Ditadura e periferia: grupo estreia espetáculo sobre vala comum de Perus
Com 14 anos de atuação em Perus, o Grupo Pandora de Teatro estreia COMUM espetáculo inspirado na descoberta da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em 1990, onde foram deixadas mais de mil ossadas, dentre elas, dezenas de desaparecidos políticos no período da ditadura
Por Jéssica Moreira
11|07|2018
Alterado em 11|07|2018
No dia 13 de Julho (sexta-feira), às 20h, o Grupo Pandora de Teatro estreia o espetáculo COMUM na Ocupação Artística Canhoba – Cine Teatro Pandora, atual sede do grupo que fica no bairro de Perus, na região noroeste da cidade de São Paulo.
COMUM tem como eixo norteador o período ditatorial brasileiro e a descoberta da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco em 1990, local que fica a cerca de 2 quilômetros da Ocupação Artística Canhoba. Uma vala comum com mais de mil ossadas, onde foram identificados desaparecidos políticos e cidadãos mortos pela violência da ditadura militar.
A revelação da existência de uma vala clandestina dentro de um cemitério oficial, desencadeou um processo de busca da verdade sem precedentes no país. A vala comum do Cemitério Dom Bosco foi apresentada ao mundo como um dos muitos crimes cometidos pelo regime surgido com o golpe de estado de 1964, e trouxe a crueldade da ditadura militar à tona no começo dos anos 1990. Até ali, o desaparecimento de pessoas, os falsos tiroteios e atropelamentos, as marcas de tortura e dores da perda, pertenciam apenas ao universo dos familiares, sobreviventes e amigos.
O espetáculo é formado por fragmentos de três histórias que se relacionam e se complementam. A primeira se passa no final dos anos 80, quando um jovem precisa passar por diversos obstáculos e conflitos para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seus pais, envolvidos com atividades de movimentos revolucionários na época da ditadura militar.
A segunda, inspirada nos coveiros da peça Hamlet de William Shakespeare, se passa nos anos 70 e retrata de forma cômica o universo de dois coveiros que recebem uma estranha tarefa: cavar uma vala enorme, de tamanho desproporcional.
A terceira é a historia de Beatriz Portinari e seu namorado, Carlos. O casal é retratado desde o primeiro encontro, as atividades politicas na faculdade em pleno período da ditadura militar, até a transformação desta garota comum em uma integrante do Movimento Estudantil. Seus ideais, contradições, sua prisão e o nascimento de seu filho.
Com este espetáculo o grupo referencia a memória do bairro de perus e convida a população a conhecer uma parte da história do Brasil esquecida ou pouco valorizada.
O espaço onde será encenado o espetáculo, a Ocupação Artística Canhoba, atualmente é gerido pelo Grupo Pandora de Teatro. Foi construído em 2010 pela Prefeitura de São Paulo para abrigar um Ponto de Leitura da cidade. Porém a obra foi paralisada e o espaço nunca chegou a cumprir função social. Abandonado e degradado, acabou virando ponto de encontro de usuários de drogas, trazendo medo e incomodo para a população local.
Em Fevereiro de 2016, com a colaboração dos moradores locais e com a ajuda de diversos coletivos, o Grupo Pandora realizou a revitalização do espaço e o transformou em um polo cultural que recebeu o nome de Ocupação Artística Canhoba – Cine Teatro Pandora.
A população do bairro passou a ser frequentadora assídua do espaço e a usufruir de atividades como oficinas, debates, exibições de cinema e apresentações artísticas. Hoje, o espaço também é utilizado como sala de ensaio por diferentes coletivos.
Desde a sua criação, o espaço estabeleceu uma grande conexão com o território que o cerca e com a população local, assim como o Grupo Pandora, formado predominantemente por moradores de Perus. Com seu novo espetáculo, o grupo segue em sua pesquisa com temas relacionados à história do bairro.
A temporada de estreia de COMUM faz parte das ações do projeto contemplado na 30ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, e conta com apresentações também no centro da cidade. Em Agosto o grupo se apresenta no Teatro de Container, no bairroSanta Ifigênia, em Setembro na sede da Companhia do Feijão (República), Outubro e Novembro na Oficina Cultural Oswald de Andrade(Bom Retiro). Além de apresentações em outros locais com datas ainda a definir.
Em 2018 o Grupo Pandora de Teatro comemora 14 anos de um trabalho contínuo de pesquisa e criação teatral no bairro de Perus, fortalecendo parcerias com polos culturais, artistas da região e com a própria população.
Compõe seu repertório também o espetáculo “Relicário de Concreto” (2013) inspirado nas memórias dos trabalhadores da Fábrica de Cimento Portland Perus e na Greve dos Queixadas, que ocorreu na Fábrica e durou sete anos. Além de ter lançado um livro chamado “Efêmero Concreto – Trajetória do Grupo Pandora de Teatro” organizado por Thalita Duarte e Lucas Vitorino, que destaca as ações do grupo fomentando a cultura no bairro e atuando em prol da revitalização da Fábrica de Cimento Portland Perus.
Mais informações em:
Temporada: de 13 de julho de 2018 a 04 de agosto de 2018
Dias e Horários: sextas às 20h e Sábado às 19h
Duração: 100 min
Faixa etária: 12 anos
Local: Ocupação Artística Canhoba – Cine Teatro Pandora – Endereço: Rua Canhoba, 299 – Perus. São Paulo/SP.
Preço: Contribuição voluntária