Câncer de colo de útero: teste molecular pelo SUS pode antecipar diagnóstico
Conversamos com a ginecologista oncológica Ailma Larre sobre essa doença, que mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil, e as estratégias para preveni-lo e combatê-lo
Por Amanda Stabile
31|03|2023
Alterado em 31|03|2023
Na última quarta-feira (22), o Ministério da Saúde lançou a Estratégia Nacional de Controle e Eliminação do Câncer Cervical, iniciativa para combater o câncer de colo de útero – como também é conhecido. Causado pelo HPV (Papilomavírus Humano), vírus sexualmente transmissível para homens e mulheres, a doença mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil e é a principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe.
A novidade da estratégia é a previsão de que o teste molecular para detecção do HPV seja incluído no Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse teste, especialistas têm acesso a resultados mais completos e são capazes de identificar o DNA de diferentes tipos de HPV, o que auxilia no combate à doença antes mesmo de se observar sintomas físicos ou danos nas células.
“O teste molecular é usado em outros países e já foi comprovado que ele é eficiente. Essa iniciativa é muito importante e é um avanço na prevenção do câncer de colo”, aponta Ailma Larre, ginecologista oncológica. “Toda mudança passa por uma fase de transição e é necessário preparar a equipe de profissionais da saúde e a população. Temos uma alta incidência de câncer de colo. O uso do teste molecular vai identificar a população que tem alto risco para esta doença”.
Estratégias anteriores
Antes dessa iniciativa, o sistema público brasileiro já oferecia duas estratégias para prevenir o câncer de colo de útero: a prevenção primária, por meio da vacina contra o HPV, que evita que a doença apareça; e a prevenção secundária, por meio do exame preventivo de colo de útero, conhecido como “papanicolau”, que garante o diagnóstico precoce.
O SUS iniciou a campanha de vacinação contra o HPV em março de 2014, imunizando meninas de 11 a 13 anos. Essa faixa etária foi variando ao longo dos anos e hoje atende meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Homens e mulheres de 9 a 45 anos, que vivem com HIV, tenham transplantados órgãos ou medula óssea, sejam pacientes oncológicos ou que tenham o sistema imunológico enfraquecido (imunossuprimidos), também podem se vacinar.
“A nossa cobertura vacinal ainda é baixa e muitas mulheres dos 25 aos 64 anos não fazem o preventivo regularmente. Precisamos orientar a população a respeito destas duas formas de prevenir o câncer de colo e outras doenças pelo HPV”, alerta a médica .
Outras iniciativas
A ginecologista ainda defende outras estratégias importantes para a prevenção da doença. Dentre elas, a volta da vacinação nas escolas, com uma abordagem humanizada e bem planejada. “É necessário ouvir os pais e adolescentes, esclarecer as dúvidas, conversar sobre a importância da vacina”, aponta.
Segundo ela, também é necessário estender a vacinação pelo menos até os 26 anos de idade e convocar as mulheres entre 25 e 64 anos para realizarem o exame preventivo, que não é feito por 52% das mulheres, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
A médica ainda explica que é preciso identificar os resultados alterados e fazer uma “busca ativa” das mulheres que precisam de tratamento, além de melhorar a assistência às mulheres com doenças causadas pelo vírus, conhecidas como “lesões pré-cancerosas”.
“Algumas lesões pelo HPV são externas, como as verrugas. Mas as lesões mais graves acontecem no colo do útero, não conseguimos ver estas lesões. As lesões ‘pré-câncer’ e o câncer de colo inicial geralmente não causam sintomas. Por isso o exame preventivo é tão importante, ele pode dar o diagnóstico quando a doença está começando”, explica.
Fique atenta
Além dessas estratégias, a nível pessoal é preciso usar camisinha, já que esse e outros vírus são transmitidos sexualmente. Dentre os sintomas comuns da infecção pelo HPV estão coceiras, verrugas de vários tamanhos nos órgãos genitais, na pele ao redor e até na boca e na garganta.
“Quando o tumor cresce, pode causar sangramento após a relação sexual, dor, e ‘corrimento’ vaginal com cheiro muito forte”, alerta a ginecologista. “O tratamento desta doença pode causar sequelas físicas e emocionais que mudarão para sempre a vida das mulheres”, conclui.
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