Metrô, primeira mulher, operadora de trem, linha vermelha, São Paulo

Conheça a primeira mulher a operar trens no metrô de SP: “Era muito machismo”

Elizabete Oliveira se aposenta da profissão após 38 anos conduzindo os trens da linha vermelha do metrô na cidade de São Paulo.

Por Mariana Oliveira

25|10|2023

Alterado em 25|10|2023

Diariamente, cerca de 1 milhão de pessoas utilizam a Linha 3-Vermelha do metrô na cidade de São Paulo (SP), onde estão as estações mais antigas da zona leste. E por trás de cada ida da estação Corinthians-Itaquera à Palmeiras-Barra Funda, o operador de trem é responsável pelo controle do veículo nas cabines. Na capital paulista, 747 são homens e apenas 192 mulheres.

Aos 67 anos, sendo 38 deles como operadora de trem, Maria Elizabete de Oliveira foi a primeira a ocupar o cargo. Outras duas colegas de profissão chegaram pouco tempo depois. Sempre à frente da Linha Vermelha, viveu o machismo vindo de funcionários e passageiros, assim como testemunhou inúmeras mudanças ao longo do tempo.

“No começo havia muito machismo, eram apenas três mulheres no meio de 400 homens. Hoje dou risada, mas me lembro de um homem que gesticulou um não com a mão, [dando a entender que] não iria entrar no meu trem porque eu era mulher. Mal ele sabia que os outros dois [trens] que vinham atrás também eram conduzidos por mulheres”, comenta nostálgica.

A experiência na função permitiu sua participação na formação de todas as operadoras da linha. Mas, na sua época, a história foi diferente.

No começo, muitos colegas diziam que não iriam me ensinar o serviço. Eu entrava no trem e o cara ficava em silêncio, só porque eu sou mulher

O cenário é outro, mas ainda está longe de ser o que Bete considera ideal. “Ainda não é a quantidade que eu gostaria, a porcentagem ainda é baixa em relação aos homens. Mas muitas coisas mudaram ao longo dos anos. Eu ensinei todas as mulheres que chegaram e, hoje, todas vieram me agradecer”, diz.

Outra transformação foi o avanço da tecnologia. Diferente do modus operandi de três décadas atrás, ela explica que, atualmente, os operadores de trem são como “monitores”. Os comandos do carro são automáticos e o profissional está ali para assumir o controle em caso de falhas. “Eu fazia tudo: acelerar, frear, conduzir. O braço ficava todo dolorido”, lembra. Ainda assim, reforça ser necessário o dobro de atenção.

Metrô, primeira mulher, operadora de trem, linha vermelha, São Paulo

Bete nos primeiros anos como operadora de trem.

©Arquivo pessoal

Metrô, primeira mulher, operadora de trem, linha vermelha, São Paulo

Homenagem recebida em 2004, em comemoração aos 30 anos do metrô de São Paulo.

©Arquivo pessoal

“De manhã é um transtorno, ninguém respeita a faixa amarela. Então, reduzo a velocidade manualmente. Tomo o máximo de cuidado para o trem não encostar na bolsa de alguém na plataforma”, alerta, o que pode acontecer caso a margem de segurança seja ultrapassada por usuárias e usuários do transporte.

Agora, com a aposentadoria batendo na porta, fica a sensação de dever cumprido. Entretanto, confessa que sentirá saudades da rotina e das conquistas que a profissão trouxe.

“Amo minha função, conheci São Paulo através dos trens, mas está na hora de passear mais. Já perdi muitos natais e festas de ano novo porque estava trabalhando. Vou sentir falta, sem dúvidas. Amo meus amigos e amigas e fico orgulhosa em saber que a gente deu certo”, conta, emocionada.