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Maestrina do bloco Agora Vai desafia o machismo no carnaval

Conduzindo a Bateria Dengosa há 10 anos, Victória compartilha sua trajetória e destaca a importância da presença feminina nos espaços carnavalescos.

Por Mariana Oliveira

30|01|2024

Alterado em 31|01|2024

O carnaval é mais do que uma simples festa para Victória dos Santos, integrante de uma família apaixonada pela celebração anual. Seus pais Carlota Joaquina e Eduardo Alves, ambos atores de teatro, compartilhavam essa paixão, resultando na fundação, em 2004, do bloco carnavalesco Agora Vai.

Localizado na Barra Funda, zona oeste da cidade de São Paulo, local conhecido como “o berço do samba”, por reunir os primeiros grupos de sambistas da capital. Na época Victória era apenas uma criança, mas à medida que crescia, via o bloco aumentar de proporção.

Percussionista, musicista, cantora e atriz, Victória assumiu o papel de maestrina da Bateria Dengosa em 2015. Esta posição almejada ao longo de sua trajetória no bloco surpreendeu-a com uma proposta irresistível, aceita imediatamente. “Sempre toquei em casa, e na adolescência decidi que seria musicista. Comecei a estudar violão, canto e a participar de grupos de teatro. À medida que ganhava confiança na bateria, as pessoas ao meu redor me incentivaram muito, e eu assumi”, recorda, com nostalgia.

O mestre de bateria é responsável por liderar a marcação do ritmo durante as apresentações da bateria de uma escola de samba. Geralmente ocupada por homens ex-ritmistas da própria escola. Victória é a segunda mulher a liderar a posição no Agora Vai, sendo a mestra Adriana Aragão  sua predecessora e uma de suas maiores referências.

Muitas mulheres me inspiram. Eu só sou quem sou por conta delas. Principalmente minha mãe, uma mulher negra, periférica e atriz de teatro que não veio da faculdade. Ela é minha primeira inspiração.

Apesar do protagonismo, Victória confessa que lidar com o machismo é inevitável, e seu maior questionamento está relacionado à credibilidade de sua liderança. “É muita responsabilidade e os homens não respeitam. Existem muitos aliados, mas a grande maioria dos homens demonstra uma resistência absurda em aderir uma ideia. Não temos colher de chá ao chegar em uma roda de samba, eles ficam em cima de você. Isso não é fatal, é horrível, mas não é fatal. Eu comecei errando, sem saber tocar direito e também fui estudar”. Avalia que se fosse um homem suas sugestões e decisões na bateria não seriam questionadas.

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©Mariana Oliveira

Para um futuro próximo, Victória espera uma maior movimentação e conscientização dos homens, visando verdadeiras mudanças e comportamentos anti-machistas. “Eles têm que trabalhar um pouco também. As mulheres estudam, cuidam das coisas da vida, temos que trabalhar dobrado para estar nos espaços, e quando chegamos sofremos muita resistência”, revela. Apesar do machismo ser uma realidade presente neste meio, ela encoraja mulheres a conquistarem seus lugares nos blocos.

Eu digo para elas terem coragem. Os homens vão comentar se você estiver fazendo bem ou mal. Mas tenha coragem de errar, só o fato de estarmos tentando já é uma conquista.

Em 2024, o Agora Vai celebra 20 anos de existência, e Victória expressa orgulho em fazer parte da história de um coletivo tão importante para sua família. Além disso, destaca como o Carnaval representa um exercício social coletivo e de libertação, onde se pode exercitar a liberdade corporal. “É um espaço onde a gente pode brincar de ser o que a gente é. Precisamos do lúdico para viver, viver sem ludicidade, sem cor, sem glitter, sem música, sem grito é viver para morrer”, finaliza a maestrina.


Conteúdo publicado originalmente no Expresso na Perifa – Estadão