criada em Cavalcante, subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro, estreou recentemente como comentarista de futebol na TV Globo/Sportv. Tive a oportunidade de acompanhá-la ao vivo na transmissão pré-jogo entre Cruzeiro e Grêmio, pelas quartas de final do Brasileirão Feminino, e foi maravilhoso ver Rafa representando-nos tão bem com tanta sabedoria. Denise Thomaz, uma mulher periférica, é repórter do SporTV/TV Globo. Ela começou como produtora e foi idealizadora do quadro “Na Quebrada” do Globo Esporte. Sua oportunidade na emissora veio através do programa Jovem Cidadã.

Para concluir, continuemos a reivindicar nossos direitos dentro e fora dos gramados. Ainda há muito a ser discutido sobre futebol feminino, direitos e igualdade em várias questões, como salários (que valem tanto dentro quanto fora de campo). Deixaremos esses assuntos para os próximos textos. Aguardem!

Mônica Saraiva Mônica Saraiva é jornalista, fotógrafa e diretora. Moradora da Brasilândia, em São Paulo (S), é filha de mãe e pai cearenses. Trabalhou 10 anos no Museu do Futebol. É cofundadora do Gondwana F&C (Futebol & Cultura) e da Gondwana Comunicações. Também atua como mentora, consultora e palestrante de temas relacionados a cultura, educação e esporte.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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