O que você, mulher, fez pela primeira vez depois dos 30 anos?
A artista plástica Isabela Mota transformou em livro e podcast as histórias de mulheres que realizaram sonhos após os 30 anos. Conheça o projeto “Travessias”
Por Mariana Oliveira
29|03|2023
Alterado em 10|04|2023
Movida pelo desejo de conhecer e contar a história de mulheres que se permitiram realizar algo por si mesmas pela primeira vez depois dos 30 anos, a artista Isabela Mota saiu nas ruas e estações de metrô na cidade de São Paulo (SP) com um cartaz escrito: “Procuro Mulheres que Sonham Futuros”. A aventura aconteceu durante o ano de 2022 e resultou em uma série de podcast com 20 episódios e um livro infantil.
Ao completar 30 anos, Isabela passou a questionar a repetição da própria rotina e das mulheres ao seu redor, que por vezes deixavam de lado os próprios sonhos, priorizando cuidar dos filhos, do marido, do trabalho. A inquietação resultou em um projeto contemplado pelo Edital de Fomento a Projetos Artísticos Culturais Descentralizados de Múltiplas Linguagens para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura. “Em que momento olhamos para nossos desejos e para o que nos move de fato? Comecei a conversar com mulheres e perguntar se elas se imaginam no futuro com 70, 80 anos. Se tinham sonhos ou fizeram algo pela primeira vez depois dos 30 anos”.
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Isabela ouviu mais de 100 mulheres, registrou cada depoimento e compartilhou no mural virtual Travessias: Procuro Mulheres que Sonham Futuros. Mas era preciso sair do formato de website, por isso, reuniu as histórias em um livro infantil, o Travessias (Independente, 2023). “Não coube tudo que eu gostaria, mas tem muita coisa para inspirar crianças a imaginarem as mulheres de forma diferente”.
O lançamento do livro aconteceu no dia 18 de março, na Biblioteca Pública Sérgio Buarque de Holanda e na Oficina Cultural Alfredo Volpi, ambos em Itaquera. Na ocasião, houve distribuição gratuita do livro e um sarau, em que algumas mulheres-personagens se apresentaram e contaram de sua relação com a própria idade, seus sonhos e o que as levou entrar no desafio proposto por Isabela.
Travessias: Conheça as mulheres que sonham futuros
Kelciane Campos
Kelciane Campos e a boneca Genoveva durante lançamento de “Travessias”.
©@wilsondmonticelli
“Essa é a minha primeira apresentação, eu queria montar uma cena relacionada com a vida da Carolina Maria de Jesus, retratando a fome e o que alimenta a alma. Não é possível que as pessoas achem que a vida acaba porque estamos envelhecendo. Ver que outras mulheres também estão iniciando coisas me dá um acalanto, eu senti um aconchego em saber que não sou só eu que estou atravessando (em referência ao título do livro de Isabela)”.
Kelciane aprendeu a produzir e manusear bonecas híbridas (uma espécie de fantoche em que metade do corpo da artista dá vida à boneca) em um curso em 2016 e durante o lançamento de Travessias.
Kelly Marques
Apresentação de Kelly no sarau de lançamento do “Travessias”.
©@wilsondmonticelli
“Acho importante a ideia de pensar no que você faz para si além do trabalho, obrigações diárias ou cuidar de alguém. Não que essas coisas não sejam importantes, mas são sempre atribuições voltadas à mulher. Me lembrei do caso das meninas que julgaram a mulher que com 44 anos estava entrando na faculdade, como se ela tivesse passado do tempo para cursar”.
Kelly, começou a cantar forró aos 30 anos e se sentiu representada quando encontrou na internet o projeto de Isabela.
Nanda Guedes
A sanfoneira Nanda Guedes lança seu primeiro disco, após 15 anos de carreira.
©Instagram / @nandaguedesoficial
“Estamos sempre no auge da nossa vida, mas por que não vivemos o agora? Por que não cuidamos de nós mesmas, nos permitindo mais?”.
Nanda é sanfoneira, cantora, compositora e multi instrumentista. A nordestina, embora com mais de 15 anos de carreira, lançou seu primeiro disco autoral, “Um canto para elas”, após os 30 anos, em 2021.