Estéticas das Periferias chega a 10ª edição totalmente online
Encontro apresenta a vanguarda artística das periferias, construído de forma colaborativa e descentralizada, e reúne atrações de diversos estados – entre 31 de outubro e 8 de novembro
Por Redação
29|10|2020
Alterado em 29|10|2020
Quase oito meses após o início da pandemia que atingiu todo o planeta, começa, em 31 de outubro, o Estéticas das Periferias, um dos grandes encontros da vanguarda artística das periferias brasileiras. Com a ameaça da Covid-19, que segue ceifando vidas de modo desigual nesses territórios, o encontro, em sua décima edição, ocorrerá de modo totalmente online, por meio de lives e vídeos, entre os dias 31 de outubro e 8 de novembro, nas redes sociais.
O evento artístico é uma iniciativa da Ação Educativa, associação civil sem fins lucrativos que atua nos campos da educação, cultura e juventude, na perspectiva dos direitos humanos. Cerca de 40% das atividades do Estéticas serão ao vivo, e 60% pré-produzida estreando no evento. Para a edição de 2020 há um bloco especial da programação, o “Periferias do Brasil”, que traz produções periféricas de outros estados brasileiros, como o carimbó e o tecnobrega do Pará, o maracatu do Ceará e o passinho do Rio de Janeiro, além de representações de Minas Gerais. A ação faz parte de um projeto de nacionalização do Estéticas.
“A dor e o luto provocados pela Covid-19 nas periferias e a responsabilidade com a nossa população impuseram esse formato. Não podemos ignorar o impacto dessa situação nos territórios. Diante desse quadro, optamos também por nos fortalecer na rede incorporando artistas periféricos de todo o país, pela participação online”, explica Eleilson Leite, coordenador de Cultura da Ação Educativa. “Assim, o Estéticas da Periferia aprofunda seu sentido, que é o de dar visibilidade para vanguardas culturais que construíram uma enorme rede de cultura periférica nas últimas décadas e também criar e fortalecer redes entre elas”, completa.
O evento de abertura, em 31 de outubro, a partir das 14h20, traz uma apresentação inédita de Gumboot Dance com a Batucada Tamarindo. O Gumboot é um estilo de dança sul-africana realizado com botas de borracha de mineradores. Também para o dia de abertura estão programadas atividades de memória (“Pílulas de memória: Estéticas 10 anos: samba”, às 13h10), música (“Bloco Afropercussivo Zumbiido”, às 15h40) e literatura (“Debate Vinte anos de Angu de sangue e Capão Pecado”, com Marcelino Freire e Ferréz, às 17h).
Grupo percussivo Zumbiido
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Uma agenda cheia de atrações segue até o dia de encerramento, 8 de novembro, incluindo uma programação focada na comunidade LGBTQI+, promovida com as Fábricas de Cultura; mostras de poesia em parceria com a Casa das Rosas; campeonato de SLAM, com o Instituto Moreira Sales, e outros destaques. Haverá também a participação do grupo Ilú Obá de Min e de outros coletivos de cultura afrobrasileira.
Organização coletiva
A história do Estéticas da Periferia é dinâmica, cheia de vida própria. Logo depois do primeiro seminário, já em 2012, o projeto ficou mais participativo, incorporando dezenas de coletivos no processo de organização, com uma organização múltipla e colaborativa. Deixou de ser apenas um seminário, passando a ser um encontro, o que permitiu um aprofundamento da sua dimensão participativa e a sua construção das periferias para o centro, redefinindo os fluxos do mapa cultural.
Já há quatro edições, o evento passou a ser organizado de forma descentralizada, a partir de 23 territórios periféricos, que formam a base geográfica do Estéticas, e de 46 coletivos – dois por região – que respondem pelo projeto curatorial. Tais grupos são formados, majoritariamente, por jovens entre 18 e 29 anos, sendo pelo menos um quarto deles composto na sua totalidade ou em maior parte por mulheres.
Esses artistas combinam sua produção, de enorme potência cultural, com ativismo, promovendo a defesa da cultura e dos direitos humanos, em regiões frequentemente marcadas por políticas públicas ausentes ou pouco eficientes.
Em seus dez anos, o Estéticas acompanhou e participou da ascensão de tendências culturais de vanguarda, como o SLAM. Em 2017, uma das principais atrações do encontro foi um campeonato de SLAM sob o comando de Emerson Alcalde, um dos maestros do SLAM da Guilhermina.
O radar do Estéticas também captou e absorveu outros movimentos mais recentes, como o funk das quebradas, as mulheres do samba, o feminismo negro, a cultura em torno do futebol de várzea, o ensino de arte e as experiências das universidades autônomas, além das ocupações, das hortas orgânicas comunitárias e das editoras das periferias.
Esse legado vivo contabiliza, até agora, participação total de um público de 90 mil pessoas e a atuação de cerca de 5 mil artistas, em 640 atividades – apresentações artísticas, oficinas, intervenções, debates e palestras.
Princípios do evento
A organização de um encontro como o Estéticas da Periferia segue alguns princípios, que norteiam a programação e também a apresentação do evento por seus curadores e participantes. Esses princípios são agregadores, favorecendo a construção coletiva e favorecendo a colaboração entre os coletivos.
São eles: programação descentralizada; curadoria coletiva; comunicação colaborativa; articulação com o poder público; abrangência e equilíbrio de linguagens artísticas; forte presença de atividades educativas, como oficinas e minicursos; múltiplos espaços de reflexão, como debates e palestras; avaliação coletiva. “Quanto mais apostas nessa produção e troca coletivas, mais percebemos a força transformadora radical da produção cultural periférica”, afirma Leite.
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História
O encontro Estéticas das Periferias surgiu em 2011, num esforço das periferias da cidade de São Paulo para debater e apresentar as inovações artísticas de diferentes territórios, distantes espacialmente, mas que guardavam elementos culturais comuns. Inicialmente, foram previstos três seminários anuais, até 2013.
As trocas e a força desses encontros foram tamanhas que o evento anual se impôs, sem interrupções. Em 2020, é novamente realizado, desta vez tendo de lidar com a pandemia da Covid-19, o que criou limitações presenciais, mas, também, ampliou a participação de representações periféricas de outros Estados.
Os patrocinadores da edição de 2020 do Estéticas das Periferias são: Itaú, Facebook, Ministério do Turismo, por meio da Secretaria Especial de Cultura, e Prefeitura de São Paulo.