deslizamento de terra

Desastres naturais e efeitos das mudanças climáticas tiram 49 mil anos de vida no Rio de Janeiro 

Estudo usou cálculo de “anos de vida perdidos” para estimar perdas de desastres naturais extremos no estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2022; mulheres são as mais afetadas

Por Beatriz de Oliveira

29|04|2025

Alterado em 29|04|2025

49 mil anos de vida foram perdidos no Rio de Janeiro entre 2010 e 2022, em razão de desastres naturais. Esse é o resultado apresentado por estudo da Universidade Federal Fluminense, que destaca como os efeitos das mudanças climáticas aliados à desigualdade social trazem maior vulnerabilidade à população, especialmente às mulheres. 

Dentro do período de 13 anos analisado, houve 752 desastres naturais extremos no estado – e 1.523 mortes relacionadas a eles – com maior prevalência de chuvas intensas, deslizamentos, enchentes e alagamentos. Há destaque para os deslizamentos de terra ocorridos no Morro do Bumba (Niterói) em 2010, na região serrana em 2011 e em Petrópolis em 2022, que tiveram grandes impactos sociais, econômicos e ambientais.

A partir desses números, os pesquisadores fizeram o cálculo de “anos de vida perdidos”, uma métrica de saúde pública que estima o tempo de vida interrompido por mortes precoces, e obtiveram o resultado de 49.031,76 anos perdidos. Mais da metade deles (54,2%), se referem a mulheres, que também são maioria nos óbitos.

As mulheres são as mais vulneráveis em situações como essas, acentuando as desigualdades de gênero e raça. “Devido ao menor poder aquisitivo, ao elevado número de dependentes e ao baixo acesso ao saneamento ambiental, as mulheres acabam sendo expostas aos maiores riscos, sendo histórica e estruturalmente mais vulneráveis”, apontam.

Nesse sentido, segundo os autores, a determinação de áreas com maior concentração de pessoas mais vulneráveis pode contribuir para a definição de prioridades de socorro e evacuação em momento de crises.

“As populações mais vulneráveis social e economicamente são as mais expostas aos riscos. Isso indica que a magnitude desses impactos depende não apenas de fatores ambientais, mas também econômicos e sociais, ou seja, de questões estruturais”, destacam.

A faixa etária mais atingida pelos óbitos foi a de 15 a 59 anos, com 51,8% do total. “As mortes prematuras ocasionadas pelos desastres afetam de diversas maneiras a sociedade, sendo seus impactos sentidos a curto e longo prazos”, pontuam os pesquisadores.

Diante disso, a sugestão é adotar políticas para além da gestão de riscos e planejamento urbano, priorizando também aquelas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população.

Além das perdas humanas, os estudiosos estimam prejuízos materiais em R$12 bilhões. A maioria ocorreu em unidades habitacionais (R $7,7 bilhões) e em obras de infraestrutura urbana (R$4 bilhões), o que afetou diretamente o dia a dia da população e a prestação de serviços essenciais.

Para chegar a essas conclusões, a pesquisa combinou dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres da Defesa Civil com os registros do Sistema de Informações Hospitalares do SUS.