MARLI CORAGEM: símbolo da luta contra a violência do Estado

Nascida em 1954, na Favela do Pinto, no Rio de Janeiro, Marli Pereira Soares presenciou muitas violências em sua vida desde a infância.

Quando criança, a favela em que morava com a família foi alvo de um incêndio criminoso; e, aos 27 anos, em 1979, em plena ditadura militar, viu seu irmão, Paulo Pereira Soares, ser retirado de casa e, dias depois, encontrado morto, assassinado com três tiros.

“No dia que aconteceu, se pensasse no que já passei e no que ainda vou passar, acho que teria deixado só por conta da justiça de Deus. Mas senti aquela revolta: ver tirarem meu irmão de dentro de casa dormindo, espancarem na minha frente, na frente dos meus filhos, pouco adiante matar igual a um cachorro!", contou em uma entrevista a Revista Mulherio.

Marli viu os rostos dos acusados de matarem seu irmão que, segundo relatos, eram de um grupo de extermínio da região conhecido por ser composto por policiais militares. E aquele foi o primeiro dia de sua jornada por justiça.

Ela precisou ir dezenas de vezes à delegacia fazer reconhecimentos, até que passou a ir diariamente e começou a sofrer diversas ameaças. Então, ficou escondida por muito tempo.

14 anos depois, em 1993, seu filho Sandro, de 15 anos, também foi violentamente assassinado pela polícia. E, mais uma vez, Marli continuou sua luta contra a impunidade.

A imprensa a apelidou de “Marli Coragem” e ela ficou conhecida como símbolo de resistência, representando a força da mulher negra e periférica contra as injustiças e violências do Estado.

Sua história e trajetória de luta por justiça foi contada no livro Marli mulher : "tenho pavor de barata, de polícia não", lançado em 1981 e escrito por Maria Alice Rocha; Maria Teresa Moraes

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TEXTO: AMANDA STABILE