Mulheres e idosos podem descer fora do ponto de ônibus na capital paulista, após as 22h

Qual mulher nunca teve aquela sensação de frio na espinha, ao descer no ponto de ônibus tarde da noite no trajeto para casa e tremer de pavor por não ter ninguém na rua?  Qual menina já não teve que ligar para algum parente ir buscá-la no ponto por medo de andar sozinha depois de certo horário? […]

Por Bianca Pedrina

19|07|2016

Alterado em 19|07|2016

Qual mulher nunca teve aquela sensação de frio na espinha, ao descer no ponto de ônibus tarde da noite no trajeto para casa e tremer de pavor por não ter ninguém na rua?  Qual menina já não teve que ligar para algum parente ir buscá-la no ponto por medo de andar sozinha depois de certo horário? Se você atravessa a cidade para ir ao trabalho ou estudar, provavelmente já vivenciou essas situações que são cotidianas e assustam.
Leia também: Não é normal sentir medo 
Pensando em minimizar esses transtornos, a Lei 16.490  foi sancionada e permite às mulheres e idosos descerem fora do ponto de ônibus, no horário entre as 22h e 5h, no local que se sentirem mais seguros, desde que não interfira no itinerário do coletivo.

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Lei beneficia mulheres e idosos. Crédito: Leo Brito


A estudante Anna Beatriz Romão Ataíde da Silva, 16, que mora na Vila Anastácio, zona oeste, reconheceu que a lei pode colaborar em sua vida cotidiana. Anna faz teatro aos fins de semana e em algumas ocasiões chega em casa por volta das 22h30. Quando sai esse horário, sua mãe vai buscá-la no ponto de ônibus, ou seja, um perigo para as duas.
“Por exemplo, quando venho de Pirituba ou da Vila Piauí, ou até mesmo Osasco, o ônibus poderia parar mais perto, e me ajudaria a chegar mais rápido em casa, correndo menos perigo. Minha irmã já foi assaltada no ponto onde eu desço”, conta.
A lei também foi recebida como um avanço importante para a moradora de Taipas, zona noroeste, Joyce Morais, 20, que trabalha, estuda e chega bem tarde em casa. “Chego da faculdade sempre mais de meia-noite e morro de medo de descer no ponto de ônibus. Tenho duas opções de parada e nunca sei qual é a menos perigosa. Já ouvi histórias de roubos nas duas”, relata.
Do ponto de ônibus até sua casa são apenas 10 minutos, mas que para ela duram uma eternidade. “Se o ônibus que sempre pego parasse só um pouco mais para baixo, já me ajudaria, porque seria exatamente a entrada dos prédios onde moro”, explica.
Apesar de nunca ter sofrido algum tipo de violência durante esse trajeto, Joyce reforça que o medo é um companheiro constante. “Sempre escuto historinhas do tipo ‘ah, estão roubando lá em cima’ ou ‘ah, agora estão roubando no ponto de baixo’, é isso que me assusta, principalmente quando está chovendo ou garoando, que não tem um pé de cristão na rua, nem mesmo os ‘nóias’ de sempre”, conta.
Para ela, o fato de a lei ser voltada para mulheres e idosos, se justifica. “Não que os roubos aconteçam somente com mulheres e idosos, mas somos a grande maioria por parecermos ser mais vulneráveis mesmo. Mas as vítimas perfeitas geralmente são sempre do sexo feminino. Os casos de que fulano foi roubado por aqui é sempre uma mulher que sofre o ataque”, argumenta.
No bairro onde mora há 14 anos, a iluminação melhorou um pouco nesses últimos tempos, no entanto, segundo ela, a segurança “é praticamente zero”.
Joyce reconhece que a lei, apesar de progressiva, no entanto é paliativa. “O ideal seria que não precisássemos dela [lei] não, é? Que o investimento fosse feito na segurança para não ter necessidade de descermos fora do nosso próprio ponto. Mas aí já é algo mais complexo, esperar que todo o problema seja resolvido já envolve outras coisas. Então, nesse momento, ela ajuda sim”, finaliza.
E quando for de trem, metrô ou a pé…Que tal irmos juntas?
A Lei representa um avanço para as mulheres que sabem que, em uma sociedade machista, são o alvo mais fácil. Mas e em outras ocasiões? Se as distâncias forem de trem, metrô ou pé? Que tal irmos juntas?
O movimento “Vamos Juntas”, idealizado pela Jornalista Babi Souza, surgiu partir de um pensamento seu de que se as mulheres se unissem nas ruas se sentiriam mais seguras. “Afinal, só as mulheres entendem o medo que as outras mulheres sentem na rua.”
A ação deu tão certo que agora propõe a união das mulheres não só nas ruas, mas na vida.  São exemplos como esse que devem servir de inspiração para quem sabe assim, unidas, a gente consiga construir uma realidade em que todas as mulheres tenham a liberdade de ir e vir, sem ter medo.