mulher em baile

O Baile Dasmina dá protagonismo às mulheres do rap em RS 

Criado em 2016 na cidade de Pelotas (RS), o Baile Dasmina enfrenta o assédio sexual e incentiva novos nomes de mulheres no hip hop

Por Beatriz de Oliveira

05|04|2024

Alterado em 05|04|2024

Durante um jantar, quatro amigas conversavam sobre a falta de artistas mulheres nos rolês de rap que frequentavam na cidade e sobre o assédio que era comum nessas festas. Diante dessa insatisfação, decidiram criar um evento que destacasse o protagonismo feminino no hip hop. Surgiu daí o Baile Dasmina, realizado em Pelotas (RS) e criado por Bartira Marques, Beatriz Costa, Lara Costa e Isadora Vieira.

A primeira edição da festa aconteceu em 2016 na casa de uma das fundadoras e superou as expectativas de público.“Era para ser um rolê para poucas pessoas, mas viraram muitas, lotou o lugar”, lembra Bartira Marques, cofundadora do baile, DJ e produtora cultural. 

mulher de tranças e óculos escuros

Bart é cofundadora do Baile Dasmina

©arquivo pessoal

Desde então, o Baile Dasmina só cresceu. Já foram mais de 30 edições, incluindo festas noturnas e eventos de rua. Um dos objetivos da iniciativa é apresentar novos nomes da cena do rap e trazer artistas de todo o país para se apresentarem nas festas. Já passaram pelo baile nomes como Brisa Flow, Cris SNJ, Afreekassia, Cristal e DJ Brum. Entre os planos para o futuro está o de levar o evento para outras cidades.

Bartira Marques, que adotou o nome artístico Bart, se formou como DJ a partir do Baile Dasmina. “Nós organizamos os eventos e precisávamos de alguém para iniciar a pista, então eu comecei a aprender a discotecar para abrir o baile, e acabou virando minha profissão, já consegui viajar bastante pelo país sendo DJ”, conta.

Mesmo tocando em diferentes eventos, discotecar no baile que ajudou a fundar tem um gosto especial para Bart. “É como fazer uma janta em casa, para receber os amigos e colocar as músicas que todo mundo vai curtir”, explica.

O público, majoritariamente feminino, abraçou a ideia do baile desde o início. Já as situações de assédio são cada vez mais raras nas edições do evento. “Se tornou algo clássico, as pessoas sabem que o Baile Dasmina é aquele que tem pessoas que já vão há anos, a gente consegue reconhecer o público, as pessoas realmente curtem”, diz.

GALERIA 1/3

O Baile Dasmina foi criado por quatro amigas © divulgação / Baile Dasmina

Baile da protagonismo às mulheres do rap © divulgação / Baile Dasmina

O baile foi criado em 2016 © divulgação / Baile Dasmina

Outro aspecto que Bart aprecia é receber artistas de diferentes lugares para tocarem no baile, o que permite ter uma troca de vivências e experiências. Ela conta que, no início, por falta de grana para hospedagem, recebiam os convidados em casa.

Segundo Bart, o baile foi um movimento importante na cena de rap da cidade de Pelotas, pois fez com que as rappers e DJs mulheres se tornassem mais conhecidas e fossem convidadas para outras festas e eventos.

A iniciativa contribui também para desmitificar a ideia de que não há artistas negros no sul do país. “No Rio Grande do Sul, enfrentamos um processo de apagamento cultural muito forte, tanto para as mulheres quanto para os pretos; a cultura local da música gaúcha é extremamente racista e machista”, afirma.

“Quando olhamos pra cá, vemos mulheres e pessoas pretas tentando se afirmar porque viemos dessa construção colonial, mas sempre estivemos aqui. O batuque, o swing e a cultura preta sempre estiveram aqui. Mas isso não é contado”, continua.

Bart se sente grata pelo movimento que ajudou a criar, diz que deve ao Baile das Mina a artista que é hoje. Entende que a iniciativa contribui para o enfrentamento ao assédio, promoção da igualdade de gênero e incentivo às mulheres que estão começando no meio do rap.