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Queimadas: como a seca e o fogo têm impactado o dia a dia das mulheres

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já são mais de 180 mil focos de incêndio desde o início do ano

Por Beatriz de Oliveira

24|09|2024

Alterado em 24|09|2024

O Brasil vive sua maior seca histórica e o fogo se espalha pelo território nacional. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já são mais de 180 mil focos de incêndio desde o início do ano, uma alta de 108% nas queimadas em relação ao mesmo período de 2023. 

Em uma postagem no Instagram, o Nós, mulheres da periferia, perguntou às suas leitoras sobre como a poluição do ar está afetando suas vidas. Os comentários incluem relatos de dor de garganta, nariz sangrando e respiração difícil, que se juntam ao sentimento de angústia pela atual situação.

Nesta matéria, convidamos quatro delas para detalharem como as queimadas tem afetado seus cotidianos. Confira.

“Parece que estamos vivendo outra pandemia”

Natália Torello é bióloga e mora em Cuiabá (MT). 

mulher branca sorrindo

Natália Torello é bióloga e mora em Cuiabá (MT) 

©arquivo pessoal

Além do calor absurdo e a baixa umidade, a qualidade do ar em Cuiabá está insalubre todos os dias. Estamos respirando fumaça. Nariz sangrando já é quase normal. Semana passada fiquei com a boca toda ressecada, a ponto de ficar com o lábio sangrando. Sem falar que não dá pra abrir as janelas, se não a casa fica cheirando a queimado. Treinar ao ar livre então, como eu fazia, sem condições.

Parece que estamos vivendo outra pandemia, tendo que ficar em ambientes fechados e tomando uma série de medidas para tentar amenizar o problema. É horrível ter que passar por tudo isso de novo.

“Fora o calor intenso, um ar pesado entrando pela janela”

Ariane Mendonça, é mãe, dançarina e professora. Mora em Olaria, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). 

mulher negra de tranças

Ariane Mendonça mora em Olaria, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). 

©reprodução Instagram

Eu tenho reparado como estou mais seca, minha respiração e das crianças está diferente. Meus dois filhos e eu ficamos doentes e a secreção tá diferente, estou mais cansada e sem energia e eles também. Eu danço descalça e meus pés criaram uma espécie de casca esses dias, os ouvidos e os olhos também estão em aumento de secreção e a sujeira sempre vem bem mais escura. Fora os dias de calor nesse conjunto que não tem árvores. Tudo concretado. Semana passada ficamos sem luz por conta de um incêndio no Complexo do Alemão e fora o calor intenso, um ar pesado entrando pela janela. 

“Há vários dias estou com dor de garganta”

Linda de Fátima, é conselheira tutelar e mora em Angatuba (SP). 

mulher negra de bermuda

©arquivo pessoal

As queimadas estão afetando tanto fisicamente quanto psicologicamente o meu dia a dia. Há vários dias estou com dor de garganta, já tomei duas injeções diferentes, e quando fui no pronto socorro, estava lotado de pessoas com os mesmos sintomas. Vale ressaltar que mesmo sendo interior, e tendo uma equipe de bombeiros na cidade, houve uma queimada aqui também, que demorou a ser contida, levando a piora nos sintomas de várias pessoas.

Diante dos fatos me sinto impotente, mesmo contribuindo com o meio ambiente me sinto nadando contra a correnteza.

“A gente vem sentindo as dores da terra”

Karina Rodrigues é agricultora, educadora popular e mora em São Paulo (SP).

mulher de franja

Karina Rodrigues é agricultora, educadora popular e mora em São Paulo (SP).

©arquivo pessoal

Os impactos das queimadas no meu dia a dia são muitos. A começar pelo tempo de semear, de colher, que está sofrendo alteração, a chuva não vem. Aguardamos a chuva para plantar. A gente vem sentindo muito as dores da terra, os bichinhos procurando água, refúgio do sol na cidade.

Essa situação de hoje não surpreende nós que estamos diretamente ligados com a natureza, mas nos entristece. Estar com as crianças nas escolas e perceber as suas aflições nesse momento me atravessa de maneira profunda.