Queixadas:

A greve de 7 anos

Conhecida como a maior paralisação da história sindical do país, a greve dos Queixadas ocorreu entre 1962 e 1969, durante a Ditadura Militar, em Perus, região noroeste da periferia de São Paulo. 

Sindicalistas da Companhia de Cimento Portland Perus paralisaram seus trabalhos e protestaram com a filosofia da não-violência. Pediam por melhores salários e condições de trabalho.

Os trabalhadores se autodenominavam Queixadas. Mamífero nativo das Américas, é um animal conhecido como porco-do-mato.

As mulheres foram essenciais para a greve. Protagonizaram a campanha “O pó de cimento esmaga a vida”, considerado um dos primeiros movimentos ecológicos do país

A população sofria com problemas respiratórios devido ao pó que a Fábrica de Cimento Portland Perus jorrava em todo o bairro.

White Frame Corner

Para combater esses problemas, donas de casa e saíram às ruas da região pedindo modernização dos filtros e mais saúde para suas famílias. 

Em meio a ditadura, o sindicato da Companhia de Cimento Portland Perus foi um dos primeiros a receber intervenção militar em São Paulo, em 1964. 

“Ao invés do decreto de encampação, porém, o que sobreveio foi uma intervenção policial contra os grevistas da Perus tão brutal que, em sua memória coletiva, o Golpe Militar de 1964 ficou gravado como um mal menor”

historiador Élcio Siqueira na dissertação Cia. Brasileira de Cimento Portland Perus: Contribuição para uma história da Indústria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987).

Inquéritos policiais contra os sindicalistas foram reativados, sendo eles tratados como criminosos. Como o sindicato estava sob intervenção, o contato coletivo com os trabalhadores em Perus ficou prejudicado.

Em Cajamar, o Padre Hamilton Bianchi, que apoiava a greve, facilitava os encontros dentro da Igreja. O apoio dos padres foi de extrema importância para muitos movimentos sociais.

“A gente não achava, a gente tinha certeza que o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social)  vigiava os padres  Matheus J. G. Vroemen, e Pedrinho (Pedro Steavens)”

Jandira Ribeiro, professora e moradora de Perus.

Desde 2019, mulheres do bairro vêm resgatando algumas memórias da greve por meio do Centro de Memória Queixada

Sebastião Silva

Entre as participantes está a jornalista Sheila Moreira, neta de Sebastião, um dos trabalhadores grevistas da fábrica, que até o fim de sua vida lutou pela memória dessa história. 

“Os Queixadas tinham noção que estavam em uma Ditadura. Eu não sei se ao pé da letra, uma Ditadura, mas eles sabiam que existia uma perseguição”

Sheila Moreira

Em 2022, completa-se 60 anos da ocorrência da greve dos Queixadas. Para marcar a data o Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento Perus realiza diversas ações  reunindo a cena cultural do bairro. 

Curtiu esse conteúdo? Compartilhe com a sua rede

Texto por: Beatriz de Oliveira