Encorpadas: um espaço de cuidado e acolhida para mulheres gordas

As inscrições para participação do Encorpadas estão abertas até 20 de outubro. Os encontros, virtuais e gratuitos, acontecem de 24 de outubro a 12 de dezembro. Saiba mais!

Por Jéssica Moreira

09|10|2020

Alterado em 09|10|2020

Colocar o corpo da mulher gorda como protagonista. Essa é o principal objetivo do projeto Encorpadas – grandes, largos, políticos: corpos gordos, idealizado pela fotógrafa e artivista cultural Mari Moura, que irá utilizar fotografia de autorretrato para fortalecer o processo de amor próprio entre mulheres gordas, a partir de oficinas e uma exposição coletiva e virtual.

São 15 vagas gratuitas para mulheres gordas acima de 18 anos, com prioridade para aquelas que também sejam transgêneras, negras e LGBTQIAP+. Não é necessário ter experiência prévia com fotografia. Os encontros serão realizados de 24/10 a 12/12, sempre aos sábados, das 15h às 16h30. (Faça aqui sua inscrição até 20 de outubro).
“A ideia é visibilizar um corpo que está muito acostumado a não ter visibilidade. Um corpo que está sempre à margem, sempre renegado e não é valorizado”, aponta a criadora do projeto, que enxerga de maneira crítica os padrões de beleza associados à magreza.
“Por ser uma mulher gorda e entender que corpos gordos são lindos, e que a gente precisa muito dessa valorização, eu pensei em uma exposição de autorretratos de mulheres gordas. Autorretrato porque são as próprias mulheres se olhando e entendendo que o corpo delas, que é a nossa casa, merece a nossa atenção, nosso amor e carinho”.

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Mari Moura ressignificou seu corpo por meio da fotografia/Créditos: Meire Ramos

©Arquivo pessoal

Uma construção de amor ao próprio corpo

A ideia partiu de uma inquietação que acompanha Mari desde 2012, quando a artista viveu um processo de emagrecimento. “Perdi uns 18 kilos. Percebi que, depois disso, muitas pessoas começaram a falar comigo. As pessoas mudaram comigo por conta do meu emagrecimento. Me encontravam na rua e diziam ‘está bonita’, associando a beleza ao emagrecimento. Me incomodava”.
De 2015 a 2016, a fotógrafa começou a engordar novamente. Em vez de tentar emagrecer, teve uma nova ideia: fotografar seu próprio processo de engordamento a partir de autorretratos. Eram imagens feitas com o celular e registravam o corpo dentro do cotidiano real, com dias bons e outros não tão bons assim.

“Registrei o meu corpo durante esses três anos, passando por uma fase de estar gordo, estar engordando. E de me reconhecer como uma mulher gorda, entendendo que não é uma fase. Minha gordura não é uma fase. Eu sou uma mulher gorda”

“Foi uma construção de amor ao meu corpo. Claro que não é mil maravilhas, a sociedade consegue muito nos oprimir e fazer com que a gente não se ame sempre. Mas estou conseguindo fazer um exercício de ir contra tudo isso e me amar”, afirma.

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Autorretrato de Mari Moura

©Arquivo pessoal


Sobre os encontros 
Na primeira etapa do processo, chamada de “Vivências Encorpadas“, as mulheres serão convidadas a participar de oito encontros virtuais (via zoom) com outras mulheres gordas para a realização de diversas oficinas.

Durante 2 meses serão realizadas rodas de conversa para troca de experiências, assim como workshops de fotografia de autorretrato, curadoria artística e coordenação de ensaio fotográfico à distância. A produção da iniciativa é realizada exclusivamente por mulheres, sendo protagonizada por mulheres gordas, que são 85% da equipe.

“São encontros para autorretrato, mas também para conversa, para que nós mulheres gordas falemos de nossas realidades e pesquise sobre o movimento gordo, a arte de pessoas gordas”, diz Mari.

Depois haverá uma seleção fotográfica para a live de abertura da exposição Encorpadas, que acontece em janeiro de 2021, com atividade de mediação das obras e depoimento das mulheres que integraram as atividades. As fotografias ficarão disponíveis no site do projeto, também com conteúdos de vídeo e texto sobre o processo de trabalho.
O projeto foi contemplado pelo edital de apoio à cultura, do Fundo Municipal de Cultura de Franco da Rocha. É uma idealização da artivista cultural gorda Mari Moura e a realização é do Conselho Municipal de Política Cultural de Franco da Rocha e Prefeitura Municipal de Franco da Rocha.

“A fotografia também pode ser utilizada de maneira política, contra a cultura do patriarcado, do machismo, do padrão de beleza, colocando as mulheres gordas e seus corpos no centro das discussões”, aponta.
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“A gente precisa falar de mulheres gordas e suas realidades, a gente precisa falar de todas as mulheres gordas, precisamos falar da gordofobia, precisamos falar de toda a opressão que as mulheres gordas sofrem”.