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Artista brasileira vive a cultura moçambicana durante intercâmbio

Cantora saiu do Morro Doce, bairro da zona norte de SP, para conhecer Moçambique, país do continente africano.

Por Mariana Oliveira

17|05|2023

Alterado em 17|05|2023

Moçambique: país localizado a mais de nove mil quilômetros do Brasil. Segundo o Banco Mundial, são quase 23,5 milhões de habitantes e mais de vinte línguas, além do português. É lá que a artista Aryani Marciano vive uma imersão cultural.

Cria do Morro Doce, bairro na zona noroeste de São Paulo, a cantora encontrou o momento e a oportunidade perfeita para estudar no país que sonhava conhecer desde a infância. A possibilidade de intercâmbio se tornou possível por conta do projeto Tuko Pamoja Brasil.

O Tuko Pamoja Brasil é um projeto que surgiu em 2020 e promove intercâmbio cultural internacional entre o Brasil, a Noruega e o Moçambique.

A estadia tem possibilitado que a artista vivencie diferentes tradições, ritmos, além de experienciar a receptividade do povo moçambicano. Do início da sua viagem até agora, alguns aspectos culturais chamaram a atenção de Aryani.

Ela observou que, desde o período da independência do país, existe um lugar cultural e político do mulato. “Foi um choque cultural. Foram 26 anos me entendendo como uma mulher negra para, nos últimos seis meses, perceber que, aqui, me consideram mulata. Foi mais difícil no começo, mas agora consegui me adaptar”.

Aryani do Morro Doce

O envolvimento com arte e cultura é antigo. A jovem foi bolsista em escola particular até ingressar no ensino médio, quando conquistou uma vaga para estudar em uma Escola Técnica Estadual (Etec). No período de vestibulares, conquistou mais uma bolsa, dessa vez, para um cursinho pré-vestibular.

Um tempo depois, veio a notícia: foi aprovada no curso de Artes Visuais na Universidade de São Paulo. “Segundo um professor, em 25 anos do curso de artes visuais da USP, fui a quarta mulher negra”. O ambiente universitário a aproximou do movimento negro.

A outra face de Aryani também é feita de arte: a música. Em 2020, durante o período da pandemia, se dedicou à construção de seu primeiro EP. “Minha carreira começou a partir da conexão com outras  mulheres”, lembrou. A Coletiva Maria Sem Vergonha, onde trabalhou com o sarau de mulheres das periferias, fez parte deste processo.

Extended play, ou EP, é um tipo de gravação musical longa para ser considerada um single (música lançada individualmente) e curta para se adequar a um álbum.

“Eu não era uma pessoa que cantava, mas percebi no sarau que eu tinha uma potencialidade com a escrita poética. A música veio como palavra de ordem. Comecei a compor para manifestação de rua, depois fui me permitindo criar outras coisas”.

Aryani Marciano

Em 2021, ainda com restrições da pandemia, a dedicação e insistência para colocar o trabalho na rua continuou. “Foi um grande Frankenstein, gravei cada pedaço em um lugar. Trabalhei por dois anos produzindo bem devagar para contratar os músicos e pagar os arranjos. Comecei a gravar em Fábricas de Cultura, porque é de graça. As vozes foram feitas em um estúdio no Morro Doce e os instrumentos foram captados na Vila Madalena”.

Na reta final, a viagem para Moçambique tomou a frente, porém o sonho não ficou em segundo plano. O projeto se tornou internacional, com finalização em terras moçambicanas. “Risco”, título do EP, traz quatro faixas autorais sobre sua vivência no Morro Doce. A faixa de abertura é uma composição do seu pai, José Carlos Marciano.

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Aryani, com o pai José Carlos e os irmãos Maria Gabriela e Vinícius.

©arquivo pessoal

“Ele sempre cantou pelos cômodos da casa e vivia criando músicas do nada. Chegou a fazer uma música para cada filho”, contou. Aryani tem dois irmãos, a Maria Gabriela e o Vinícius. “A que ele fez para mim é a introdução do meu EP”.

Lançar seu primeiro trabalho em solo estrangeiro não estava nos seus planos, ainda mais tendo o bairro onde nasceu como cenário. A chegada nas plataformas digitais aconteceu em 16 de março. Com a repercussão, foi convidada para apresentar o disco em redes de televisão moçambicanas. Ainda em março, realizou seu primeiro show no Centro Cultural Brasil de Maputo, capital de Moçambique.

Faltando três meses para retornar ao Brasil, a artista convive com outro desejo: produzir e lançar uma música com artistas locais, com base nos diversos ritmos que conheceu e aprendeu em sua estadia no continente africano. Esperamos por este momento, Aryani.