Festival indígena em SP promove diálogo entre cidade e floresta
O festival indígena “Festival Jaraguá é Guarani Yvy Porã” teve como foco promover experiências entre povos da cidade e da floresta
Por Beatriz de Oliveira
18|04|2023
Alterado em 18|04|2023
“Estamos aqui pelo nosso território, fortalecendo a nossa cultura, o nosso modo de ser. E também para trazer a reflexão de que não fomos nós que chegamos na cidade, mas a cidade que avançou no nosso território. Estamos aqui abrindo diálogos, sonhos e esperança”. É assim que Tamikuã Txihi, artista visual e liderança indígena do povo Guarani, define o objetivo do “Festival Jaraguá é Guarani Yvy Porã”.
Em sua segunda edição, o festival aconteceu no dia 16 de abril na Tekoa Yvy Porã, na Vila Jaraguá, zona noroeste de São Paulo (SP). O domingo contou com venda de artesanatos, livros, camisetas e comidas típicas, além de mesas de diálogo, atrações musicais e desfile de moda. A partir da vivência e do diálogo entre povos da floresta e da cidade, o foco foi a valorização dos povos originários e preservação da diversidade ambiental.
“Festival Jaraguá é Guarani Yvy Porã” promoveu e diálogo entre cidade e floresta
©Beatriz de Oliveira
As amigas Isabela Villas Boas e Julia de Souza moram próximo a Vila Jaraguá e foram conferir o que rolou no festival indígena. “Eu acho interessante porque quando a gente comenta que tem uma aldeia indígena no Jaraguá as pessoas ficam chocadas, é muito importante a gente conhecer essa cultura, até para ajudar a preservar esse espaço”, afirma Isabella.
“Quando você vem aqui, você quebra todos os estereótipos que tinha, começa a entender mais sobre, por exemplo, os pratos típicos, a estética, a música”, complementa Julia.
Joana Conceição mora no centro da cidade e ficou encantada com a experiência na terra indígena e os diálogos proporcionados pelo evento. “É incrível, é tão bom estar num lugar assim, faz tão bem. Refiz minhas energias hoje aqui”, conta.
Para Fernanda Reis a primeira impressão que o festival deixou foi de aconchego. Para ela, o encontro mostra de forma prática a importância dos povos indígenas para o país. “Eu já sabia que esse território existia, mas vendo de perto a gente consegue entender mais ainda a importância do que tem aqui, uma riqueza cultural. Agora, quando me perguntarem sobre a aldeia indígena do Jaraguá eu vou saber falar com mais propriedade”, diz.
A Terra Indígena Jaraguá, composta por seis aldeias, é a menor reserva indígena do país, com 1,7 hectare demarcado. No entanto, as lideranças reivindicam expansão para 532 hectares; essa área já foi declarada como domínio dos indígenas, mas aguarda homologação. Com o avanço da especulação imobiliária, o povo do território vive com o constante risco de destruição de suas terras. Apesar disso, seguem firmes, preservando sua cultura e protegendo o bioma da Mata Atlântica.
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A artista Tamikuã Txihi ressalta que a comunidade trabalha também para reverter a destruição da mata nativa propiciada pela colonização. “Nós estamos dia a dia, com as nossas mãos, recuperando, plantando vida, trazendo as abelhas nativas sem ferrão, cuidando desse território que é a nossa mãe”.
Outra mulher que também integra esta luta é Maria Helena Vilas, de nome guarani Jdaxuka Indy. A artesã e cozinheira estava feliz por já ter vendido todos os bolos e tortas que havia preparado e destaca a relevância do festival: “Os parentes vendem seus artesanatos, mostram um pouco da cultura, e isso é importante para os jurua kuery [brancos] saberem que os indígenas têm cultura e conseguem se dar bem”.