Mulheres criam campanha contra machismo na cena cultural periférica

Um grupo de mulheres ativistas de movimentos culturais, artistas e frequentadoras de eventos artísticos que acontecem nas periferias está mobilizando uma campanha nas redes sociais para denunciar práticas machistas que acontecem nesses ambientes, incluindo assédios verbais e físicos. Com a hashtag #nãopoetizeomachismo, essas mulheres começaram a denunciar casos em que elas próprias foram vítimas, e […]

Por Lívia Lima

26|11|2015

Alterado em 26|11|2015

Um grupo de mulheres ativistas de movimentos culturais, artistas e frequentadoras de eventos artísticos que acontecem nas periferias está mobilizando uma campanha nas redes sociais para denunciar práticas machistas que acontecem nesses ambientes, incluindo assédios verbais e físicos.
Com a hashtag #nãopoetizeomachismo, essas mulheres começaram a denunciar casos em que elas próprias foram vítimas, e também passaram a criticar os tipos frequentes de situações misóginas e machistas que presenciam. Uma Página no Facebook, administrada por oito mulheres, foi criada para reunir e expor estes relatos.  E o grupo pretende realizar mais ações.
Moradora do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, Camila Costa, 24 anos, uma das articuladoras do Sarau Antene-se, é uma das integrantes do grupo e deu uma entrevista para o Nós, mulheres da periferia sobre a campanha:
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Nós: Que fato mobilizou o início da campanha?
Camila: Na última edição do sarau que realizamos, um poeta conhecido passou a mão na minha bunda. Algumas semanas depois, o caso veio à tona. A partir da exposição desse fato, outros casos de assédio envolvendo o mesmo poeta foram relatados. Então foi criado um grupo para que pudéssemos discutir e, caso nos sentíssemos à vontade, relatar as situações de assédio e machismo que enfrentamos nos espaços culturais que circulamos, situações essas em que somos vítimas dos nossos colegas, parceiros, companheiros de luta, pessoas que fazem parte da nossa realidade.
A campanha aconteceu de forma organizada ou espontânea?
Tudo começou de maneira muito espontânea e fomos nos organizando conforme foram surgindo as ideias. Criamos a #nãopoetizeomachismo e começamos a expor as diversas situações que vivemos e com os caras que frequentam esses espaços. Nos fotografamos com a hashtag, começamos a fazer barulho na rede para mostrar que não estamos mais dispostas a nos silenciarmos diante dessas situações. Criamos a page no Facebook e houve uma adesão muito grande de mulheres ao movimento, inclusive de outros estados.
Quantas mulheres estão envolvidas diretamente?
Somos muitas diretamente envolvidas com a campanha. Temos um grupo na internet em que trocamos ideias sobre as ações e nossas experiências todos os dias. E partir daí postamos as publicações na página.
Que ações estão realizando? São ações apenas virtuais?
No momento estamos expondo os relatos e compartilhando nossas histórias. Essa troca de experiência tem nos fortalecido e encorajado a expor situações que vivemos e que nos causou tanta coisa ruim. Pretendemos realizar ações fora da rede, nos espaços em que atuamos, difundir nossas ideias e o nosso posicionamento por meio do que criamos: música, poesia, nos empoderar cada vez mais.
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O que vocês consideram como “poetizar o machismo”?
Poetizar o machismo é mascarar, disfarçar atos machistas (assédios/violências) através de poesias, de conversa mole com a intenção de minimizar o erro cometido, até mesmo fazer com que o erro não seja encarado como um erro.
 Qual o problema em se “poetizar o machismo”?
O problema está em se isentar de culpa, deslegitimar e ignorar a dor de quem sofre com o machismo o tempo todo. Poetizar o machismo é também perpetuar o machismo.
 Práticas machistas de homens envolvidos em saraus, em espaços culturais, são mais ofensivas para você? Por quê?
De certa forma sim. O agravante em ser vítimas de práticas machistas nesses espaços é que os caras que as praticam conhecem a nossa caminhada, sabem da nossa luta, e ainda assim nos agridem, nos desrespeitam e agem como se tivessem cometido esses atos inocentemente, nos cobram compreensão.
Você acredita que essa campanha pode ajudar a mudar o comportamento dos homens?
Eu sinceramente não sei. É possível que alguns caras repensem sua postura, assim como é provável que muitos nem se importem com a campanha, mas essa movimentação toda está muito mais ligada às manas, a nós, ao nosso não silenciamento diante das situações que enfrentamos, ao nosso empoderamento e à nossa força.