Candidatas negras para ficar de olho nas eleições 2022

Instituto Marielle Franco e Mulheres Negras Decidem apoiam 27 lideranças negras pré-candidatas a Deputadas Estaduais nas eleições de 2022

Por Redação

08|09|2022

Alterado em 08|09|2022

Apenas 2% das cadeiras do Congresso Nacional são ocupadas por mulheres negras, apesar desse grupo representar 28% da população brasileira. Esse é um dos dados alarmantes do relatório Desigualdade de Raça e Gênero Política Brasileira, produzido pela Oxfam Brasil e o Instituto Alziras, publicado recentemente.

O Congresso Nacional, composto pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, representa a sede do poder legislativo do Brasil. É lá que os senadores e deputados federais eleitos propõem, analisam, discutem, votam e aprovam as leis que regem o dia a dia de todos os brasileiros.

Conscientes dessas desigualdades, para qualificar o debate público e contribuir para o entendimento da urgência de haver mais mulheres negras ocupando espaços de decisão na política institucional, o Instituto Marielle Franco e o movimento Mulheres Negras Decidem criaram o projeto Estamos Prontas.

“Vivemos um cenário de violência política de gênero e raça e é importante usar essa nomenclatura quando estamos falando sobre mulheres negras na política”, aponta Fabiana Pinto, coordenadora do projeto e também da área de Incidência e Pesquisa no Instituto Marielle Franco. 

“Isso se dá de uma forma distinta e com o objetivo de afastar não só aquela pessoa, candidata/o ou parlamentar, mas no intuito de afastar um grupo do poder, para dar um recado“, alerta. Para mudar esse cenário, o Estamos Prontas apoia 27 lideranças negras,  pré-candidatas a Deputadas Estaduais nas eleições de 2022, de diversas regiões do país. 

“Além de serem mulheres negras, que são lideranças coletivas em seus territórios, elas têm em comum o fato de estarem organizadas de forma coletiva, em movimentos sociais, organizações e coletivos dos seus próprios territórios. Além disso, também têm em comum o fato de todas serem mulheres feministas negras, com uma pauta antirracista sólida”, aponta Fabiana.

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“São mulheres feministas e com uma pauta antirracista sólida”, afirma Fabiana

©Arquivo pessoal

Durante a seleção das lideranças que seriam apoiadas pelo projeto, a coordenadora conta que vivenciaram desistências de candidaturas muito relevantes para a luta das mulheres negras, trans e travestis porque não tinham a mínima condição de segurança para entrar nessa disputa. 

“Então foi dessa forma que a violência política impactou esse cenário eleitoral. Isso é importante apontar porque por mais que a gente esteja comemorando um aumento de candidaturas negras, tanto de mulheres quanto de homens, a minha leitura é que isso ainda está muito aquém do que nós poderíamos ter”, pontua.

Para conhecer todas as lideranças e acesso o site . Aqui,  o Nós, mulheres da periferia traz a entrevista com três candidatas que fazem parte da lista.

Débora Marcolino

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Candidata à Deputada Estadual pelo estado de Alagoas

©Divulgação

Mulher negra, mãe e avó, assentada da reforma agrária, agricultora, estudante no curso bacharelado em Agroecologia e militante do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]”, é assim que a candidata à Deputada Estadual de Alagoas Débora Marcolino se define.

Sua trajetória na militância começou em 1997, quando ingressou no MST. Já no ano seguinte, se filiou ao PT (Partido dos Trabalhadores). Anos depois, em 2016, decidiu disputar espaço na política institucional, por não se ver representada neste lugar. Se candidatou duas vezes a vereadora no município de Flexeiras (AL).

“Estou na luta para dizer que basta que as pessoas falem por nós, quem tem que falar somos nós, mulheres negras, periféricas e defensoras da classe trabalhadora”, destaca. 

Entre as pautas mais defendidas por Débora Marcolino estão a soberania alimentar, agroecologia, reforma agrária e contra os agrotóxicos.

Elaine Cristina

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Candidata à Deputada Estadual pelo estado de Pernambuco

©Divulgação

A luta pela legalização do cultivo doméstico da cannabis medicinal se tornou uma bandeira para Elaine Cristina quando conseguiu usar o elemento no tratamento de seu filho, que sofre com crises epiléticas. A pernambucana se tornou a segunda mulher do nordeste a conseguir esse direito.

Com o objetivo de viabilizar o mesmo para outras mães, ela é articuladora do coletivo Mães Independentes e constrói a Marcha da Maconha de Recife. A decisão de se candidatar veio pelos enfrentamentos vivenciados no cotidiano.

“Só quem sabe é quem vive, e foi vivendo o dia a dia de uma mulher mãe atípica periférica que senti na pele as dificuldades de uma cidade que não é projetada pra nós, para os nossos. Então decidi brigar, dar voz e rosto e defender nossos direitos de termos uma cidade digna e de bem viver para nós mulheres mães, crianças, juventude, idosos”, afirma. 

Elaine se define como uma mulher preta, periférica e mãe atípica. Mora na comunidade Roda do Fogo, na cidade de Recife. Além do uso da cannabis medicinal, suas principais causas são: creches e escolas inclusivas e acessíveis, atendimento digno de saúde e terapias para crianças atípicas, programas que cuidem da nossa juventude e valorize seus talentos e rede de apoio para a população LGBTQIA+.

Maria Rosalina Santos

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Candidata à Deputada Estadual pelo estado do Piauí

©Divulgação

Maria Rosalina iniciou sua militância ainda na adolescência, por meio da catequese no quilombo Tapuio, em Queimada Nova, no Piauí, onde mora até hoje. Lá, recebeu o apelido de “Maria do Povo” que pegou e é usado até hoje. Já foi coordenadora na Pastoral da Juventude, fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de seu município e foi presidente por três mandatos.

“Ampliando a minha militância sindical, comecei a participar também da vida política partidária, além da vida política social, por entender que muitas ações que a gente defendia como movimento social se efetivavam na política partidária e que, muitas vezes, por não ter essa voz ativa, ocupando esse espaço de decisão, a nossa luta ficava em vão”, explica.

De lá para cá, Rosalina foi prefeita de Queimada Nova por dois mandatos e candidata à deputada estadual em 2014 e 2018. Hoje, é Coordenadora executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Brasil (CONAQ), membra da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ) e secretária de formação do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores.

Dentre as principais causas que defende, estão os direitos dos quilombolas e das mulheres, a inclusão social, a justiça ambiental e a territorialidade. “A territorialidade, para mim, vai além da terra. A terra é o espaço onde se vive, onde tem os nossos costumes, as nossas tradições, os nossos valores. Ou seja, é um lugar sagrado, um lugar de vida, por isso tem que ser defendido”, conclui.