
Artesãs indígenas mostram como seu ofício preserva cultura e natureza
No Dia dos Povos Indígenas, as artesãs Elizângela e Nazária contam sobre as potências de seu trabalho
Por Beatriz de Oliveira
16|04|2025
Alterado em 16|04|2025
Artesãs desde a infância, Elizângela da Silva Costa e Nazária Andrade Montenegro enxergam no artesanato indígena muito mais do que uma fonte de renda. Para elas, o ofício é uma forma de preservar tradições ancestrais e manter viva a identidade de seus povos. Neste 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, elas contam como a produção manual se estabelece como uma ferramenta de proteção ao meio ambiente e do bem viver da mulher indígena.
Elizângela e o fazer sustentável
Elizângela da Silva Costa é do povo Baré e vive em São Gabriel da Cachoeira (AM). É artesã desde criança, tendo aprendido o ofício com a mãe. Sua matéria prima principal é a fibra de tucum (extraída das folhas de uma palmeira nativa da Amazônia), e por meio dela produz biojoias, bonecas, bolsas, carteiras e trajes indígenas. “Eu não lembro como me tornei artesã, porque é algo que já nasce na família”, diz.
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Ela conta que se tornou uma liderança aos 14 anos de idade e sempre trabalhou junto a outras mulheres artesãs. Vê no artesanato uma forma de geração de renda e de autonomia das mulheres dentro de suas comunidades. Mas vai além: vê esse trabalho como forma de fortalecimento da cultura, da língua, da organização social e da identidade cultural de cada povo.
“Nós produzimos em busca de fortalecer a cultura indígena, o bem viver da mulher indígena e a geração que está por vir. Foram mais de cinco séculos de colonização, de invasão do território, mas nós, povos originários, ainda mantemos muitos conhecimentos e saberes que são voltados à produção de artesanato”, afirma.
Elizângela acrescenta ainda a importância do fazer sustentável, respeitando o tempo da natureza ao retirar as matérias-primas necessárias. “As nossas ciências indígenas fazem parte de uma geração de renda sustentável, em que olhamos para o rio, para a floresta e para o território, dizendo que tudo tem vida e que há limite para fazermos nossa produção”, explica.
Nazária e o fazer feminino
Nazária Andrade Montenegro é do povo Baniwa, natural de Uapuí Cachoeira, Alto Rio Ayari, Terra Indígena Alto Rio Negro (AM), e hoje vive em São Gabriel da Cachoeira (AM). Também aprendeu o ofício de artesã com sua mãe. Ao passar dos anos, ela se aperfeiçoou na produção de cerâmicas e artesanatos com fibra de tucum.
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Para ela, o ofício é uma forma de preservar o conhecimento de seu povo e de manter uma relação respeitosa com a natureza. “A gente só pega o material quando precisa, não pegamos material para deixar estragar. (…) Os lugares onde a gente pega são bem preservados, como os igarapés onde pegamos argilas”, explica.
E destaca: “a gente preserva o nosso ambiente, para nós isso é sustentabilidade. Temos muito manejo com a natureza, respeitamos tudo que existe nela”.
Nazária pontua ainda que o artesanato indígena é feminino, um ofício que se aprende com mulheres da comunidade. “Eu aprendi com a minha mãe, depois fui me aprofundando com outras mulheres artesãs, e quando fui aprendendo mais, ensinei mulheres mais jovens que precisavam da minha ajuda”.