Como ampliar as vozes climáticas: conheça o Projeto Perifa Sustentável

Saiba como ampliar o Vozes Climáticas para influenciar as eleições municipais da cidade de São Paulo

10|05|2024

- Alterado em 10|05|2024

Por Amanda Costa

Querida lindeza climática leitora,

É muito louco pensar em tudo que já vivi.

Se você acompanha a minha coluna, sabe que sou cria da Brasilândia – Jardim Almanara, uma das maiores comunidades de São Paulo. Apesar de estar num bairro periférico, tive inúmeros acessos que me possibilitaram sonhar, como família estruturada, um lar amoroso e a possibilidade de me dedicar aos estudos.

Meus pais investiram muuuuito em mim e na minha irmã. Anselmo e Gisleide me apoiaram a entrar na universidade e me incentivaram a sempre me dedicar à minha educação. Lembro de ouvir a minha mãezinha dizer: “podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento.”

Frase poderosa, né?

Mulher jovem negra, de óculos, camisa branca estampada, calça jeans e tênis de braços abertos. Ela está posando em um dos degraus de uma escada da periferia, com paredes de cor lilás ao lado. No fundo, está a palavra POESIA

Assim que entrei na universidade, entendi na prática a complexidade do mundo e logo tive que aprender a lidar com a desigualdade social, de classe e de gênero. Eu era a única mulher preta da minha sala de aula e, graças ao meu envolvimento com as lutas sociais, pude encontrar um espaço seguro para questionar esse sistema e pensar em soluções criativas para problemas complexos, como o racismo estrutural, a crise climática e o meu lugar de existência neste mundão.

Em 2019, no último ano de graduação, decidiu fundar o Perifa Sustentável 一 um projeto social para democratizar a pauta climática nas periferias, comunidades e favelas. Em 2021, convidei a Mahryan Sampaio e a Gabriela Alves para desenvolverem um instituto junto comigo. Naquele momento, era tudo muito utópico, eu não tinha certeza dos próximos passos, mas sabia que meu coração ardia por fazer algo relacionado a clima, juventudes e periferias.

O Instituto nasceu: recebemos nosso primeiro apoio do edital ELAS PERIFÉRICAS, da Fundação Tide Setubal, e, por conta deste fomento, conseguimos criar nosso CNPJ, em 2022. No ano seguinte, em 2023, aprovamos o nosso segundo edital e desenvolvemos o projeto #ClimaDeQuebrada, com apoio do Fundo Casa Socioambiental. Agora, em 2024, estamos desenvolvendo o #VozesClimáticas, um programa para impulsionar o exercício da cidadania ambiental através da produção de conteúdo feito por jovens-potências sobre clima e raça para pautar as eleições municipais de 2024.

Pois é, minha leitoraaaa, esse projeto é tuuuuudo pra mim!

E eu tô ligada que, num mundo de intensificação da crise ambiental, o futuro dos jovens está sob ameaça. O cenário fica ainda mais desafiador quando falamos da realidade da juventude negra que reside em comunidades suburbanas, periferias e favelas, já que esses são os territórios mais afetados pelos eventos climáticos extremos. Desse modo, é fundamental pressionar os nossos representantes políticos para que advoguem por esse grupo, colocando-os como prioritários no desenvolvimento das políticas socioambientais.

Hoje a sub-representação da população negra na política institucional é profunda, tanto nas instâncias municipais quanto estaduais e federais. E foi olhando para este contexto que decidimos desenvolver o nosso novo xodozinho, o projeto #VozesClimáticas 🙂 

Com o intuito de apoiar jovens comunicadores a desenvolverem conteúdo educomunicativo para influenciar eleitores e estimular o voto em candidatos que carreguem a pauta climática em seus planos de governo, o #VozesClimáticas está formando 10 jovens-potências (moradores dos extremos da cidade de São Paulo) nas temáticas de:

– Mudanças climáticas e o poder da comunicação

Racismo ambiental e desigualdade climática

Política: o que não te contaram sobre mudanças climáticas

Territorialidades

Os desafios das mudanças climáticas na Selva de Pedra

As aulas da primeira fase do projeto já estão a todo vapor, coordenado pelo Rafis, Mahryan e Marina! Marcela Oliveira, João Henrique Cerqueira, Samela Sateremaue e Pedro Borges foram alguns dos nomes que estiveram conosco. Para a segunda fase do projeto, vamos convidar formadores de opinião, lideranças comunitárias, autoridades locais e candidatos às eleições para rodas de conversa que  proponham fortalecer o debate de políticas públicas priorizando a justiça climática nos territórios periféricos.

O time do Perifa Sustentável acompanhou a atualização do Plano Clima e Adaptação (antigo PNA – Plano Nacional de Adaptação Climática) e o desenvolvimento do PEARC – Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática. Agora o rolê é pegar no pé dos candidatos a vereadores e prefeitos para que pautem justiça climática em suas propostas de governo!

Com isso, vamos ampliar a conscientização, fomentar a troca de saberes ancestrais e desenvolver mais ferramentas para descentralizar a comunicação de temas como racismo ambiental, crise climática e os desafios ecológicos que atravessam a realidade de diversos jovens paulistanos. Precisamos afiar o nosso senso crítico e mobilizar mais eleitores na pauta climática e ambiental, a fim de trazer mais votos para o clima, engajar nossos jovens na construção política apartidária e portanto, contribuir para a mudança no corpo parlamentar legislativo da cidade de São Paulo.

Por fim, deixo contigo, minha querida leitora, uma parte da letra Rap da Felicidade, de Cidinho e Doca. Sempre que escuto essa música, lembro do meu principal objetivo em fazer todos esses corres:

“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde nasci. E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar…” 

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.