mulher idosa sorrindo

Elizabeth Teixeira, liderança camponesa, completa 100 anos 

Nesta quinta-feira (13), a liderança camponesa Elizabeth Teixeira completa 100 anos de vida. A paraibana do município de Sapé se firmou como referência na luta por reforma agrária e pelos direitos dos trabalhadores do campo. Por sua atuação, foi perseguida durante a ditadura militar e teve parte de sua trajetória contada no documentário Cabra Marcado […]

Por Beatriz de Oliveira

12|02|2025

Alterado em 12|02|2025

Nesta quinta-feira (13), a liderança camponesa Elizabeth Teixeira completa 100 anos de vida. A paraibana do município de Sapé se firmou como referência na luta por reforma agrária e pelos direitos dos trabalhadores do campo. Por sua atuação, foi perseguida durante a ditadura militar e teve parte de sua trajetória contada no documentário Cabra Marcado para Morrer, de 1984.

Elizabeth nasceu em 13 de fevereiro de 1925, na comunidade de Antas do Sono, na Paraíba. Sua família era dona de pequenas propriedades de terra. No ano de 1940, conheceu João Pedro Teixeira, um trabalhador negro e sem terra, e se casou com ele, mesmo a contragosto de seu pai.

Ao lado do marido, militou na luta pela terra. João tornou-se uma das principais lideranças das Ligas Camponesas de Sapé, organização criada nos anos 1950 para combater as violações do latifúndio e defender os direitos dos trabalhadores do campo. Em 1962, ele foi assassinado e Elizabeth assumiu a liderança da Liga da cidade e, posteriormente, a do estado (Liga Camponesa da Paraíba). A gestão da paraibana ampliou a participação de mulheres nas Ligas, dobrando o número de associados.

foto em preto e branco de mulher falando ao microfone

Elizabeth Teixeira é uma liderança camponesa

©reprodução internet

Segundo o site Memórias da Ditadura, as Ligas Camponesas eram uma forma de organização dos trabalhadores do campo, estimuladas pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) para levar adiante a luta por seus direitos. Elas começaram a existir em 1945, estabeleceram-se em vários municípios e foram importantes no movimento pela reforma agrária no Brasil.

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Elizabeth Teixeira 

Com o golpe civil-militar de 1964, Elizabeth passou a ser perseguida pelo Estado, foi presa e viveu clandestinamente por 17 anos na cidade de São Rafael, no Rio Grande do Norte. Lá, mudou de nome e se dedicou à alfabetização de crianças. Seus 11 filhos também sofreram os impactos da ditadura e precisaram se separar para fugir da perseguição. Dois deles foram assassinados e uma filha cometeu suicídio.

Ainda no ano de 1964, ela aceita participar do filme “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, sobre o assassinato de João Pedro Teixeira e a história das Ligas Camponesas. No entanto, as gravações são interrompidas pela ditadura e o cineasta se reencontra 17 anos depois com os camponeses que participaram das filmagens iniciais para que comentem sobre suas experiências. Eduardo se reencontra também com Elizabeth Teixeira; “em três dias de encontros com Coutinho, a mulher amedrontada se encontra e se reconcilia com sua identidade, suas escolhas, suas raízes”, diz a sinopse do documentário lançado em 1984.

foto em preto e branco de mulher e crianças

Elizabeth Teixeira e seus filhos no filme Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho

©Acervo Eduardo Coutinho/IMS

O cineasta também filmou outro documentário sobre a paraibana: “A família de Elizabeth Teixeira”, de 2014, em que mostra o reencontro da liderança camponesa com os seus filhos, 50 anos depois do golpe militar.

Sua história também é contada nos livros “Eu marcharei a sua luta: a vida de Elizabeth Teixeira”, de Lourdes Bandeira, Neide Miele e Rosa Godoy e “Elizabeth Teixeira: mulher da terra”, de Ayala Rocha.

A comemoração do centenário de Elizabeth Teixeira contará com um evento de três dias, o Festival da Memória Camponesa, que acontece de 13 a 15 de fevereiro no Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, instalado na casa onde Elizabeth viveu com sua família, na Comunidade de Barra de Antas, na zona rural de Sapé. A programação inclui a exposição “Elizabeth Teixeira: 100 faces de uma mulher marcada para viver”, Marcha da Memória Camponesa e apresentações culturais.