Letramento Racial, racismo, identidade racial, branquitude.

Desconstruindo o racismo: um olhar sobre o letramento racial no Brasil

Dayse Rodrigues, especialista em diversidade e inclusão dá dicas de como desconstruir expressões racistas e explica o que é o tão falado letramento racial.

Por Mariana Oliveira

17|11|2023

Alterado em 01|12|2023

Durante o programa “De Frente com Blogueirinha”, em 17 de outubro, a cantora Preta Gil gerou debate ao dizer que não possuía letramento racial. Ela afirmou que sua conscientização sobre o tema desenvolveu-se ao longo dos anos, a partir de diferentes vivências, como o ocorrido em 2017 durante o evento “Mulher com a palavra”, em que a artista usou expressões como “típica mulata brasileira” e “denegrindo”.

Afinal, há como saber se você é uma pessoa racialmente letrada?

Em entrevista ao Nós, Dayse Rodrigues, pedagoga e especialista em diversidade e inclusão, afirma que apesar das contribuições de Gilberto Gil no debate racial na sociedade, é difícil dimensionar como esse posicionamento era abordado em casa. Para exemplificar, levanta sua própria realidade: nordestina, natural de Recife (PE), cresceu em uma família interracial, e passou a pesquisar e se aprofundar em questões raciais a partir do nascimento de seu primeiro filho, Pierre. “Só haviam dois meninos negros na escola e ele questionava por que tinha aquele cabelo, a cor da pele, o nariz e eu não sabia explicar para o meu filho o que ele estava sofrendo”, lembra Dayse. Após investir em estudos sobre diversidade racial, Dayse percebeu a necessidade urgente de discutir sobre letramento racial, algo que pode ser uma realidade para muitas famílias.

Mas afinal, o que é letramento racial? Dayse explica que é um processo de reeducação, reunindo práticas para desconstruir pensamentos e ações em relação a pessoas negras e brancas. “O letramento racial não é um curso que recebemos um diploma no final. Ele dá uma base para que possamos nos posicionar e impactar a empresa em que trabalhamos, nossa família e círculo de amigos. Falar sobre letramento racial é reconhecer a base racista do nosso país, marcado pelo genocídio dos povos indígenas e escravização de pessoas negras. Quando não temos acesso ao conhecimento, perpetuamos o racismo estrutural”, define Dayse.

Fundadora da Ubuntu, agência que oferece mentorias sobre diversidade e inclusão para empresas, Dayse destaca a importância de debater a branquitude para trabalhar o letramento racial e eliminar o conceito de superioridade branca. Também ressalta a relevância de desassociar termos e expressões negativas ao negro, enfatizando que o racismo no Brasil é fenotípico, não baseado em árvores genealógicas. “É importante ter pessoas brancas como aliadas, elas não podem sentir na pele o racismo, por isso falamos sobre empatia no sentido de não minimizar uma dor que não é minha”.

Para ser um aliado na pauta antirracista, a pedagoga reflete a importância da pesquisa por referências em livros, artigos, filmes, séries e nas redes sociais, não seguir o “caminho mais fácil” de perguntar para uma pessoa negra. A edição de 2021 do reality show Big Brother Brasil, foi marcada por debates sobre diversidade racial. Em um desabafo emocionado, a influenciadora digital Camila de Lucas afirmou “estar cansada” de ouvir expressões de cunho racista, sob a justificativa de “estou aprendendo”.

Não precisamos errar para aprender, até porque racismo é crime, dependendo do seu erro você irá pagar judicialmente

lembra Dayse

O debate sobre o letramento racial continua a ganhar destaque, enfatizando a necessidade de uma sociedade mais consciente e inclusiva para desconstruir as estruturas racistas que persistem no país.