Dominique Galante: ‘não tem como eu tirar de mim a minha africanidade e a minha Umbanda’
No Dia Nacional da Umbanda, a umbandista Dominique Galante responde perguntas sobre essa religião
Por Beatriz de Oliveira
13|11|2024
Alterado em 13|11|2024
Neste 15 de novembro, para além do feriado nacional da Proclamação da República, comemora-se também o Dia Nacional da Umbanda, uma das únicas religiões genuinamente brasileiras. A data foi instituída em 2012, durante o governo de Dilma Rousseff.
Para falar sobre esse assunto, entrevistamos a umbandista, cartomante e médium Dominique Galante, que é dona do perfil Essência Mandingueira, no qual compartilha seus conhecimentos adquiridos da vivência da Umbanda.
Confira.
Dominique Galante, que é dona do perfil Essência Mandingueira
©arquivo pessoal
Nós, mulheres da periferia: Pra quem não conhece, o que é a Umbanda? Pode explicar sobre o conceito dessa religião?
Dominique Galante: Como todas as outras, a Umbanda é uma religião que faz a gente se religar com a nossa essência. A Umbanda faz você se comunicar melhor com você mesmo, com o seu ser espiritual, que nada mais é que as nossas encarnações, o que inclui a nossa ancestralidade.
A base do culto é formada por orixás e pelas linhas de trabalho regidas por eles. Existem as linhas de Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças. Há também as linhas mais recentes, como as dos Baianos, Cangaceiros e Marinheiros. As linhas de Exu e Pomba Gira são os guardiões da Umbanda. Então, um terreiro tem um trabalho mediúnico de incorporação desses espíritos.
Nós, mulheres da periferia: Como surgiu essa religião?
Dominique Galante: A nossa religião foi muito ditada pela oralidade, então não temos registros sobre o que foi a Umbanda no passado. De acordo com o que os nossos antepassados deixaram para a gente, as primeiras manifestações da Umbanda [durante o período escravocrata] eram muito brutas. E, por isso, os senhores de engenho chamaram aquilo de demoníaco. Porém os espíritos vinham, pediam ervas, curavam e rezavam. Para mim, foi ali que nasceu a Umbanda.
A abolição da escravatura não deu aval para disseminarmos a nossa religião. Mas, em 1908, o médium Zélio de Moraes começou a ter manifestações mediúnicas e a família dele recorreu a um centro de mesa (também conhecido como centro espírita ou centro kardecista), doutrina seguida por pessoas que acreditavam que existia um plano espiritual diferente do que o cristianismo ditava. Zélio apresentou manifestações mediúnicas de Preto Velho e Caboclo, que deu o nome à religião de Umbanda.
Depois disso, a Umbanda começou a ser mais aceita pela elite. Zélio criou vários templos e abriu caminhos para atrair mais elementos para o culto, como atabaques (elemento que o próprio Zélio era contra), resgatando as raízes da Umbanda mais africanista.
Durante o século XX, as macumbas cariocas começaram a ter muito prestígio, por mais que nessa época ainda houvesse muita influência da cultura européia e discriminação. Foi nesse momento que surgiu a Cabula, com atabaques, oferendas e altares com sincretismos de santos católicos, mas com uma africanidade bem mais presente. Por isso, hoje encontramos muitas ramificações da religião mas todas se interligam.
Nós, mulheres da periferia: Como você acredita que a Umbanda seja resistência na sua comunidade?
Dominique Galante: Eu sou médium umbandista há sete anos e a minha Umbanda é africanista, porque a minha mãe de santo foi iniciada do candomblé Ketu. As nossas rezas são muito destinadas ao nosso culto ancestral. Dentro da nossa comunidade, isso é de total relevância porque a gente leva isso pras nossas crianças.
Temos um espaço chamado de Quilombo de Vó Cambinda, onde fazemos um trabalho com as crianças, com livros de autores negros. Esse trabalho social na nossa comunidade é um diferencial para manter viva a nossa ancestralidade. Essa é a nossa forma de ser resistência.
Nós, mulheres da periferia: Como a Umbanda muda a sua vida para além da espiritualidade?
Dominique Galante: Hoje, a Umbanda não é só a minha religião, é meu estilo de vida. Eu trabalho com a Umbanda nas minhas páginas das redes sociais e no terreiro com projetos sociais. Vejo que cada dia que passa, eu cresço espiritualmente e humanamente para a minha comunidade.
Quando eu falo de Umbanda, falo de motivo para existir. Se eu tirar isso da minha vida, todo meu trabalho social e espiritual vai embora. Os lugares que quero ocupar, não fazem sentido sem a minha religião. Não tem como eu tirar de mim a minha africanidade e a minha Umbanda.