Rap é meio de cura e fortalecimento, diz rapper Boombeat
A artista tem letras marcantes sobre empoderamento e vivência da comunidade LGBTQIAP+.
Por Beatriz de Oliveira
10|08|2023
Alterado em 10|08|2023
Boombeat trilha sua trajetória no rap rimando sobre empoderamento e a vivência da comunidade LGBTQIAP+. Ela entende que, ao escrever sobre si, atinge individualidades do público. Suas letras fazem parte de um processo de cura e de uma projeção para o futuro. No dia da entrevista, ela contou que vive agora o início de sua nova era como cantora solo.
O gosto por música e composição acompanham Boombeat desde a infância, aos sete anos de idade já escrevia algumas letras. Quando completou 15 anos, lembra de assistir a um show e sentir que era aquilo que queria fazer durante a vida: cantar.
Um tempo se passou até que sua amiga, a rapper Bivolt, a levou para as batalhas de rima. Boombeat foi conhecendo mais a fundo o movimento hip hop e se percebeu como artista nesse espaço.
“A partir disso, tudo começou a rolar, eu entendi que o rap fazia parte de mim e me ressignifiquei nesse lugar da poesia e da rima”, conta.
Boombeat rima vivência da comunidade LGBTQIAP+
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Seu primeiro single foi Guerreiros e Guerreiras, em que aborda as feridas causadas pela LGBTfobia. A letra reflete sua própria vivência, como no trecho “Mil sentidos numa dor e uma vida/ Música cura ferida”. Para Boombeat, a música foi uma direção que lhe permitiu prosseguir mesmo diante das violências cotidianas.
Nascida em Bauru, interior de São Paulo (SP), a rapper viveu uma infância conturbada, com abandono materno, pai alcoólatra e problemas financeiros. “Existem várias questões que só entendi depois de um tempo, sobre as minhas inseguranças, medos e traumas. Eu sempre fui uma criança muito forte”, relata.
A música me deu um rumo, se eu não tivesse a música como direção, acho que teria me perdido. Faço música para me curar num lugar do presente, para me projetar no futuro.
Boombeat
A nova era de Boombeat
Entre 2018 e 2023, Boombeat fez parte do Quebrada Queer, primeiro grupo de rap LGBTQIAP+. O coletivo marcou presença na cena do hip hop com o EP Ser, de 2018, que contou com participação de Hiran e Gloria Groove. Produziram também o álbum HoloForte, de 2022, com 10 faixas.
Em 2021, a artista, que até então se apresentava como homem gay, revelou ao público que estava transicionando e se identificava como mulher trans. Seu álbum Bárbara veio no ano seguinte, no que ela define como um experimento de um momento em que ainda buscava se entender como travesti.
Boombeat compõe e canta para se curar e se fortalecer.
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“Bárbara veio num lugar de urgência, em que eu precisava colocar minha arte pra fora, para que as pessoas entendessem que Boombeat é uma travesti. Eu estava num momento muito difícil quando fiz o álbum, muito depressiva, mas a arte conseguiu sair de alguma maneira, eu estava gritando por autoestima”, conta.
Questionada sobre o cenário ainda machista do rap, a cantora afirma que entende que teve menos oportunidades enquanto mulher trans, mas enxerga barreiras em toda a sociedade.
O rap é apenas um dos lugares em que a nossa entrada é mais difícil. Mas, pensando num todo, por ser arte, a nossa entrada se torna um pouco mais possível do que em outras áreas do mercado de trabalho.
Boombeat
Seu mais recente lançamento, de junho de 2023, é a música Borboleta, em que narra sua trajetória enquanto travesti e rima pelo empoderamento da comunidade trans. “É só o comecinho dessa nova era”, diz a rapper sobre a faixa que marca o início da sua carreira solo.
Boombeat compõe e canta para se curar e se fortalecer. “Eu quero contar a minha história através da minha música, e, naturalmente, ela vai cruzar a vida de outras pessoas. Não em um lugar de representatividade, mas de referência sobre coisas que eu vivo, que podem cruzar outros corpos, até mesmo não trans”, pontua.