Justiça climática também é assunto na quebrada

Amanda Costa, nova colunista do Nos, mulheres da periferia, compartilha sua história, reflexões e percepções sobre a crise climática

06|07|2023

- Alterado em 13|07|2023

Por Amanda Costa

Bom, deixe-me me apresentar: meu nome é Amanda Costa, sou ativista climática, diretora executiva do Instituto Perifa Sustentável e Jovem Conselheira do Pacto Global da ONU. Reconheci-me como ativista pelo clima há 7 anos e desde então tenho lutado profundamente para racializar o debate socioambiental. Afinal, não podemos mais ter apenas homens brancos heterossexuais cisgêneros, que nunca pisaram em uma favela, quilombo ou aldeia indígena, protagonizando essa discussão, certo?

Eu comecei nesse rolê em 2017, quando recebi uma bolsa para participar da COP 23, Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, que aconteceu em Bonn, na Alemanha, em parceria com as Ilhas Fiji. Foi uma viagem muito louca! Tive que lidar com a síndrome da impostora, diversos perrengues financeiros e uma sensação constante de “não estar preparada”.

Lembro-me que assim que pisei naquele espaço, outro incômodo muito grande bateu forte no meu peito. Olhei para as pessoas que estavam ali e me questionei: onde estão as pessoas que se parecem comigo aqui? Cadê as jovens mulheres pretas e periféricas participando da discussão climática?

Pois é, minha querida leitora. Naquele momento, a discussão sobre clima estava muito branqueada, rica e distante da periferia.

Apesar de todos os desconfortos, senti-me chamada pela causa e, assim que voltei para o Brasil, me inscrevi como voluntária no Engajamundo e passei a coordenar grupos de jovens interessados em discutir a implementação da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável em seus territórios. Conversa vai, conversa vem, participei de algumas ações de ativismo, faço advocacy (pressão política) no Congresso, vejo pequenos avanços na pauta, mas um sentimento ainda era constante para mim: eu ainda me sentia super deslocada na pauta!

Muitas leitoras vão me entender: sabe quando você entra em um espaço e percebe que é a única mulher negra daquele ambiente?

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Quando você entra em um espaço e percebe que é a única mulher negra daquele ambiente.

©World YMCA

O sentimento de deslocamento e solidão era gigante, e eu não conseguia parar de pensar no que eu poderia fazer para envolver mais pessoas pretas, principalmente as mulheres da Brasilândia, no debate climático. De repente, tive uma ideia: decidi criar um projeto para falar de clima, meio ambiente e sustentabilidade na periferia, chamado Perifa Sustentável. Hoje, tenho a honra de dizer que aquele sonho distante se tornou um instituto liderado por três mulheres pretas, focado em educomunicação, ações territoriais e advocacy climático.

Mahryan Sampaio, Gabriela Alves e eu estamos engajadas na missão de combater o racismo ambiental e promover a justiça climática.

Talvez esses termos sejam novos para você, mas calmaaaaa, é só chegar juntinho que vou explicar:

Racismo ambiental: forma de discriminação e que coloca comunidades marginalizadas em áreas expostas a riscos ambientais desproporcionais devido a raça ou etnia.

Justiça climática: busca por equidade e igualdade na distribuição dos impactos das mudanças climáticas, considerando as desigualdades sociais, econômicas e raciais.

Uma coisa precisa ficar bem escura: a crise climática vai impactar todo mundo, mas não na mesma proporção. Nós, mulheres da periferia, já sentimos os impactos da mudança do clima no dia-a-dia, seja com alagamentos, deslizamentos, desabamentos, desabastecimento de água ou queda de energia.

Precisamos nos unir, ampliar a discussão entre as nossas e cobrar políticas públicas efetivas para a favela, quebrada e periferia!

Este breve artigo foi apenas o meu OLÁ, voltaremos a falar em breve, minha querida lindeza climática <3

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.