colagem, fotos de quatro mulheres negras

Mulheres negras de diferentes gerações relatam importância do 25 de julho

Neste 25 de julho, celebramos mais um Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Por Beatriz de Oliveira

24|07|2024

Alterado em 25|07|2024

Neste 25 de julho, celebramos mais um Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela, mulher negra que viveu entre 1700 e 1770, foi líder do quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, que resistiu à escravidão durante duas décadas.

Para destacar a importância dessa data, o Nós, mulheres da periferia convidou mulheres negras de São Paulo (SP) de diferentes gerações para responder à seguinte pergunta: O que o dia 25 de julho representa para você?

Confira os relatos!

“Inspiradas por Tereza de Benguela e outras ancestrais, construímos formas de resistência”

Lenny Blue, 70 anos, mora em São Paulo (SP), é advogada, escritora, cofundadora do Movimento Negro Unificado (MNU) e marchante da Marcha das Mulheres Negras de SP.

mulher falando ao microfone

Lenny Blue é cofundadora do Movimento Negro Unificado (MNU)

©arquivo pessoal

Tereza é uma mulher à frente do seu tempo, ícone da resistência, da luta pela liberdade e pelos direitos humanos em Mato Grosso e no Brasil. Nos ensinou a diversidade unindo negros, brancos e indígenas para defender o território por muitos anos. Foi responsável pelo desenvolvimento do quilombo, implantando novos modelos de desenvolvimento, como o uso do ferro na agricultura, usando técnicas ancestrais de luta e resistência, com a circularidade na tomada de decisões que eram tomadas coletivamente.

Fico lisonjeada e inspirada pelo fato de que seu comando no Quilombo do Quariterê se deu a partir dos 50 anos e perdurou por 20 anos. Nos faz refletir sobre como devemos combater o idadismo que cerceia a atuação das mulheres mais velhas e invisibiliza as demandas específicas causadas pelo racismo estrutural na vida idosa.

Inspiradas por ela e outras ancestrais, construímos formas de resistência e enfrentamento ao patriarcado e as lutas das mulheres nos dias de hoje. Denunciamos sistematicamente as violências sofridas e pressionamos para que nossos corpos e vozes estejam presentes nos espaços de políticas de segurança e diretrizes econômicas. Seguimos nos organizando e articulando para transformar a história, germinando sementes na luta contra o racismo.

“Falar sobre o nosso dia é fazer com que meninas negras conheçam sua história de coragem e orgulho”

Simone Nascimento, 31 anos, mora em Pirituba, zona norte de São Paulo (SP), é coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU).

mulher negra sorrindo de blazer rosa

Simone Nascimento é coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU)

©reprodução Instagram

É um dia de luta, de afirmarmos para sociedade brasileira que as mulheres negras reúnem uma história de muita luta no país. Desde 1992 o dia da mulher negra serve para reivindicar nossas lutas. No Brasil somos a maioria da população e precisamos de respeito e direitos, não há pauta social que não seja urgente para nós. No Brasil também é dia de Tereza de Benguela, liderança do quilombo do do Quariterê, nossa ancestral que lutou contra a escravidão. Para governar o quilombo,Tereza desenvolveu um sistema de parlamento, erguendo uma comunidade e gestão coletiva do território. Toda quebrada carrega esse DNA de resistência. Toda mulher negra é também uma lembrança viva de Tereza. Falar sobre o nosso dia é fazer com que meninas negras conheçam sua história de coragem e orgulho.

“O 25 de julho é a retomada da energia ancestral de Tereza de Benguela”

Luciana Araujo, 47 anos, mora no Bixiga, região central de São Paulo (SP), é organizadora da Marcha das Mulheres Negras de SP.

mulher negra fala ao microfone

Luciana Araujo é organizadora da Marcha das Mulheres Negras de SP.

©@rpestudio

O 25 de julho é a retomada da energia ancestral de Tereza de Benguela e de todas as lutadoras negras da América Latina e do Caribe para enfrentar o projeto racista que tenta nos matar todos os dias de todas as formas. É no encontro das manas que vêm de diversas regiões do estado que a gente se fortalece para encarar a caminhada até o próximo 25 lembrando que se o racismo nos impõe muito sofrimento, também somos muita potência para transformar essa realidade

“Quando falamos do julho das pretas é pra reforçar a nossa existência”

Mel Duarte, 35 anos, mora em São Paulo (SP), é poeta, compositora e escritora.

Mulher negra de tranças

Mel Duarte é poeta, compositora e escritora.

©reprodução Instagram

Enxergo a data do dia 25/7 como uma conquista para todas nós mulheres negras que lutam diariamente para a construção de uma sociedade mais igualitária e menos preconceituosa.

Quando falamos do julho das pretas é pra reforçar a nossa existência, nossas lutas e nos enxergar como potência, reverberando vozes que ecoaram até aqui pra que a nossa tbm pudesse chegar.

Nessa data tão importante, aproveito para lançar em forma de canção um dos meus poemas mais conhecidos “Não desiste” que é uma “mulheragem” – como já nos ensinou Jennyffer Nascimento – a todas mulheres negras que não desistem apesar das dificuldades e convido vocês a celebrarem essa data acompanhadas desse som que traz Victoria Santa Cruz evocando o refrão:

Negra, si!

Negra, soy,

Negra!!