Cria do Grajaú, Mirtes Santana lança sua primeira história em quadrinhos
Mirtes Santana é roteirista e desde pequena tem amor pela literatura
Por Beatriz de Oliveira
14|08|2024
Alterado em 14|08|2024
Desde que aprendeu a ler, aos seis anos de idade, Mirtes Santana tem amor pela literatura e história em quadrinhos. Ainda na infância, começou a desenhar suas próprias histórias, usando como referência o Bairro do Limoeiro, da Turma da Mônica. Hoje, já adulta, lança seu primeiro trabalho em quadrinhos: a HQ Super Punk.
Produzida em parceria com o quadrinista Guilherme Petreca, a HQ conta a história de Violeta, uma pré-adolescente que ganha poderes e se torna a heroína Superpunk.
“Tive muito espaço de troca com o Guilherme Petreca, já que temos bastante em comum – tanto sobre sermos de regiões marginalizadas, quanto pelas nossas referências e gostos pessoais. No fim, nossas discussões sempre se envolviam naquilo que gostaríamos de ter lido e visto quando crianças. Acho que Superpunk agrega muito desse conceito de cultura pop e nostalgia dos anos 2000”, diz.
A roteirista explica que a HQ busca despertar memórias afetivas e cotidianas nos leitores. E tem dado certo: “muitas pessoas que já leram o quadrinho já conversam com a gente, mencionando o quão divertida é essa história e o quanto as faz lembrar de suas próprias”.
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Cria do Grajaú, zona sul de São Paulo (SP), Mirtes conta que seus pais sempre a incentivaram a estudar e a ler. “Junto com minhas irmãs mais novas, cresci sob o lema de que era importante que estudássemos, que aprendêssemos um novo idioma e que nos formássemos no ensino superior para eliminar o ‘marcador social de pobreza’, que carregamos ao nascermos em lares mais humildes”, conta.
A vivência periférica é um fator essencial na construção de suas narrativas. “Com o tempo, passei a entender e valorizar que a periferia tem a sua própria cultura e valores importantes e decidi me apropriar disso para contar as minhas histórias”, diz.
Durante a adolescência, Mirtes Santana se aproximou de outro formato de história: os mangás e animes, especialmente do gênero “shojo”, que prioriza o protagonismo feminino. “Histórias como as de Sakura Card Captors, Nana e Sailor Moon passaram a fazer parte da minha leitura de cabeceira. Lia e relia até as páginas ficarem bem gastas, e acabei me tornando otaku de carteirinha”, relata.
Mas o hábito da leitura não se restringe a esse gênero: a paulista tem um gosto eclético, “gosto de ler Frankenstein, da Mary Shelley, a Dom Casmurro, de Machado de Assis”, explica e resume: “ler sempre foi um ato cotidiano, um hábito que cultivo até hoje”.
Guiada pelo gosto por histórias diversas, Mirtes se formou no Bacharelado em Audiovisual em 2018, como bolsista do Programa Universidade para Todos (Prouni). Entre seus primeiros trabalhos no ramo, está a atuação como assistente de sala de roteiro na série “Escola de Gênios”, para o canal Gloob. Também foi co-autora em alguns episódios de “Turma Da Mônica: a Série”, da Globoplay, e assistente criativa em “O Menino Maluquinho”, da Netflix.
Mirtes pretende continuar trabalhando no mundo dos quadrinhos e acredita que as imagens são uma boa forma de atingir o público. Além disso, destaca a importância da presença de mulheres negras nesse meio, que ainda é bastante branco e masculino.
“Apesar de amar a Sakura e Sailor Moon, eu nunca fui parecida com elas. Foi difícil crescer e não encontrar quase nenhum quadrinho com uma protagonista negra. Acredito muito na força desse modelo, dessa iconografia, para nos estimular a imaginarmos o que podemos ser ao crescer. Também acredito que devemos dar nuances a essas narrativas, além de explorar pontos de vista fora dos estereótipos”, pontua.