Copa do Mundo: como torcer com tantas violações de direitos humanos?

A colunista Mônica Saraiva conta a história das Copa do Mundo, analisa as contradições envolvendo os direitos humanos e homenageia as mulheres narradoras. Confira!

22|11|2022

- Alterado em 17|05|2024

Por Mônica Saraiva

Começou a 22° Copa do Mundo no Catar! A competição internacional de futebol mais aguardada a cada quatro anos.

São 32 seleções classificadas, que estão nos continentes AméricaF do Sul, Norte, Central e Caribe, África, Europa e Ásia. Essa edição é realizada pela primeira vez no Oriente Médio.

Assim como também, pela primeira vez na história dos Mundiais, (1930 até 2022), que aconteceu no mês de novembro a Copa do Mundo, exatamente com abertura no Dia da Consciência Negra (20 de novembro, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da luta e resistência das pessoas negras escravizadas no Brasil).

Um mês importante no Brasil, onde falamos ainda mais sobre a questão histórica afro-brasileira, racismo, direitos entre outras questões.

A seleção brasileira, com sua maioria de jogadores negros, entra em campo para representar o país no dia 24/11 contra a Sérvia, seleção que representa o Sudeste da Europa.

Os jogadores brasileiros representam várias regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sudeste e Sul, assim como de diversos contextos sociais e periféricos. Entre eles, o atacante Gabriel Jesus, que no seu antebraço direito tatuou o lugar onde nasceu, a periferia do Jardim Peri, localizada na zona norte de São Paulo (SP), onde moram em média 143 mil pessoas de acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos (SEADE).

Há várias questões a se falar sobre essa relação Consciência Negra, o negro no futebol brasileiro e a Copa do Mundo.

No início do século 20, o grande nome do futebol brasileiro era um jogador negro: Arthur Friedenreich, filho de mãe lavadeira negra brasileira e pai comerciante branco alemão. Friedenreich nessa época também passou por situações racistas, uma delas marcou sua carreira. Por meio de uma Lei Federal, o presidente da República Epitácio Pessoa proibiu negros de representar a seleção brasileira entre os anos de 1919 e 1921 ( 33 anos após a Lei Áurea).  

A primeira Copa do Mundo foi em 1930 no Uruguai. No mesmo ano, aconteceu a Revolução de 30 no Brasil. Quatro anos depois, nas disputas das Copas de 1934 (Itália) e 1938 (França), a seleção brasileira teve a honra de receber em seu elenco Leônidas da Silva, o craque da bicicleta, cujo seu apelido Diamante Negro deu origem ao chocolate que existe até hoje.

Neste Mundial participam cinco países da Mãe África: Gana, Senegal, Marrocos, Tunísia e Camarões.

Um pouco de história

Em 1958, o Brasil conquistou a 1° Copa do Mundo na Suécia. No mesmo ano, surge o movimento Bossa Nova, com a música Chega de Saudade de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, e a construção de Brasília sobre a política do presidente Juscelino Kubitschek.

Já no ano de 1962 e 1970, seleção brasileira de Futebol conquistou o 2° e 3° título Mundial. Na política, com a renúncia de Jânio Quadros em 1961, vinha uma crise que resultaria no golpe militar de 1964 até 1985, passando assim por várias Copas do Mundo. 

Em 1980 surgia a democracia corintiana com alguns jogadores, entre eles Sócrates que também jogou pela seleção brasileira entre 1979 e 1986.

No ano de 1994, o Brasil conquistou o tetracampeonato, e a moeda brasileira mudou, passando a se chamar real. No mesmo período de alegria, o Brasil chorou com a morte do piloto Ayrton Senna da Silva.

Faço um parênteses neste momento nostálgico. Nesta Copa eu tinha seis anos, então o que mais lembro são das ruas enfeitadas com as bandeirinhas verdes, amarelas e azuis. Elas abrilhantaram o céu e as cores da calçada ganharam nova cor. No meio da rua, tinha a mascote desenhada com a representação da bola. Era uma linda festa!

Não tenho visto essas cores nas ruas. Muitas questões têm acontecido na vida do trabalhador e trabalhadora, e pode ser que mudaram o pensar e vivenciar esse momento festivo.

A última Copa conquistada foi o Penta, em 2002.  O camisa 2, Cafu, levantou a taça em homenagem ao Jardim Irene, periferia do extremo sul da capital paulista, distrito do Capão Redondo. E também Luís Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente da República do Brasil.

Estamos no ano de 2022, 20 anos depois Lula da Silva é eleito novamente. Será que vamos repetir o mesmo feito que em 2002? Passado e presente jogando juntos de novo.

O Brasil é a única a seleção a participar de todos os Mundiais, e a única a levantar cinco  vezes a Taça.

A Copa do Mundo é um momento histórico, faz parte de nossas vidas de alguma maneira. Momento com a família, amigos e amigas. No álbum de figurinhas, nos desenhos, nas revistas, nos jornais, nas aulas de História e Geografia na escola. Por todo canto tem informação.

A Copa é reviver memórias! Uma nostalgia! É lembrar da infância, de quem esteve com a gente e não está mais nessa vida.

Quando trabalhei no Museu do Futebol de 2011 a 2021, vivenciei a Copa do Mundo de 2014. Para mim, umas das experiências mais enriquecedoras da minha vida pessoal e profissional.   Eu conheci o mundo sem sair da minha casa.

Pude receber pessoas de muitos países. Alguns só soube que existiam a partir dessa experiência.  Escutei os mais diversos idiomas e conheci culturas, gastronomias e histórias.  

Mesmo sem entender, por exemplo, o idioma da China e Cambodja, tínhamos uma enorme conexão com o futebol, essa língua universal.

Contradições

A Copa do Mundo é incrível, mas também é preciso ser realista e entender sobre os feitos para que essa Copa aconteça. Nesta Copa no Catar há diversas notícias sobre os mais de 6.500 trabalhadores imigrantes que morreram na preparação das obras para o mundial devido às precárias condições de trabalho e também questões envolvendo as pessoas LGBTQIA+. Será um mundial em meio a muitas questões de direitos humanos.

E falando em direitos, as mulheres há muitos anos também lutam para ocupar os espaços profissionais.

Teria várias formas de finalizar este texto, mas eu escolhi homenagear duas mulheres que estarão pela primeira vez em uma Copa do Mundo. Elas não estarão jogando dentro de campo, mas estarão jogando com suas palavras e carisma noticiando os lances dos jogos.

Sejam bem-vindas a narradora Renata Silveira e a comentarista Ana Thaís Matos!

Vocês estão escrevendo uma história importante para nós, mulheres!

Mônica Saraiva Mônica Saraiva é jornalista, fotógrafa e diretora. Moradora da Brasilândia, em São Paulo (S), é filha de mãe e pai cearenses. Trabalhou 10 anos no Museu do Futebol. É cofundadora do Gondwana F&C (Futebol & Cultura) e da Gondwana Comunicações. Também atua como mentora, consultora e palestrante de temas relacionados a cultura, educação e esporte.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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