casas de periferia

Em SP, moradores de Pirituba e Jaraguá reclamam de aumento do IPTU em 2026 

Apesar de ampliar população com isenção de imposto, projeto de lei prevê aumento expressivo do IPTU em periferias

Por Beatriz de Oliveira

28|10|2025

Alterado em 31|10|2025

Moradores da cidade de São Paulo terão que pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) mais alto a partir do ano que vem. A mudança vai atingir as periferias da capital, com previsão de aumento de até 90% em bairros como Pirituba e Jaraguá, na zona noroeste.

No dia 8 de outubro, a Câmara Municipal aprovou em primeiro turno o projeto de lei 1130/2025, enviado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), que atualiza a Planta Genérica de Valores (PGV), usada como base de cálculo para o IPTU. Já no dia 29 de outubro, o projeto foi aprovado em segundo turno.

“Esse projeto de lei muda o valor do metro quadrado nas diversas regiões da cidade de São Paulo, como uma medida de atualização do valor dos imóveis, e não da alíquota do IPTU”, explica Henrique Frota, diretor-executivo do Instituto Pólis.

O texto amplia a faixa para isenção de pagamento do imposto. Imóveis com com valor venal de até R$ 150 mil não pagarão IPTU (o limite anterior era de 120 mil), e pessoas que tenham apenas uma residência com valor venal de até R$ 260 mil também ficarão isentas (o limite anterior era de 230 mil).

Outra atualização é a isenção para imóveis localizados em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) 1, 2 e 4. As Zeis 1 são aquelas compostas por favelas e loteamentos irregulares; as Zeis 2 são áreas pouco ocupadas e reservadas para habitação popular; e as Zeis 4 ficam próximas às represas de Guarapiranga e Billings, destinadas à moradia social.

Segundo a prefeitura, cerca de 1 milhão de imóveis terão isenção do IPTU e outros 500 mil terão desconto. Além disso, o texto impõe travas de reajuste máximo de 10% para imóveis residenciais e para imóveis comerciais.

Periferias podem ter aumentos expressivos do IPTU

No entanto, segundo levantamento do gabinete do vereador Celso Giannazi (PSOL), com a aprovação do texto atual, 49% dos contribuintes terão aumento de imposto entre 20% e 40%, e 16% terão que pagar mais de 40% do que pagam hoje. Enquanto apenas 0,24% serão beneficiados com a redução do IPTU.

O levantamento mostrou que o maior aumento está previsto para a região de Pirituba e Jaraguá, com 90%. Em outras periferias também podem ocorrer altas expressivas: 60% no distrito Anhanguera, 40% no Jardim Ângela, São Mateus e Capão Redondo. Para serem implementadas, as mudanças devem ser aprovadas em segundo turno de votação.

Nota-se que, com as travas indicadas pelo projeto de lei, os aumentos ocorrerão de forma diluída ao longo do tempo, limitados a 10% por ano. Mesmo com esse limite, a alta do IPTU supera a inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no ano até agosto foi de 3,15% e a inflação dos últimos 12 meses, foi de 5,13%.

Diante dessa possibilidade, moradores de Pirituba e Jaraguá se mobilizaram contra o aumento do IPTU, organizando inclusive um abaixo-assinado. “Vivemos em bairros que, apesar de sua importância para a cidade, ainda enfrentam graves desigualdades em infraestrutura, transporte, saúde e educação pública. O aumento do IPTU em 90%, neste contexto, representa um peso injusto sobre famílias trabalhadoras que já lutam diariamente para manter o básico”, aponta o texto.

A codeputada estadual Simone Nascimento (PSOL), moradora de Pirituba, argumenta que o aumento do IPTU na região pode levar à expulsão de famílias do local. “É lamentável que no momento em que nossa região passa a ter mais empreendimentos de moradia e a construção de um metrô próximo, a escolha do prefeito seja impedir que os mais pobres vivam aqui”, diz a parlamentar em entrevista ao Nós, mulheres da periferia.

Cristiana Moura vive em Pirituba desde que nasceu e recentemente adquiriu um imóvel no bairro pelo programa Minha Casa Minha Vida. “Muitas pessoas aqui lutaram por anos para conquistar a casa própria, e esse reajuste abusivo do IPTU pesa nas contas do mês, comprometendo, inclusive, que consigamos quitar nosso imóvel”, pontua.

Já Henrique Frota afirma que: “é certo que o aumento do IPTU significa um ônus maior no orçamento familiar para aquelas famílias que não estarão isentas. É um aumento superior ao da inflação, e nós sabemos que a renda familiar não cresce nessa mesma velocidade”.

Matéria atualizada no dia 31 de outubro às 11h30