Em 2022, o Nós, mulheres da periferia se uniu a Amazônia Real, Marco Zero e Alma Preta para pautar a primeira infância no debate eleitoral na série “Escolha pelas mulheres e pelas crianças”. Confira o resultado do trabalho!
Atualizado em 18|12|2022
No início deste ano, mirando as eleições, o Nós começou a planejar sua atuação na cobertura de umas das eleições mais importantes da história brasileira e, para nós, pensar no bem-estar de mulheres e crianças na primeira infância é ponto de partida para sonharmos o futuro.
Como são as mães, as mulheres negras, as maiores responsáveis por fazer viver e sobreviver uma criança, elas devem ser entendidas como ponto central nas discussões e ações relacionadas às políticas públicas da sociedade.
Para tanto, e porque acreditamos na importância e força do trabalho em rede, não podíamos pautar esta importância sozinhas. Assim como o Nós, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal acredita que um dos caminhos para promover a mobilização da sociedade e a transformação real na vida das pessoas é por meio da informação. Com este apoio, nos unimos a Alma Preta, Marco Zero Conteúdo e Amazônia Real para abordar diferentes contextos e realidades e criamos a campanha “Escolha pelas mulheres e pelas crianças”.
Juntos, realizamos uma cobertura a partir da escuta e das histórias das mulheres negras e pobres, fundamentais para pensarmos transformações sistêmicas que atinjam, primeiro, as crianças e as famílias em situação de maior vulnerabilidade.
Além disso, oefertamos a formação “Como cobrir primeira infância e eleições ” para 30 jornalistas freelancers e ligados a veículos de todas as regiões brasileiras. O resultado desta formação é um guia prático para apoiar jornalistas locais em suas coberturas sobre o tema. Apresentamos “nosso jeito de ver o mundo”, ouvindo as mulheres negras como fontes prioritárias, escrevendo uma outra história e registrando narrativas diferentes da dita “grande imprensa”.
Os participantes do curso ganharam uma bolsa e produziram diversas reportagens com formatos e abordagens diversas, essenciais para entendermos a realidades de diferentes infâncias brasileiras. Com as eleições definidas, convidamos especialistas negras para pensar o futuro das crianças pequenas no cenário pós-eleições.
Abaixo, você confere o resultado das produções dessa rede que segue pautando os direitos das crianças e das mulheres de maneira perene.
O estado do Amazonas tem mais de 250 mil crianças fora das creches públicas e privadas, segundo o IBGE de 2019. Em Manaus esse número é superior a 129 mil crianças. Políticos como Amazonino Mendes (Cidadania) e Arthur Virgílio Neto (PSDB) prometeram, entre 2009 e 2020, mais de 200 obras de creches, mas não cumpriram essas promessas, e são de novo candidatos nas próximas eleições sem incluir o tema primeira infância no debate eleitoral. Em 11 anos, os investimentos prometidos pelos ex-prefeitos somaram mais de 200 milhões de reais em obras, mas atualmente Manaus oferece apenas vagas em 24 creches.
Confira a reportagem completa.
Muitas vezes silenciados, os abusos e estupros contra crianças de até seis anos deixam marcas profundas nas vítimas e são problemas ainda longe de serem superados na sociedade brasileira. No Amazonas, esses crimes têm um endereço comum: acontecem dentro dos lares, no interior da família e o abusador é geralmente do grupo familiar: pai, avô, tio e padrasto. Não há estatística precisa sobre os casos de estupro de vulnerável na faixa etária da primeira infância, o que dificulta a informação sobre esse crime assustador. Mas, entre janeiro a fevereiro de 2022, o Estado registrou 18 casos de violência sexual contra as crianças. Silenciadas na estatística, elas também são apagadas nos programas dos candidatos ao governo nas eleições estaduais em 2 de outubro. Os projetos são superficiais e há candidatos que não citam ações voltadas à proteção de meninas e meninos em seus planos de governos.
