Educação, Serviços Sociais, Periferia, liderança feminina

Com 32 projetos sociais, professora usa educação para auxiliar jovens

A professora Edilaine Daniel desenvolve projetos de educação e empregabilidade que geram impacto na vida de jovens periféricos.

Por Mariana Oliveira

19|09|2022

Alterado em 19|09|2022

Moradora na comunidade do Jaraguá, região noroeste da cidade de São Paulo, a professora e empreendedora social Edilaine Daniel Carvalho, desenvolve projetos para jovens e adultos periféricos, com foco em e promover geração de renda.

A vida de Edilaine no âmbito social começou cedo, aos sete anos, quando ainda morava na comunidade da Vila Roseli Caieiras, zona noroeste na divisa com Perus, na cidade de São Paulo. Com a mãe diarista e o pai motorista, ela e seus seis irmãos trabalhavam de modo informal no Cemitério de Perus vendendo água, balas e arrumando covas para auxiliar no sustento da família. “Na época, ninguém falava sobre trabalho infantil, mas nós tínhamos o sonho de sair do barraco. A gente passava em frente a uma casa de tijolo e apalpava, achava casas de tijolos a coisa mais linda”.

Mesmo trabalhando desde cedo, nunca parou os estudos por incentivo da mãe. ”Em uma época eu tirei ‘C’ em matemática e levei uns tapas. Ela falou: lá fora você vai ser uma mulher negra, se quiser ser regular o mundo vai te engolir”.

Prestes a completar 15 anos, conheceu seu Marcos, diretor de Recursos Humanos da Legião da Boa Vontade (LBV), enquanto trabalhava no cemitério. Na breve conversa, o então desconhecido percebeu o interesse daquela jovem pela educação. Fez um convite para comparecer ao local indicado e deixou um cartão. Sem saber o que esperar, durante o caminho, sua mãe a questionava se havia feito algo negativo ao homem. No local, o mistério foi solucionado: seu Marcos ofertava uma vaga de emprego formal como operadora de telemarketing. “O intuito não era muito de eu trabalhar, porque por vezes me direcionavam para a área de recreação para brincar com as crianças”.

A jovem percebeu naquele ambiente a possibilidade de cursar ensino superior. “Ali eu escutei pela primeira vez a palavra faculdade”. Ingressou no curso de Estudos Sociais, que escolheu mesmo sem dimensão do que significava e como impactaria em seu futuro.”Eu cuidava dos mortos e passei a cuidar dos vivos”.

Completados três anos na instituição, já aos 18 anos, encontrou com uma antiga professora no transporte público, desse reencontro uma nova proposta: lecionar. “Ela disse que precisava de professor de estudos sociais em caráter emergencial na escola onde estudei e, se durante o ano não contratassem nenhum um efetivo, eu continuaria”. Concluiu a faculdade sendo professora.

Para ela, a educação é um pilar importante para o desenvolvimento de um adulto melhor. “É um ambiente que vai te construindo. Você pode estruturar um caminho positivo para uma criança”.

Em 1999 sua vida mudaria novamente. Viu ser noticiada a rebelião na antiga FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), hoje chamada de Fundação CASA, na região de Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo. Como amante de desafios e de ajudar pessoas, realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Educação Formal para jovens em Medida Socioeducativa do Séc XX”, na unidade de Franco da Rocha. Mesmo contra a vontade da mãe, concluiu o trabalho. “De lá não parei mais e fui fazer meu mestrado na região da Cracolândia”.

Na ânsia de colaborar mais para para jovens e adultos das periferias, moldou para si um novo perfil, o de empreendedora social. Atualmente, com 28 anos de trabalho intenso e 32 projetos sociais em desenvolvimento, como o “Rede Solidária”, que orienta lideranças comunitárias e ONGs, ou o “Empreendedoras da Quebrada”, que oferta cursos para mulheres que trabalham por conta própria, e outros.. “Todo o meu trabalho como empreendedora social é voltado para elaboração de projetos sociais, políticas públicas e busca por financiamento”.

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A professora Edilaine Daniel desenvolve projetos para jovens e adultos periféricos, com foco em e promover geração de renda. © Arquivo Pessoal

O projeto "Resgatando Maria" tem o intuito de prestar atendimento e resgate a mulheres vítimas de violência doméstica. © Arquivo Pessoal

O "Rede Solidária” orienta lideranças comunitárias e ONGs. © Arquivo Pessoal

O desenvolvimento e implantação de novas iniciativas vem direto da necessidade das pessoas e suas próprias dores. Como exemplo, cita o “Resgatando Maria”, nascido da perda de sua irmã para a violência doméstica. “Infelizmente minha irmã foi assassinada pelo namorado, então o projeto é voltado para ela”.

Sua maior realização é ver a transformação na vida das pessoas e sentir o mesmo desejo aflorando em suas filhas, duas jovens de 11 e 16 anos. “Gosto de saber que meu projeto está fazendo a diferença na vida de alguém”.