9º Estéticas das Periferias destaca mulheres no samba
Memória, Territórios Afetivos e Produção de Mulheres dão o tom do Estéticas das Periferias 2019
Por Lívia Lima
21|08|2019
Alterado em 21|08|2019
Territórios que despertam memórias e afetos, experiências culturais e artísticas que modificam e ressignificam esses territórios. A 9ª edição do Encontro Estéticas das Periferias reúne, durante os dias 25 de agosto e 1º de setembro, mais de 60 atrações pensadas por artistas, coletivos e grupos culturais, que apresentam para o público suas produções e experiências, marcadas por sentidos de pertencimento pelas periferias paulistanas, lutas e emancipação social.
Se por um lado, a autonomia marca o caráter diverso e múltiplo das linguagens, a eleição de cinco eixos curatoriais – cultura negra, direito à cidade, produção cultural das mulheres, direitos humanos e futebol como prática cultural – cumprem o papel de assegurar a unidade e a coletividade do Estéticas das Periferias 2019.
Exemplo da importância desses elementos é o inédito espetáculo de abertura “Fui feita pra vadiar”, que reúne mais de 50 musicistas, de seis grupos de samba formados exclusivamente por mulheres, ressaltando a história e a luta das mulheres no samba.
Entre as diversas apresentações, os 4 elementos do Hip Hop chegam com força nessa edição. No Itaim Paulista, a festa “Eletro Tintas” resgata a tradição do hip hop das décadas de 1980 e 1990; em São Mateus, a “Oficina Graffiti Trans” debate desigualdades de gênero e cultura periférica nos dias 28 e 31 de agosto, na casa de Cultura São Mateus. Em Ermelino Matarrazo, no dia 27, a “Batalha Ocupa” abre espaço para o duelo de MC’s. Por sua vez, a união do futebol de várzea com música e literatura dão o tom do evento “Futebol, Samba e Poesia” no SESC Parque Dom Pedro II, no dia 1º de setembro.
Pelo segundo ano, o Estéticas promove o “Periferia Ocupa Centro”, com apresentações culturais na Ação Educativa, na Casa das Rosas e no Instituto Moreira Salles. Além do tradicional ciclo de debates no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc que, nesta edição, tem como tema o Ensino de Arte nas Periferias.
Confira a programação completa: Estéticas das Periferias 2019
Tributo às Mulheres do Samba
Pagode Na Disciplina
©Semayat Oliveira
Fui Feita Pra Vadiar – Tributo às Mulheres do Samba é um espetáculo musical que agrega a participação de seis coletivos de samba e atrizes da cultura popular, atuantes na cidade de São Paulo, em frentes estéticas e políticas pela emancipação das vozes das mulheres e da negritude na sociedade brasileira.
O espetáculo celebrará a abertura do Festival Estéticas das Periferias acontecerá no domingo, 25 de agosto, às 19h, no Auditório do Ibirapuera.
Originados em diferentes momentos, os coletivos produzem nesse encontro, a partir de suas semelhanças bem como da diversidade gerada pelas diferenças, um diálogo musical sobre a narrativa histórica do samba pela perspectiva das autorias femininas.
Samba Negras em Marcha, As Amigas do Samba, Samba da Elis, Sambadas, Samba de Dandara e Pura Raça apresentam suas referências em ordem cronológica de composições, prestando dessa maneira uma justa ‘femenagem’ às compositoras responsáveis por abrir caminhos para que mais mulheres pudessem tomar parte na roda da história.
Nós, mulheres da periferia na Cidade Ademar
Quem quiser ver mais samba tem, dentre as várias opções, a apresentação do “Pagode Na Disciplina e Feitiço de Mulher”, no Jardim Miriam, zona sul, dia 25 às 14h. O Pagode Na Disciplina há três anos reúne centenas de pessoas todo último domingo de cada mês. A organização é coletiva, mas a liderança é feminina, conduzida pela moradora e produtora Luana Vieira. Neste dia, o Na Disciplina convida o grupo de samba Feitiço de Mulher.
No dia 31, às 11h, haverá na sede Pagode Na Disciplina um bate-papo sobre articulação política e cultural na Zona Sul, mais especificamente no distrito da Cidade Ademar. Para isso, trará um integrante de três movimentos políticos do bairro – Jamac; Nós Mulheres da Periferia; Pagode na Disciplina – que se organizam e mobilizam através de diferentes linguagens culturais e artísticas. Assim, a mesa irá debater o samba, a escrita e as artes plásticas como dispositivos políticos, com participação de Lahayda, Roger Cipó, Adriana Paixão e Semayat Oliveira.
Luana e Ligia estão sempre no corre da gestão do Pagode Na Disciplina
©Arquivo Pessoal
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Aplicativo marca 25 anos da Ação Educativa
Lançado na última edição, o aplicativo do Estéticas das Periferias traz a proposta de curadoria, que marca o evento, para sua versão mobile. Artistas locais vão apresentar um olhar próprio da arte produzida na quebrada onde eles vivem.
Juliane Cintra, coordenadora de comunicação do Encontro, explica que a proposta é oferecer um conteúdo exclusivo e de qualidade, selecionado pelos próprios agentes culturais. “O nosso público vai viajar por um território, pelo olhar desses que constroem a cultura nas margens da cidade. Contaremos a história dos curadores, sua relação com os. espaços escolhidos e a programação indicada, bem como, apresentaremos e homenagearemos os autores dessas produções artísticas”.
A nova fase do aplicativo e a 9ª edição do Estéticas chegam juntos com os 25 anos da Ação Educativa. Juliane analisa que esses momentos de celebração vem acompanhados de tempos desafiantes para aqueles, que como a Ação Educativa, se propõem a defender o direito humano à cultura e sua possibilidade de criar esse caminho para a emancipação humana. “Se nos negam o direito de sermos e existirmos em nossa plenitude, a construção da ação política vem com a possibilidade de edificar utopias e esse é o lugar da cultura de periferia para a Ação Educativa”.