‘Vida de mãe pobre’: a vida de uma digital influencer na zona leste de SP

“A realidade sem filtros de uma mãe com pouco poder aquisitivo, um ser humano normal como você”.

Por Mayara Penina

19|04|2018

Alterado em 19|04|2018

Ela tem 22 anos, é mãe de uma menina de três anos e tem mais de 35 mil seguidores no Instagram. Esses são alguns dos números que contam um pouco da história de Bruna Pereira Gomes, autora do Instablog “Vida de mãe pobre”, que começou a tocar quando sua filha, Shaila,  ainda era recém nascida.  
Moradora da Cidades Tiradentes, extremo leste da cidade de São Paulo, Bruna entrou em um mundo que muitos dizem já estar saturado. São milhares de mães blogueiras. E tem mãe falando sobre tudo: há as ativistas da amamentação, de parto, há também aquelas que falam sobre alimentação, sobre literatura infantil e muitas que fazem humor com a vida real da maternidade.
Mesmo assim, Bruna sentia falta de mulheres com quem realmente se identificasse. “Todas as minhas amigas se sentiam mal ao ver as mães postando sempre produtos caros, elas sempre impecáveis e as crianças perfeitas”, relembra. Por isso, nasceu o Vida de Mãe Pobre, uma tentativa de mostrar os perrengues pelos quais passam as mães com pouco poder aquisitivo, mas que fazem o melhor que podem com o recursos que têm.

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Cama compartilhada cheia de amor!!
Por aqui não existe nem a possibilidade de cada um dormir em uma cama rs apartamento de cohab pequeno e com super lotação. Tem dias que quero respirar e não consigo com os dois em cima de mim. Quando é assim vou para outra cama mas sempre tem um que vai atrás ou os dois. Não tem jeito é muito amor.

©Vida de mãe pobre / Instagram


A profissão exclusiva de blogueira ainda não é uma realidade. Ela alia o trabalho de administrativo financeiro em uma empresa de turismo com a vida de digital influencer. São 35, 5 mil seguidores e muitas mulheres trocando experiências, aprendizados e dizendo o quanto Bruna é inspiradora. Sem medo de julgamentos ou de maquiar a realidade, ela faz vídeos ao vivo diariamente e stories (vídeos curtos, que desaparecem depois de 24 horas da sua publicação). Todos com muito engajamento da  audiência.
O puerpério, a falta de apoio, e a falta de tempo é comum a todas as mulheres pobres. Em entrevista ao Nós, mulheres da periferia Bruna deixa uma mensagem para as mães recém-nascidas:

Tenham rotina. Com a rotina é cansativo, mas sem ela nos sentimos perdidas e sobrecarregadas. Não deixe de se cuidar e nem se deixe de lado por conta da correria do dia a dia. Se coloque sempre em primeiro lugar. Quando ver que as coisas estão difíceis,  peça ajuda. Não hesite em pedir ajuda. Você não precisa ser forte o tempo todo.

A troca de experiências no Instagram acontece a todo vapor, mas a blogueira se preocupa com a exposição da família. “Minha família gosta do meu trabalho e não vê problema. Só pedem que eu filtre o que posto para não expô-los demais”

O nascimento da filha

A pequena Shaila nasceu na Casa de Parto de Sapopemba, centro de parto normal localizado na zona leste de São Paulo.
“Quando estava grávida comecei a pesquisar sobre os tipos de parto na internet. Até que fui pesquisar os preços dos particulares. Eu não tinha plano de saúde e descobri a violência obstétrica em hospitais públicos. Foi aí que coloquei na cabeça que queria ter parto humanizado e que queria na água como nos vídeos que eu assistia. Eu só tinha 19 anos e queria que minha filha nascesse do jeito que eu queria”.
Com esse relato, Bruna evidencia uma realidade cruel no Brasil, um dos campeões mundiais em realização de cirurgias cesarianas. São quase 90% de partos cirúrgicos na rede particular e 25% dessas mulheres são vítimas de violência: uma a cada mulheres relatam ter sofrido violência obstétrica. E “quanto mais jovem, mais escura, e mais pobre a mãe, maior a violência no parto.”


A Casa de Parto de Sapopemba é gerenciada em conjunto pela Supervisão Técnica de Saúde de Vila Prudente e Sapopemba e pela SPDM (Associação Paulista pelo Desenvolvimento da Medicina), em parceria com a Prefeitura de São Paulo. É um Centro de Parto Normal que atende desde 1998 as mulheres com gestação de baixo risco, independentemente do local de residência e do tipo de pré-natal: Sistema Único de Saúde (SUS), convênio ou particular. O atendimento é realizado por enfermeiras obstétricas, obstetrizes e auxiliares de enfermagem.


Bruna queria fugir disso.  “Achei a casa de parto, que é do SUS. Nem acreditei de tão feliz. Fui conhecer e tive a certeza de que era lá onde minha filha nasceria. Ela nasceu na madrugada do dia 3 de agosto de 2014”, relembra.

A relação com a publicidade

As mães blogueiras chamam a atenção das marcas não só pela quantidade de seguidores que têm, mas porque falam para uma audiência segmentada, portanto, rendem um tipo de publicidade mais assertiva do que a tradicional.

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“Coloca aquela cueca boxer, o top da época que malhava, passa aquela make bafonica caso o príncipe encantado bata na porta, não da pra estar cheirando Cândida e feia né”.

©Vida de mãe pobre / Instagram


De acordo com um estudo feito pela SocialChorus, campanhas com influenciadores podem ter um engajamento até 16 vezes maior do que a publicidade em outros meios de comunicação.  
Outra pesquisa feita pela Nielsen, empresa especializada no comportamento dos consumidores, mostrou que 90% dos clientes confiam na recomendação de outras pessoas para comprar um produto, enquanto apenas 33% se dizem influenciados por anúncios.
No “Vida de mãe pobre”, essa é ainda não é uma realidade muito presente. Mas Bruna já fez algumas parcerias para fazer tratamentos estéticos: “Já fiz bichectomia, e micropigmentação. Hoje em dia vou atrás de mais parceiros, antes eu não ia atrás, as empresas que normalmente me procuravam”, disse.
“Eu fico vendo tantas blogueiras que tem dinheiro recebendo coisas que poderiam pagar, as marcas poderiam mudar um pouco e olhar mais para as blogueiras menores, que realmente o produto faria diferença na vida delas”, brinca.
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