Crianças de 9 anos são perseguidas ao entrar descalças em supermercado

Dois meninos negros de nove anos, moradores de Praia Grande, no Litoral de São Paulo, foram perseguidos por segurança de supermercado ao tentar comprar salgadinhos.

Por Mariana Oliveira

02|03|2023

Alterado em 02|03|2023

No dia 27 de fevereiro, os primos José e Antônio*, ambos de nove anos, brincavam em um campinho perto de casa na Praia Grande, litoral de São Paulo. Juntos, decidiram ir ao supermercado Cuca do Caiçara, na Vila Caiçara, comprar salgadinhos. Os meninos estavam descalços, enquanto Antônio aguardava do lado de fora, José entrou e um segurança (que ainda não teve o nome revelado) começou a segui-lo e pediu para que saísse do estabelecimento. Ao notar que o outro garoto aguardava do lado de fora, ordenou que ambos fossem embora, caso contrário chamaria a polícia.

Os primos voltaram para casa chorando, pois haviam sido chamados de ladrões. Confusa, a enfermeira Rafaela Gabriela Pereira, mãe de Antônio, voltou ao supermercado para contestar o que havia acontecido. “Deixei eles irem na frente para ver se de fato era o que eles falaram”.

No estabelecimento, Rafaela conversou com o segurança e funcionários e registrou em vídeo o diálogo para anexar ao boletim de ocorrência. “Eu fiquei revoltada, peguei meu celular e filmei a cena, porque achei um absurdo”. No vídeo, o segurança declara que os garotos estavam “fazendo bagunça”. Em entrevista ao Nós, mulheres da periferia, a advogada Elaine Gázio, que está acompanhando o caso, alega que o procedimento adotadofoi “arbitrário”. “Ele quis enxotar os meninos para fora do mercado. Uma criança preta e descalça, talvez tenha achado que os meninos iriam pegar alguma coisa”, disse ao Nós.

A mãe foi até uma delegacia registrar o caso, onde foi orientada a fazer o boletim de ocorrência virtual e abrir uma solicitação para anexar os vídeos que gravou. Elaine Gázio está em contato com a rede de supermercado para solicitar as imagens das câmeras de segurança e anexar ao processo.

Elaine afirma que, com a disponibilização das imagens da câmera de segurança e andamento da apuração do caso pela polícia, poderá prosseguir com a denúncia de danos morais e racismo. “Acredito que tenha sido um caso de racismo. A decisão de colocar as crianças para fora é no mínimo arbitrária. Essa não poderia ter sido a conduta do segurança, ele não poderia sequer persegui-las em tom acusatório”, conclui a advogada.

Enquanto o caso está em andamento, quem sofre são as crianças, que estão com medo de ficarem sozinhas. “As crianças não querem ir ao mercado nem ao campinho sozinhas, falam que a polícia vai prendê-los”, conta Rafaela.

O Nós entrou em contato com o estabelecimento e aguarda posicionamento.

*Os nomes das crianças foram alterados para preservar a identidade de ambos.