Foto mostra RG de Cláudia Silva Ferreira

Caso Cláudia: o “erro de execução” da PM tirou a vida de mais uma Silva

11 anos após Cláudia Silva Ferreira ter sido morta e arrastada por 300 metros pela viatura da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o crime continua impune

Por Amanda Stabile

12|03|2025

Alterado em 12|03|2025

Sistema é faia, gasta, arrasta Cláudia, que não raia

trecho de Drik Barbosa na música Mandume, de Emicida

Em 16 de março de 2014, Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, foi morta pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. A moradora do Morro da Congonha, em Madureira, na zona norte carioca, era mãe de quatro filhos e cuidadora de quatro sobrinhos, além de auxiliar de serviços gerais em um hospital.

Ao sair de casa para comprar pão para os filhos, Cláudia foi baleada com um tiro no pescoço e outro nas costas. Durante o suposto socorro, foi colocada no porta-malas da viatura, que se abriu. Seu corpo rolou, ficou pendurado no parachoque por um pedaço de roupa e arrastado pelo asfalto por mais de 300 metros.

À imprensa, Thaís Silva, filha de Cláudia com 18 anos na época, gritou aos prantos: “Eles arrastaram minha mãe como se fosse um saco e a jogaram para dentro do camburão como um animal”

Eles arrastaram minha mãe como se fosse um saco e a jogaram para dentro do camburão como um animal.

Jussara Silva Ferreira, irmã de Cláudia, também se revoltou:

Acham que quem mora na comunidade é bandido. Tratam a gente como se fôssemos uma carne.

A cena chocou a população, e gerou protestos contra a violência policial no Brasil, porém, muitos também a culparam por estar em uma região perigosa. A comoção pública levou à denúncia dos policiais envolvidos, mas, mesmo assim, o crime continua impune até hoje.

Em 2024, 10 anos após o assassinato de Cláudia, o 3º Tribunal do Júri inocentou os seis policiais militares acusados de matar e arrastar Cláudia Ferreira, sob a alegação de que agiram em legítima defesa durante um confronto com traficantes.

Segundo a decisão do juiz Alexandre Abrahão Teixeira, os PMs atiraram para repelir uma agressão e cometeram um “erro de execução” ao atingir Cláudia. Os policiais também foram absolvidos da acusação de remover o corpo da vítima do local. A decisão judicial também determinou que o traficante Ronald Felipe dos Santos, envolvido no confronto, seja julgado pelo tribunal do júri.

A vida e a morte de Cláudia Silva Ferreira seguem como um reflexo alarmante da persistente desigualdade e da impunidade que marcam a violência policial no Brasil. A alegação de “erro de execução” durante um confronto, também evidencia a continuidade de um ciclo em que a vida de cidadãos negros, especialmente nas periferias, é descartada sob a justificativa de operações de segurança pública.

A falta de uma resposta decisiva e justa em relação ao assassinato de Cláudia é um lembrete de que, apesar dos avanços nas mobilizações sociais, o Estado ainda falha em garantir que pessoas negras e periféricas tenham acesso à verdadeira justiça. Mas também a outros direitos, inclusive o mais fundamental: a vida.