A pandemia acabou? Especialista tira dúvidas
A pandemia acabou? Bióloga explica porque ainda estamos vivendo uma pandemia de Covid- 19 e discute os indícios de uma nova onda
Por Mariana Oliveira
20|06|2022
Alterado em 20|06|2022
Em 17 de março de 2022, o Governo do Estado de São Paulo anunciou a flexibilização do uso de máscaras nos ambientes fechados, mantendo a obrigatoriedade apenas em transporte público e nas unidades de saúde. Diversos estados no país seguiram com a mesma medida e diante do aumento da vacinação, a ideia assimilada era de que a pandemia estava acabando.
Nas últimas duas semanas, a Universidade Johns Hopkins divulgou dados e mostrou que só em São Paulo foi registrada uma média diária de 9.655 novos casos da doença. Com estes números, estados estão cogitando retorno de algumas medidas restritivas.
Belo Horizonte (MG) é a primeira cidade no Brasil que adotou o retorno obrigatório de uso de máscaras em lugares fechados. O decreto publicado no Diário Oficial do Município (DOM) deve valer até 31 de julho. A retomada teve como principal motivador o aumento no número de casos de doenças respiratórias e baixos índices na imunização, com duas doses, em crianças.
Estamos próximos do inverno, período em que há mais incidência de doenças respiratórias, e em que as pessoas se reúnem em lugares fechados e, para explicar porque a pandemia ainda não acabou, a bióloga e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Sandra Regina Mota Ortiz sugere medidas para nos proteger do vírus.
Podemos confundir sintomas da gripe e Covid-19, isto porque ambas acometem o sistema respiratório nas vias aéreas superiores. Sintomas como tosse, espirros, e infecção viral respiratória podem servir de alerta. Na dúvida, o ideal é testar, seja pelo teste de antígeno, autoteste, ou PCR, diagnóstico laboratorial colhido por um profissional de saúde, feito por biologia molecular, que permite identificar a presença do material genético (RNA) do vírus Sars-Cov-2 em amostras de secreção respiratória.
Mesmo diante dos cuidados, os perigos de uma quarta onda são iminentes. “Como estamos falando de um agente causador de uma doença que é um vírus, ele tem capacidade de mutar-se, criando estratégias para burlar os mecanismos de defesa do organismo”, afirma Sandra. Vem desta capacidade de mutação, a incidência de variantes. Além disso, o número de pessoas sem imunização, fortalece a capacidade de mutação para encontrar estratégias de burlar o sistema imunológico.
Confira a entrevista e tire suas dúvidas!
Nós, mulheres da periferia: Tomei as duas doses da vacina e ainda a dose de reforço. Posso ficar tranquila?
Sandra Ortiz:
Estar com a vacinação em dia não significa estar livre da doença.
Eu, inclusive, sou exemplo desses. Tomei as três doses e me infectei. Porque a variante que está aí é diferente das anteriores. É uma variante que aprendeu a driblar o sistema imunológico, mesmo após a imunização. A maior diferença em contrair a doença estando imunizado é notado nos sintomas. “Como a gente está imunizado com mais anticorpos, acabamos respondendo melhor. Tendo aí um quadro mais leve da doença”.
Nós: Como devemos cuidar das crianças neste período?
Sandra Ortiz: Já com as crianças, os cuidados devem ser os mesmos: manter uso de máscaras, inclusive nas escolas. As ideais são máscaras cirúrgicas e a N95. É importante evitar a máscara de tecido. Alguns trabalhos científicos mostram que grupos que mantiveram por mais tempo o uso de máscaras tiveram um número significativamente menor de casos positivos para Covid-19. Preservar os cuidados de higiene como uso de álcool em gel e monitorar possíveis sintomas para que seja feito o teste.
É importante se vacinar contra Covid e garantir a imunização para outras doenças também. Cada vacina vai estar com o objetivo de aumentar a imunidade para aquele tipo específico de variante.
Nós: Acabei de me recuperar de Covid e quero tomar a vacina. Posso?
Sandra Ortiz: Não há contraindicações que impedem a vacinação, tendo como ponto de atenção o prazo de 30 dias entre o teste positivo e a imunização.
Estou na dúvida quanto aos dias em que devemos ficar em isolamento ao contrair o vírus. Como saber se ainda estou transmitindo?
Sandra Ortiz: A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aos infectados se manterem isolados por, no mínimo, cinco dias caso estejam assintomáticos. Sete dias se apresentarem sintomas leves. E em torno de sete a 10 dias, aos que manifestarem sintomas mais fortes.
Nós: Estamos bastante adiantados com a vacinação, com 77,61 % da população vacinada. Quando poderemos dizer, enfim, que a pandemia acabou?
Sandra Ortiz:
Em uma perspectiva de futuro, ainda não podemos afirmar quando a pandemia deve acabar ou quantas doses ainda temos de tomar. Mesmo vacinados, não devemos abandonar as medidas de segurança.
A vacina não é uma medida que isola 100% o indivíduo do contato [com o vírus].
Enquanto não tivermos em nível mundial uma cobertura vacinal que enfraqueça a capacidade do vírus de se propagandear, estaremos vulneráveis a novas variantes. Já se sabe, por experiências anteriores com outras doenças virais, que quanto maior a imunização menor é a capacidade deste vírus nos causar danos mais sérios.
Só podemos considerar pandemia encerrada quando garantirmos uma cobertura vacinal elevada e uma redução significativa do número de casos novos. Mas, o convívio com a doença será comum, assim como a gripe. Muitos trabalhos mostram que possivelmente a gente vai lidar pelos próximos anos com a Covid-19 como lidamos com a influenza, que causa a gripe, fazendo-se necessário a vacinação anual.