10 referências à cultura negra nos desfiles do Carnaval 2022
Em São Paulo e Rio de Janeiro, escolas de samba reverenciaram cultura, religião e personalidades negras no Carnaval 2022.
Por Beatriz de Oliveira
26|04|2022
Alterado em 26|04|2022
Não faltaram momentos de reverência à cultura negra nos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2022, que ocorreram entre os dias 20 e 24 de abril em São Paulo e no Rio de Janeiro. Personalidades negras foram homenageadas em peso pelas agremiações, assim como religiões de matriz africana.
O Nós, mulheres da periferia selecionou dez referências à cultura negra no Carnaval 2022.
Confira!
Cultura iorubá
A escola de samba Portela, do Grupo Especial do Rio de Janeiro, representou a árvore de origem africana baobá, simbolizando a ancestralidade e a resistência do povo negro. A cultura iorubá foi reverenciada no carro abre alas, com a presença da Tia Surica, sambista da Velha Guarda da Portela. A escola homenageou ainda o seu presidente de honra Monarco, que faleceu no ano passado.
Sankofa
Foi com o enredo “Sankofa! Volte e pegue, Vai-Vai” que a escola de samba Vai-Vai, do Grupo Especial de São Paulo, desfilou no sambódromo. Sankofa é um ideograma de pássaro africano que ensina: “nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido”. A partir desse símbolo, a escola recupera o legado do império axante, estado pré-colonial da África Ocidental.
Sabedoria de Orunmilá
Saudando a sabedoria do orixá Orunmilá e a diáspora africana, a Paraíso do Tuiuti fez referência a homens e mulheres negras que fizeram história, como: Dandara e Zumbi dos Palmares, Mãe Stella, Nelson Mandela e Beyoncé. A escola carioca contou também com carros em homenagem ao Pantera Negra e às “Estrelas Além do Tempo”, cientistas negras da NASA que colaboraram na corrida espacial.
Orixá Oxossi
Oxossi, o orixá caçador que tem sob seu domínio o arco e flecha, foi o protagonista do desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. Com o enredo “Batuque ao Caçador”, os integrantes da escola carioca se apresentaram de cabeças raspadas, inclusive a rainha de bateria Giovanna Angélica, num ato de respeito ao orixá. Durante o desfile, um drone que simbolizava uma flecha voou pela avenida.
Orixá Exu
Com o samba-enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, a Acadêmicos do Grande Rio buscou desmistificar preconceitos sobre Exu, entidade que permite a comunicação entre humanos e orixás, e costuma ser associada ao diabo, no entendimento cristão. A rainha de bateria Paola Oliveira foi vestida de Pombagira, versão feminina de Exu.
Racismo ao chão
Um obelisco com a palavra “racismo” foi derrubado durante o desfile do Salgueiro. A cena faz referência aos protestos anitirracistas e a derrubada de estátuas em homenagem a escravocratas, que ocorreram em 2020 após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. Com o tema de resistência, a escola representou a religião de matriz africana umbanda e fez homenagens a nomes como Marielle Franco, Moïse Kalagambe, Haroldo Costa e Mary Marinho.
Contribuição intelectual, cultural e artística do povo preto
A Beija-Flor de Nilópolis também lembrou dos protestos antirracistas de 2020 e estampou os dizeres “Vidas Negras Importam”. A partir do enredo “Empretecer o pensamento é ouvir da voz da Beija-Flor”, a agremiação celebrou a contribuição intelectual, cultural e artística do povo preto que sofreu apagamento.
Homenagem a Carolina Maria de Jesus
A Colorado do Brás, escolheu a escritora Carolina Maria de Jesus para homenagear em sua passagem na avenida no carnaval de 2022. Com o enredo “Carolina – A Cinderela Negra do Canindé”, a escola contou a história desse nome importante na literatura brasileira. O desfile também foi o primeiro com uma rainha de bateria trans em São Paulo, com Camila Prins.
Tributo a Clementina de Jesus
Outra mulher negra homenageada nesse carnaval foi a cantora Clementina de Jesus. A Mocidade Alegre celebrou a história da sambista com o enredo “Quelémentina, Cadê Você?”. Em um dos momentos do desfile, a agremiação se ajoelhou para reverenciar a personalidade.
Homenagem a Cartola, Jamelão e Delegado
A Mangueira prestou homenagens aos sambistas Cartola, Jamelão e Delegado. A Verde e Rosa entoou o enredo “Angenor, José e Laurindo”, em referência aos nomes de batismo das três personalidades. O sambista Nelson Sargento, que morreu no ano passado, também foi lembrado no desfile.
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