
O que as mulheres reivindicaram na 10ª Marcha das Mulheres Negras?
O Nós, Mulheres da Periferia esteve presente nas marchas que aconteceram em São Paulo (SP) e Salvador (BA) para ouvir as reivindicações nessa data
Por Amanda Stabile
01|08|2025
Alterado em 01|08|2025
No último dia 25 de julho, junto com a celebração do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, aconteceu a Marcha das Mulheres Negras em diversões locais por todo o país.
Neste ano, as manifestações antecederam a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro, em Brasília (DF), e pretende reunir um milhão de mulheres negras, reivindicando reparação e bem viver. Trata-se de uma continuação da primeira marcha, que aconteceu em 2015 e mobilizou cerca de 50 mil mulheres negras.
O Nós, Mulheres da Periferia esteve presente nas marchas que aconteceram em São Paulo (SP) e Salvador (BA) para ouvir as reivindicações nessa data. Com a palavra, as mulheres negras:
São Paulo (SP), Praça da República
Julia dos Santos Drummond

“Eu consigo pensar em coisas muito essenciais que precisam mudar urgentemente. Eu começaria por dinheiro. Então: reparação histórica em forma de PIX, né? (risos) Redistribuição de terra, garantia de moradia para todo mundo, especialmente para as mulheres negras — acho que é uma garantia muito básica, humana.
O fim da escala 6×1, no máximo 4×3 e olhe lá! Também mudar a lógica de pagamento de salário para uma que não valorize apenas o conhecimento intelectual por meio da educação formal, pensando também em outras formas de conhecimento para além daquele universitário.
E, certamente, a forma como as mulheres negras são enxergadas na sociedade: a forma como a gente enxerga as mulheres negras como subhumanas contribui para os números de feminicídio, contribui para políticas públicas mal feitas na origem”.
Maria Luiza Santana

“Bem viver para as mulheres negras é existir além de resistir. É estar em todos os espaços sem ser julgada, sem ser massacrada e a luta que temos todos os dias para viver e existir além de resistir”.
Iara Alves

“É tanto troco que a gente tem pra receber, é tanta conta que têm que pagar pra gente, que não dá nem pra mensurar. Mas reparação é outra coisa… eu nem sei se isso é possível. Não tem como, porque foram anos de abuso, de discriminação, de preconceito. E, na real, é algo que a gente ainda vive, né?
Isso tá imputado, infelizmente, na população. Tanto é que hoje a gente tá aqui na marcha pra tentar refutar um pouco disso que tá enraizado desde os primórdios. Infelizmente, ainda temos que lutar”.
Salvador (BA), Praça da Piedade
Rita de Cássia Pereira

“Reparar, do ponto de vista do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, é a exigência que a gente faz neste momento histórico perante uma dívida histórica que o poder branco racista tem com a população negra”.
Maria da Piedade

“Mulheres negras, têm sido todos os dias as principais vítimas da guerra às drogas, sendo encarceradas, sendo mortas, chorando a morte dos seus filhos. Por isso estamos, mulheres negras em marcha hoje e sempre”.
Alane Reis

“Quando a gente luta por bem-viver, a gente está dizendo que queremos uma sociedade em que todas as vidas sejam possíveis. Queremos uma sociedade em que os povos se autodeterminem com autonomia, com valorização das culturas, e não tenha um sujeito ou um grupo de sujeitos hierarquicamente acima de outros. A gente está querendo dizer que em um projeto capitalista não cabe toda a população do mundo. A gente quer um mundo anticapitalista, onde a igualdade racial e a igualdade de gênero se concretizem na prática”.