Duda Montadora desafia estereótipos ao montar móveis em São Paulo (SP)
Montadora de móveis enfrentou o assédio e a descrença da família ao ingressar na área.
Por Mariana Oliveira
23|02|2024
Alterado em 07|03|2024
Quando alguém realiza uma mudança ou adquire um novo móvel, a Duda Montadora entra em ação, montando os móveis e dando vida aos lares das pessoas. Há nove anos, Thamires Eduarda escolheu uma profissão socialmente vista como masculina, contrariando seus amigos e familiares.
Ela lembra de ter enfrentado assédios e ter sido desacreditada em sua capacidade diversas vezes. “Clientes me assediaram na frente de suas esposas”. Eduarda ainda enfrenta a descrença de que ser montadora é sua principal fonte de renda.
Uma mulher me contratou, e o esposo dela olhou para mim e afirmou que eu não conseguiria. Não debati, fiz o meu trabalho e, quando finalizei a instalação, ele me pediu desculpas.
Tudo começou quando sua avó, Maria Nadilza, comprou um guarda-roupa e, após esperar por mais de um mês pelo montador, Duda ficou incomodada. Aos 17 anos, ela arregaçou as mangas e o montou sozinha. “No dia em que eu o montei, o montador apareceu, perguntou se fiz sozinha e se já havia feito antes, elogiando-me”, lembra. Colegas e vizinhos começaram a contatá-la, e aos poucos, descobriu uma maneira de se tornar financeiramente independente. “No começo, fazia para ter uma renda; minhas ferramentas eram simples. Depois, foi crescendo o amor, e três anos depois, passei a me considerar uma profissional na área”.
Duda foi vítima de críticas por parte de sua própria família, ouvindo várias vezes para encontrar um “emprego de verdade”. No entanto, não permitiu que os comentários negativos a afastasse de seguir seu sonho. “Diziam que eu não conseguiria sobreviver. Uma das pessoas que mais me apoiou foi minha avó. Agora, todo mundo indica meu serviço”, revela.
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A montadora nunca fez cursos técnicos ou profissionalizantes na área, aprendeu o ofício na prática e utiliza plataformas digitais para se manter atualizada com o lançamento de ferramentas e técnicas que otimizem sua rotina. “Ninguém me dava oportunidade de emprego porque eu era mulher, pequena em estatura e muito jovem. Depois de um tempo, consegui vaga em duas marcenarias, onde aprendi a lidar com ferramentas elétricas e máquinas estacionárias de marcenaria”. Atualmente, considera seu trabalho além de uma ocupação, um processo terapêutico. “Percebi que quando estava triste, começava a montar aquele quebra-cabeça dos móveis e esquecia dos meus problemas”, conta.
Com sua mochila de ferramentas e sua moto, sai do bairro do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo (SP), para atender em toda a cidade. “Eu passei sete anos rodando a cidade de metrô com um peso de quase 20 kg. Hoje carrego minhas ferramentas na minha moto, o que facilitou minha vida e aliviou minha coluna”, brinca.
Embora compartilhe a profissão com poucas mulheres, Eduarda tem percebido um aumento desse número devido às redes sociais, que expõem para mais mulheres que o serviço pode ser feito por elas também.
Outras mulheres no ramo de montagem de móveis:
Outras mulheres também vêm se aventurando no ramo de montagem de móveis. Conheça algumas!
A montadora Dani trabalha com instalações, montagem e desmontagem de móveis e reparos na capital paulista.
O S.O.S Gatinhas, é um projeto formado por Fernanda e Índia, as companheiras também são conhecidas como “sapatão de aluguel”, em referência à expressão “marido de aluguel”. As “gatinhas”, além dos serviços de montagem, realizam reparos elétrico
No interior de São Paulo, na cidade de São Carlos, Fran Montadora é destaque no ramo. Em seus perfis nas redes sociais, compartilha os bastidores dos seus serviços.
Saindo do estado de São Paulo, Elisa Xavier é montadora na região de Vila Velha, capital do Espírito Santo. Ela começou em 2020, trabalhando com as ferramentas do pai, até ganhar espaço no ramo da montagem de móveis.