Moradores de periferia de SP se mobilizam contra instalação de incinerador de lixo
O movimento “Incinerador de Lixo em Perus, não” chama atenção para os problemas à saúde da população e danos ambientais que o projeto pode causar
Por Beatriz de Oliveira
28|10|2025
Alterado em 28|10|2025
Moradores de Perus, zona noroeste de São Paulo (SP), estão se mobilizando contra um projeto da concessionária Loga, que pretende construir um incinerador de lixo no bairro. Segundo os ativistas, a iniciativa pode desencadear problemas à saúde da população e danos ambientais.
O movimento, nomeado de “Incinerador de Lixo em Perus, não”, convoca a sociedade para apoiar a luta contra qualquer instalação de incineradores na cidade de São Paulo.
Incineradores de resíduos sólidos são fornos projetados para queimar lixo em altas temperaturas de forma controlada, reduzindo seu volume.
O projeto para instalação do incinerador está em fase de aprovação na CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
“O projeto é nomeado como Unidade de Recuperação Ambiental (URE) Bandeirantes e está sendo vendido como uma ‘nova tecnologia’ para tratar os resíduos sólidos, quando, na verdade, é uma tecnologia criticada em diversos países do mundo”, diz o movimento.
A região de Perus abriga o Parque Anhanguera, segundo maior parque municipal da capital e um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica de São Paulo, com cerca de 9,5 milhões de m². O incinerador também deve ser instalado próximo às terras indígenas do Jaraguá, habitadas por indígenas do povo Guarani Mbya.
Um projeto semelhante está previsto para São Mateus, na zona leste da capital. Segundo a Frente Popular Contra a Ampliação do Aterro de São Mateus, a iniciativa da empresa Ecourbis prevê o corte de mais de 62 mil árvores para a ampliação do aterro sanitário e instalação de incinerador de lixo.
“Os impactos ambientais da incineração são múltiplos. Primeiro, tem-se uma emissão de gases de efeito estufa e de gases também poluentes, como dioxinas e furanos, que são persistentes e se mantêm na atmosfera. Disp, decorre também o impacto para a saúde humana, existem evidências científicas de que a incineração provoca danos, como câncer e doenças cardíacas”, afirma Elisabeth Grimberg, coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis.
Problemas respiratórios, como asma e bronquite, e neurológicos, como Parkinson e Alzheimer, também podem ser causados pela fumaça dos incineradores.
Maria Helena Bezerra, professora aposentada e moradora de Perus, explica que “o movimento contra o incinerador defende que a prefeitura siga o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS), que não prevê incineradores, mas sim mais compostagem e reciclagem”.
Outras exigências dos moradores são consulta pública junto à população local, atenção da CETESB para a reprovação do empreendimento de incinerador de resíduos em Perus e instalação de unidades de compostagem e correto recolhimento de materiais recicláveis.
Segundo Maria Helena, a Prefeitura de São Paulo não fez nenhuma consulta pública e não respondeu aos questionamentos do movimento de Perus. “A prefeitura sequer apresentou os custos desse programa de tratamento de lixo, que é considerado ultrapassado e extremamente prejudicial”, diz.
Elisabeth Grimberg pontua que existem diferentes alternativas sustentáveis para a destinação do lixo, que podem substituir a construção de incineradores. Entre elas, a coleta seletiva em três etapas: orgânicos, recicláveis secos e rejeitos (aquilo que não tem como ser reciclado). Nesse cenário, apenas os rejeitos são levados para aterros. As outras etapas são levadas para compostagem e reciclagem. Há também a possibilidade de “integração socioprodutiva dos catadores de recicláveis de suas cooperativas”, de modo que exista uma cooperativa em cada distrito da cidade.