Discutir a saúde mental masculina não é sinônimo de fraqueza
Psicólogo Everton Mendes explica que falar sobre o tema não deve ser um tabu
Por Mariana Oliveira
02|12|2022
Alterado em 07|12|2022
Estereótipos que envolvem a fragilidade masculina atrelados à ideia de que “homem não chora” podem ser socialmente prejudiciais. E, por se tratar de uma questão de saúde mental, a perpetuação desses ideais pode ser ainda mais grave.
Segundo relatório da Pesquisa Nacional de Saúde publicado em 2019, pouco mais de 69% dos homens buscaram atendimento médico de rotina, enquanto passaram por algum tipo de tratamento.
Everton Mendes, psicólogo e líder do grupo de Masculinidades Negras, lista os benefícios de discutir a saúde mental masculina. Explica, ainda, que falar sobre saúde mental não fere a masculinidade do homem. Pelo contrário, essa ferramenta pode ser uma importante aliada. Confira a entrevista completa!
Nós, mulheres da periferia: Por que a saúde mental masculina costuma ser um tema negligenciado?
Everton Mendes: Falar sobre saúde mental com a população em geral é difícil, há um desconhecimento sobre a importância do diálogo. Com os homens há o agravante do modelo de masculinidade que conhecemos, que distancia os homens de falarem sobre questões íntimas, principalmente as que envolvem emoções e sentimentos.
“Os meninos são educados a omitir emoções e não lidar com elas”.
Nós, mulheres da periferia: Qual a importância de discutir saúde mental?
Everton Mendes: Podemos marcar certa urgência na discussão a partir de dados divulgados em 2019 pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O relatório mostrou que, no Brasil, em 2016, aconteceram mais de 13 mil casos de suicídios e, desse total, 10.203 eram homens. Auxiliar os homens no processo de autoconhecimento, pode impactar na redução desses dados e, posteriormente, na redução do feminicídio, violência doméstica, e possivelmente no abandono paterno. Um homem preparado para cuidar de si, tem mais possibilidade de resolver os seus problemas”.
Nós, mulheres da periferia: Que benefícios uma conversa clara e tratamentos terapêuticos podem trazer para a vida do homem e do casal?
Everton Mendes: Pessoas que cuidam de si estão mais propensas a fazerem melhores escolhas. Os prejuízos são relativos e cabe a cada pessoa analisar sua relação. O diálogo é essencial para que cada sujeito apresente seus objetivos, anseios, angústias e consiga buscar formas de caminhar juntos.
“Resolver questões individuais a partir de terapias possibilita melhor qualidade de vida, resultando em benefícios para qualquer relação que esteja envolvido”.
Nós, mulheres da periferia: Que medidas as mulheres podem tomar para auxiliar os parceiros na busca por terapias?
Everton Mendes: Percebo que grande parte dos homens chegam a terapias por estímulo das parceiras. Porém, a maioria dos homens possui resistência em buscar o processo psicoterapêutico, quando comparados. Essas parceiras podem utilizar leituras sobre psicoterapia, um vídeo ou um grupo de apoio como aliados importantes para essa busca.
Nós, mulheres da periferia: Segmentando na saúde mental de homens negros, existem variáveis que podem ser diferentes em casos de homens brancos?
Everton Mendes: Sim, o racismo principalmente. Crescer em um lugar de desumanização acarreta diversas consequências negativas para a população negra. A insegurança, a baixa autoestima e a rejeição, são sentimentos comuns entre os homens negros.
Nós, mulheres da periferia: Baseado em suas considerações enquanto psicólogo, que conselhos pode dar para incentivar os homens a buscarem tratamentos terapêuticos?
Everton Mendes: O modelo de masculinidade aprendido pela maioria dos homens não ensina o autocuidado, um homem que cuida de si está mais propenso a cuidar do outro. Quando o sujeito tem uma relação mais justa consigo acarreta em um melhor convívio social. A busca por resoluções de forma coletiva ajuda a nos identificarmos no próximo. Vejo em grupos de apoio um caminho para entendermos que questões particulares podem ser comuns a outros homens.
“O processo psicoterapêutico pode ser um caminho para um aprofundamento, terapias de modo geral auxiliam a lidar com problemas do dia a dia e devem ser praticadas por todos que tenham possibilidade”.
Este conteúdo foi produzido em parceria com o Instituto SulAmérica como parte da campanha #BemAmarelo
O Instituto SulAmérica lança em 12 de setembro o movimento #BemAmarelo, uma mobilização social pelo cuidado da saúde emocional como forma de prevenção ao suicídio – não apenas no Setembro Amarelo, mas em todos os meses do ano. Reforçando a mensagem de que saúde emocional importa e é um direito de todas as pessoas, a campanha oferecerá para quem mais precisa o acesso gratuito por seis meses a teleconsultas psicológicas e conteúdos educativos.
Visite o site oficial da campanha aqui.