A saga do jovem Puré Juma, do Amazonas, para conseguir estudar é uma síntese do descaso que marca o ensino específico para crianças e jovens indígenas na Amazônia. A falta de estrutura e de material didático mostra que há muita luta pela frente, apesar das conquistas do movimento indígena. Puré, hoje com 20 anos, viu de perto a montagem da estrutura da escola, mas precisou concluir o ensino fundamental em Humaitá (AM). Atualmente, é um dos professores das crianças e lida com a situação precária: goteiras, falta de ventilação, carteiras quebradas e ausência de materiais didáticos. Os povos indígenas lutaram muito pela conquista de uma educação escolar específica e, segundo especialistas ouvidos pela Amazônia Real.
A reportagem da Marco Zero conta histórias de mães pernambucanas que vivem em situação de insegurança alimentar. A dificuldade de acesso a alimentos cresceu mais no Norte e Nordeste, como também em famílias comandadas por mulheres, formadas por pessoas pretas ou pardas e com crianças menores de dez anos.
Entre 2018 e 2020, 839 crianças foram acolhidas pelo Sistema Nacional de Adoção (SNA) porque a mãe foi presa, especialmente aquelas com idades de um a seis anos. Quanto mais tempo a criança fica longe da mãe, ou seja, quanto mais tempo a mulher passa encarcerada, maior é o risco de se quebrar o vínculo entre elas, incluindo o de perder a guarda dos filhos. Segundo o documento do CNJ, das crianças que são acolhidas pelo SNA, 66,7% voltam à família biológica, mas 8% delas são encaminhadas para a adoção, especialmente as que têm até um ano de idade. O encarceramento de mulheres mães de crianças na primeira infância provoca ainda um outro lado perverso: a permanência de bebês nos primeiros seis meses de vida dentro das unidades penitenciárias, muitas vezes mistas (quando recebem homens e mulheres) e sem estrutura adequada para acolher recém-nascidos.
Um dos desafios para quem vai governar o Brasil e os estados a partir de janeiro de 2023 é recuperar as conquistas que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do SUS vem perdendo nos últimos quatro anos. Mais do que orgulho pela referência que se tornou no mundo, em razão da oferta de diferentes vacinas e ampla cobertura das crianças, resgatar o status anterior do PNI é a certeza de ter a infância protegida de doenças que matam e deixam sequelas graves, como a paralisa infantil e o sarampo. Significa, sem exageros, salvar uma geração da qual o país vai depender para tocar sua produção, proteger sua cultura e biodiversidade, escrever sua história no futuro. Marco Zero investigou os dados do estado de Pernambuco.
As consequências são, quase sempre, uma autoestima completamente massacrada, o convívio constante com a insegurança e o medo, a falta de amor e cuidado, uma infância interrompida. O distanciamento que acontece durante o encarceramento de alguma forma se eterniza na criança, colaborando para relações turbulentas. Essa vida de filhos sem pais, e abandonados involuntariamente pelas mães, é um convite para que a história de encarceramento, violações e violências se repita
Flávia Ribeiro de Castro, fundadora da ong Casa Flores, que atua na defesa de mulheres em situação de vulnerabilidade
De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), 6 em cada 10 lares chefiados por pessoas negras enfrentam insegurança alimentar. A reportagem ouviu Raquel Uchôa, professora do Departamento de Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco e integrante da coordenação do Observatório da Família - Instituto Menino Miguel e Priscilla Cordeiro, assistente social, trabalhadora do SUAS e doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Instituto de Estudos para Política de Saúde (IEPS) revelou que políticas públicas foram importantes para a redução das desigualdades entre 2014 e 2019: a disponibilidade de leitos obstétricos e a ausência da Estratégia de Saúde das Famílias. As regiões de São Paulo com mais leitos e a maior cobertura da ESF têm menores indicadores das desigualdades raciais quanto ao acesso ao pré-natal.
A Alma Preta listou o que defendem seis candidatos à presidência às crianças de até seis anos, faixa etária considerada fundamental no processo de desenvolvimento. Para a apresentação das propostas, foram escolhidos os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas à época (Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet), além dos dois únicos candidatos pretos que disputaram o cargo (Vera Lúcia e Leonardo Péricles).
Nesta fase, a criança está formando um monte de conexões cerebrais. Se nós quisermos que ela se desenvolva bem, é preciso garantir, no mínimo, três refeições ao dia
Nilson de Paula, professor da Universidade Federal Rural do Paraná (UFRPR) e pesquisador da Rede Brasileira em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan)