5 livros de mulheres negras indicados por Cidinha da Silva
A escritora Cidinha da Silva indica 5 obras de escritoras negras de diferentes países da África, como Camarões e Nigéria, e também do Haiti. Confira!
Por Jéssica Moreira
28|08|2020
Alterado em 28|08|2020
O Nós, mulheres da periferia bateu um papo com a escritora, editora e dramaturga Cidinha da Silva. Nascida em Minas Gerais, mas com andanças por todo o mundo, Cidinha já soma 17 livros já publicados em seus mais de 14 anos de carreira.
São obras dos mais diversos gêneros, marcadas por africanidades, orixalidades e ancestralidades. Mas a prevalência é da crônica, gênero que a acompanha desde os tempos de menina, quando descobriu na biblioteca da escola os escritos de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.
Possui também publicações traduzidas em diversos idiomas, como alemão, francês, inglês, espanhol e italiano e algumas de suas obras já estiveram em provas de importantes vestibulares nacionais, feito o da Unicamp (Universidade de Campinas) e USP (Universidade de São Paulo).
O papo, na íntegra, sobre a história de vida da escritora que já venceu o Prêmio Clarice Lispector, oferecido pela Biblioteca Nacional, com seu livro “Um Exu em Nova York”, você encontra aqui. Agora, deixamos você viajar com Cidinha por países como Moçambique, Camarões e Nigéria, conhecendo a literatura africana que inspira a escritora brasileira também em seus escritos. Confira!
O livro tem como pano de fundo Moçambique (África). A personagem principal, Rami, descobre que o marido tem várias amantes, quando inicia uma busca para dentro de si mesma, ao se comparar com as amantes do marido. Ela faz disso uma tentativa de lidar com as diferenças que lhe são simbolizadas pelas outras mulheres. A palavra Niketche se refere a uma dança do norte de Moçambique , que simboliza um tipo de ritual de amor e erotismo. É em primeira pessoa e se alterna entre bom humor e lirismo.
Chiziane é a primeira mulher moçambicana a publicar um romance no país e autora marcante também na vida e literatura de Cidinha da Silva. “Quando eu li esse livro, foi antes de publicar o meu primeiro livro (Cada Tridente em Seu lugar, em 2005). Eu lia o livro da Paulina e dizia assim, para mim mesma: ‘é isso aqui que eu quero escrever quando eu crescer, esse tipo de literatura que eu quero produzir’. Paulina Chiziane é uma autora definitiva na minha vida e esse livro, Niketche, é importante demais.”
A trama conta a história de Nnu Ego, filha de um líder africano, que é enviada como esposa para um homem no capital da Nigéria que estava determinada a realizar o sonho da maternidade, pois imagina que assim pode ser “uma mulher completa”. Porém, para realizar esse sonho, acaba se submetendo a condições precárias de vida, tendo que criar sozinha seus filhos. O livro mostra como ela luta pelas tradições de seu povo mesmo entre as adversidades.
“Eu sugiro às pessoas começar a leitura da Buchi por seus livros anteriores, que são “Cidadã de segunda classe” e “O Fundo do Poço”, porque se começamos por Alegrias da Maternidade, que é o livro mais maduro, a gente fica com uma certa frustração quando lê os outros, porque os outros são menos elaborados. Ela era uma escritora mais iniciante e com menos recursos. Sugiro que as pessoas leiam como uma trilogia de trás para frente, em termos de tempo de publicação, pois os dois que cito acima foram escritos primeiro”.
O romance narra a história da tribo Mulongo e o tráfico negreiro e a dizimação dos povos na costa da África no século 16. Ele foi escrito baseado em um relatório da Unesco de 2010 chamado “A lembrança da captura”, mostrando as lembranças do tráfico transatlântico.
“Esse livro é maravilhoso. Fala de uma memória que a gente aqui, nós, que estamos na diáspora, não temos, que é aquela de quando nossos ancestrais foram arrancados das vilas, das aldeias onde moravam, para serem escravizados aqui. A coisa é contextualizada em uma dessas situações. É um livro fantástico.
Em uma coletânea de 12 contos, a autora traz histórias em uma perspectiva feminina e aborda questões como maternidade, relação mãe e filhos, amadurecimento, feminilidade e violência. “Em cada conto eu tinha a sensação de que era uma escritora diferente, tanto são os recursos técnicos que ela tem para escrever. É um livro que me impactou muito”.
Reconhecido como um dos melhores livros do ano pelo New York Times, o livro “Adeus, Haiti” traz as memórias da própria escritora, Edwidge Danticat, que rememora sua vida no Haiti, já que a família havia migrado para os Estados Unidos quando ela tinha somente quatro anos. Ela resgata as lembranças da família, a infância próxima aos tios e também as tragédias que afetaram a família.
“Um livro autobiográfico, que fala sobre a migração da família dela para os Estados Unidos, mas aí a gente vai sabendo muita coisa do Haiti, que é uma realidade muito desconhecida por nós”.
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