Em fotoperformances, artista Terezinha Malaquias registra seu ‘entardecer’
Terezinha Malaquias vive na Alemanha e retorna ao Brasil para lançamento de livro e exposição
Por Beatriz de Oliveira
05|12|2023
Alterado em 05|12|2023
Insatisfeita com a falta de visibilidade de mulheres negras nas artes, a multiartista Terezinha Malaquias criou, em 2017, um projeto de fotoperformances, no qual durante dois anos tirou uma foto sua por dia durante dois anos. As imagens foram publicadas em seu perfil no Instagram. As fotos estão disponíveis em exposição, mas a artista não pôs fim à iniciativa. “Eu estou num processo de entardecer, como eu gosto de chamar, envelhecendo, eu quero continuar com esse projeto e postar o meu entardecimento”, afirma.
Vivendo desde 2008 na Alemanha, Terezinha Malaquias retornou ao Brasil neste mês de novembro para lançar a sua exposição de fotoperformances “Olhe Para Mim … Schau Mich An …” e seu livro “Banzo e Afetos”.
A vivência da artista como mulher negra é expressa de forma natural em sua arte, incorporando elementos que destacam sua negritude e a importância de sua família em seu processo criativo. Questões relacionadas à violência, racismo, ancestralidade e cotidiano são recorrentes em suas obras.
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Terezinha Malaquias se descobriu artista ainda criança. É natural de Frutal, interior de Minas Gerais, onde viveu dos cinco aos 10 anos de idade em uma fazenda, e foi alfabetizada pela irmã mais velha. Aos 11 anos, quando já frequentava a escola, a professora leu um de seus escritos e lhe disse que aquilo era poesia.
Terezinha Malaquias descobriu sua vocação artística ainda na infância, quando morava em uma fazenda em Frutal, interior de Minas Gerais. Sua alfabetização foi conduzida pela irmã mais velha, e aos 11 anos, ao ter um de seus escritos reconhecido como poesia por uma professora, iniciou sua trajetória como multiartista.
Com o uso de diversas formas de expressão, como performance, vídeo arte, desenho, pintura, bordado, instalação artística e escrita criativa, Terezinha se tornou uma figura significativa na cena artística brasileira. Seu primeiro trabalho em 1992, como modelo vivo na Pinacoteca do Estado de São Paulo, foi o ponto de partida para uma carreira marcada por performances impactantes, como “Cálice-cale-se” (2014), que aborda a ditadura civil-militar como genocídio da população negra, e “Eu posso perguntar” (2017), que explora sua condição enquanto artista negra imigrante na Alemanha.
Na esfera literária, cita três mulheres escritoras como referências: Adélia Prado, Conceição Evaristo e Ryane Leão. “São mulheres de diferentes épocas, mas dialogam comigo de maneira impactante. Elas trabalham nas escritas as questões do cotidiano e das vivências. As linguagens são diferentes, mas eu vejo similaridades nelas”, pontua.
Além de suas realizações artísticas, Terezinha é autora de livros infantojuvenis como “Do Jeito da Gente” e “Menina Coco”. Seu mais recente trabalho, “Banzo e Afetos”, lançado neste ano, reúne crônicas, contos e poemas inspirados em sua experiência durante a pandemia da Covid-19.
“É um livro de homenagem e agradecimento a minha ancestralidade, em que eu trato dos afetos e dos amores. Estamos vivendo num mundo cada vez mais doente e caótico, então em Banzo e Afetos eu quis construir um tempo de pausa. Pausa para um café”, afirma.
Serviço
Exposição “Olhe Para Mim … Schau Mich An …”
Em cartaz até 12 de dezembro
Instituto Sarath (Rua Eça de Queiroz, 346 | Vila Mariana – SP) | Visitação de terça a sábado, das 10h às 19h | Entrada gratuita