‘Bandida – A Número 1’: Maria Bomani fala sobre o seu 1º papel de protagonista

O filme conta a história da primeira mulher a comandar o tráfico na favela durante os anos 1980

Por Beatriz de Oliveira

18|10|2024

Alterado em 18|10|2024

Uma criança é vendida pela avó para pagar uma dívida de jogo. A partir daí, começa a trabalhar para o maior bicheiro da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), sob a hierarquia do crime, se tornando a primeira mulher a comandar o tráfico na favela durante os anos 1980. Essa é a história contada no filme “Bandida – A Número 1”, disponível na Netflix e protagonizado pela atriz e cantora Maria Bomani.

“Senti muitas inseguranças ao receber a oportunidade de viver minha primeira protagonista e estrear o formato do cinema. Me dediquei muito a me preparar psicologicamente e espiritualmente, tanto para segurar a carga emocional da personagem, quanto para dar conta do processo, sem deixar que alguma auto sabotagem me fizesse desacreditar que fui merecedora desse papel”, conta Maria Bomani em entrevista ao Nós, mulheres da periferia.

O filme, dirigido por João Wainer e com produção de elenco de Mônica Nêga, foi livremente baseado no livro “A Número Um”, de Raquel de Oliveira. Na obra, Raquel conta sua própria história, que inclui o fato de ter sido vendida pela avó aos nove anos, ter ganhado seu primeiro revólver aos 11 e cometido o primeiro homicídio aos 15. A carioca se casou com Naldo, chefe do tráfico de drogas da Rocinha nos anos 1980 e, com a morte do companheiro, ela assumiu o posto de chefe do tráfico.

Depois disso, se tornou alcoólatra e viciada em drogas. Buscando saídas,entrou para a reabilitação, concluiu o ensino médio, se formou em pedagogia e publicou o romance “A Número Um”. “Este livro é minha história de vida. Apenas a literatura me mantém de pé para enfrentar minha história após 30 anos. Escrever me dá prazer, substitui a cocaína, consigo fugir da dor, me anestesiar, parar o tempo”, disse ela em 2015 à AFP durante a Festa Literária das Periferias (FLUPP).

“Li bastante o livro da Raquel de Oliveira, que inspirou o filme. Fazia anotações sobre características dos personagens do livro e comparava com o roteiro, pesquisei como era o dialeto e a vivência da época e tive a escuta muito aberta com a direção, elenco e meus preparadores, para gente sempre fazer o melhor possível em cena”, relata Maria Bomani sobre o processo de preparação para interpretar Rebeca, a personagem do filme.

Para a atriz, os maiores desafios e satisfações durante a gravação do filme foram relacionados à ambientação. “Fazer cinema em favelas, respeitar a vivência daquele lugar que continua acontecendo, enquanto a gente se concentra pra contar uma história. Usar roupas de época no calor do Rio de Janeiro, gravar diárias no meio da Copa do Mundo. Eram muitas coisas! E isso também era uma delícia. Ter essa troca com os moradores, a curiosidade e para muitos, o primeiro contato com o audiovisual, isso é muito especial”, afirma.

Desde o lançamento na Netflix, em 13 de setembro, “Bandida – A Número 1” chegou ao segundo lugar no top 10 global, além de estar no top 10 em 53 países. O longa tem duração de 1h20min, produção da Paris Entretenimento em coprodução com TX Filmes, Film2B, Claro e Telecine e apoio da Riofilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio.