Apagão em SP gera perda de alimentos e eletrodomésticos
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) culpa a Enel pelo apagão e pede a retirada da concessionária
Por Beatriz de Oliveira
14|10|2024
Alterado em 14|10|2024
Com o temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira (11), cerca de 900 mil paulistas ficaram sem luz na capital e na região metropolitana. Nesta segunda-feira (14), 530 mil cidadãos ainda continuavam sem energia, segundo comunicado da Enel. Para algumas moradoras da cidade, as dezenas de horas em meio ao apagão causaram a perda de mantimentos que estavam na geladeira e de eletrodomésticos, além da mudança de rotina.
“Perdi alimentos que durariam por 15 dias, tive eletrodomésticos que não funcionaram mais, gasto desnecessário com velas, luz de emergência”, disse Camila Novaes, moradora do Jardim Ângela, em comentário de publicação do Nós, mulheres da periferia.
Além da falta de luz, algumas pessoas enfrentam também a falta de água, é o caso de Daniela Pereira: “[estou] desde sexta-feira sem luz e com falta de água desde sábado de manhã. Não perdemos a mistura, porque fizemos uma ‘gambiarra’ com gelo e caixas térmicas para manter tudo na temperatura adequada. Ligamos para a Enel e nem sinal ou previsão de retorno”.
O impacto na rotina e nos cuidados específicos de saúde também é sentido. Débora Roque comentou: “meu irmão tem uma filha de 7 anos que precisa fazer diálise todas as noites. Na sexta, já havia iniciado a diálise quando a energia acabou, minha sobrinha não conseguiu fazer. No sábado, meu irmão teve que se deslocar para a casa da minha mãe, que mora no bairro vizinho e tinha energia, juntamente com a máquina e medicações para que ela não ficasse sem realizar o procedimento novamente”.
Segundo a Enel, os bairros mais afetados pelo apagão são Jardim São Luiz, Pedreira, Campo Limpo, Jabaquara, Santo Amaro, Ipiranga, Pinheiros e Vila Andrade. Os moradores das periferias são os mais impactados pelos apagões; um levantamento da Agência Pública com dados da Enel mostrou que o corte de luz na periferia é até oito vezes mais frequente que no centro de São Paulo (SP).
Nesta segunda (14), o secretário nacional do Consumidor, Wadih Damous, afirmou que o governo federal notificará a Prefeitura de São Paulo para que explique quais ações foram adotadas e quais são planejadas para evitar a queda de árvores sobre a rede elétrica da capital. Cerca de 150 árvores caíram durante o temporal que atingiu a cidade 一 a poda e retirada de árvores em áreas urbanas é de responsabilidade compartilhada entre a prefeitura e a concessionária de energia elétrica.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) culpa a Enel pelo apagão e pede a retirada da concessionária. Essa é a segunda vez que a cidade passa por apagão sob a gestão do prefeito. Em novembro de 2023, a capital e região metropolitana ficaram sem luz por 4 dias.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização das concessões de energia elétrica, afirmou que vai intimar a Enel SP para que a empresa apresente justificativas para a demora do restabelecimento da energia elétrica e proposta de adequação imediata. Em razão do último apagão, em novembro de 2023, a Aneel multou a concessionária em R$165 milhões; no entanto, a Enel entrou na Justiça e a punição está suspensa.
O fornecimento de energia elétrica em São Paulo passou por desestatização a partir de 1998. Já em 2018, a Enel Brasil comprou 73,38% das ações da companhia Eletropaulo, e assumiu a maior parte da gestão da energia na cidade.