
Exposição propõe reflexão sobre conexão entre guerra às drogas e crise climática
A mostra “Reformar - políticas de drogas, Restaurar - direitos e Recuperar - natureza” está instalada na Matilha Cultural, no centro de São Paulo (SP)
Por Beatriz de Oliveira
30|09|2025
Alterado em 30|09|2025
A mostra “Reformar – políticas de drogas, Restaurar – direitos e Recuperar – natureza” tem o objetivo de levar o público a refletir sobre as conexões existentes entre política de drogas, uso da terra e justiça climática. Aberta para visitação até o dia 22 de novembro, a exposição está instalada na Matilha Cultural, no centro de São Paulo (SP).
A instalação faz parte do projeto socioambiental Intersecção, realizado numa parceria entre Iniciativa Negra e a Coalizão Internacional pela Reforma da Política de Drogas e Justiça Ambiental.
“A mostra foi criada para mostrar como a guerra às drogas impacta vidas, mas também territórios e a própria floresta. A ideia é bem direta: reformar as políticas de drogas, que hoje são ferramentas de opressão e morte; restaurar os direitos de quem perdeu terra, liberdade e dignidade por causa desse sistema; e recuperar a natureza, que está sendo usada e destruída pelo dinheiro do tráfico e das economias ilegais ligadas a ele”, explica Bruna Imani, assessora de advocacy da Iniciativa Negra.
Para isso, foi criada uma narrativa visual de dez personagens impactados pela atual política de guerra às drogas: uma planta de coca, uma coletora de coca afroboliviana, uma defensora de terras indígenas, o Rio Amazonas, uma pessoa que trabalha em laboratório de cocaína, uma ribeirinha, uma onça-pintada, um vendedor de drogas, um usuário de cocaína e uma fiscal da autoridade portuária.
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Nas visitas monitoradas, os visitantes podem compartilhar suas experiências e seus conhecimentos para a construção de recomendações de redução de danos ecológicos, inspiradas nos perfis destacados na exposição.
Sobre as conexões a serem feitas entre política de drogas, uso da terra e justiça climática, Bruna destaca que o proibicionismo e a crise climática estão ligados. “Parte do dinheiro da coca e da cocaína vai parar em grilagem, garimpo, desmatamento e expansão do agronegócio em área proibida. Ou seja, o tráfico acaba virando banco para crimes ambientais. Ao mesmo tempo, a resposta do Estado é militarizar, reprimir e retirar comunidades de seus territórios. Isso agrava tanto a violência quanto a destruição da floresta”.
A mostra conta ainda com uma exposição de fotos de Yael Martinéz e Rafael Vilela, que retratam de maneira sensível as condições de vida na cena pública de uso de drogas conhecida como Cracolândia.
Durante o período da instalação Reformar Restaurar Recuperar, ocorre uma programação do Festival Ocupação Iniciativa Negra 10 Anos, com rodas de conversa, apresentações musicais, cursos e oficinas com a presença de nomes como a cantora Linn da Quebrada, a deputada Ediane Maria e a jornalista Cecília Olliveira.
Bruna Imani ressalta a importância de mulheres negras e periféricas se atentarem à discussão proposta pela exposição por estarem entre os grupos que mais sofrem os efeitos das guerras às drogas e da crise climática.
“Mulheres negras e periféricas já têm experiência em criar alternativas de sobrevivência e de resistência em meio à violência e à exclusão. Estar atentas a esse debate é também garantir que suas vozes estejam presentes na construção de soluções que respeitem a vida, os territórios e o futuro das próximas gerações”, diz.
Serviço
Mostra “Reformar – políticas de drogas, Restaurar – direitos e Recuperar – natureza”
Na Matilha Cultural – R. Rego Freitas, 542 – República
Visitação até 22 de novembro, das 14h às 20h, de terça a sábado
Programação neste link