Coletivo busca financiamento para oficinas de audiovisual às mulheres da Colômbia

Mostrar o audiovisual como ferramenta de combate ao machismo na periferia de Bogotá (Colômbia). Este é um dos principais objetivos do coletivo Nós, Madalenas que, na última semana, lançou um financiamento coletivo para custear as despesas da viagem até o bairro periférico de Ciudad Bolívar, localizada na periferia de Bogotá, onde foram convidadas a participar […]

Por Jéssica Moreira

21|09|2016

Alterado em 21|09|2016

Mostrar o audiovisual como ferramenta de combate ao machismo na periferia de Bogotá (Colômbia). Este é um dos principais objetivos do coletivo Nós, Madalenas que, na última semana, lançou um financiamento coletivo para custear as despesas da viagem até o bairro periférico de Ciudad Bolívar, localizada na periferia de Bogotá, onde foram convidadas a participar do 9º Festival Internacional de Cinema Alternativo e Comunitário Ojo a Sancocho como oficineiras de comunicação.
Com dez dias de duração, o festival promete mobilizar as mulheres da cidade entre os dias 8 e 15 de outubro. O evento já acontece há 8 anos e tem como principal proposta democratizar o acesso à cultura audiovisual comunitária  para a população local.

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Crédito: divulgação


O financiamento, que acaba dentro de sete dias, conseguiu até agora R$ 980, dos R$ 9.650 desejados. Para as integrantes do Madalenas, as oficinas apresentam o potencial de aproximar as diversas realidades das mulheres periféricas brasileiras e colombianas, assim como ampliar a discussão sobre o machismo em toda a região latino-americana. Colabore com a campanha, doando quanto puder.
O objetivo da oficina é trabalhar a questão de identidade e representatividade junto às mulheres, no intuito de fomentar estratégias que dialoguem sobre suas realidades e imaginários locais, para que possam construir suas próprias narrativas.
Segundo o Projeto Global de Monitoramento de Mídia (Global Monitoring Media Project) de 2015, a presença de mulheres em veículos de mídia na América Latina continua sendo minoritária. O monitoramento aponta que apenas 29% do conteúdo dos meios analisados no continente tratam sobre a mulher,  prevalecendo ainda na região reportagens que reforçam os estereótipos e não colaboram para com a autonomia e empoderamento das mesmas.
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“Na contramão da banalização e reprodução dos discursos dos grandes meios de comunicação, que dependem da lógica de mercado, com noticiários que valorizam acontecimentos negativos, que privilegiam o drama, a tragédia e o espetáculo, assumindo um papel preponderante na criação da imagem pública sobre a periferia,  a oficina com propõe recriar, relatar e vizibilizar as realidades locais destas mulheres, a partir de seus próprios olhares e escolhas”, aponta o coletivo.
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Machismo na América Latina 
“As oficinas podem ampliar a discussão sobre o machismo no cotidiano de mulheres periféricas da América Latina. Cada país possui uma opressão específica, o que sofremos aqui no Brasil é diferente de que pode sofrer uma mina colombiana, porém, a raiz dessa opressão é a mesma”, aponta Elis Menezes, uma das integrantes do grupo.
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Exemplo disso é a violência doméstica no país. É comum ouvir relatos de mulheres que buscam por casas de amparo porque sofreram ataques com ácido de seus companheiros. “Prática bem comum por lá, que por aqui ocorre de outras maneiras, chegando à agressão física e morte”, aponta Elis, que explica que uma das ideias do coletivo é conhecer uma dessas casas de acolhimento e realizar a ponte com outros movimentos de mulheres de lá, além de articular e organizar o primeiro encontro de mulheres da Rede de Cinema Alternativo e Comunitário da América Latina e Caribe.
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Comunicação para o empoderamento
Todas as atividades  terão como ponto de partida a metodologia do cinema comunitário. Diferente das grandes produções, essa linha tem como princípio das espaço às produções independentes, partindo sempre da realidade social e cultural de cada localidade para a conquista do que se chama soberania audiovisual, fazendo com que as comunidades promovam a sua própria alimentação audiovisual e que a grande mídia não seja a única fonte de construção de histórias e imaginários sociais.
Segundo o coletivo, “as ferramentas audiovisuais comunitárias permitem que essas populações busquem espaço, representatividade e expressem suas problemáticas, vivências, potenciais criativos e histórias, para reconstruir uma memória local, que leve em consideração suas especificidades”.
Dentre as atividades previstas, está a análise de conteúdos impressos, enunciados e discursos locais que constroem a imagem sobre a mulher, fazendo-as dialogar sobre esses elementos e refletir sobre como gostariam de ser representadas, ocupando este lugar de fala e problematizando o papel da mídia hegemônica na construção destas identidades.
“Ressignificar as narrativas hegemônicas e falar por nós mesmas”
Criado em 2014, o Nós, Madalenas surgiu das inquietações de nove jovens mulheres, sendo sete delas das bordas de São Paulo, unidas pelo desejo de criar uma produção audiovisual que mostrasse um pouco das questões que vivenciavam, perpassando pelas desigualdades de gênero e social.
“Hoje, as temáticas que nos unem são as questões do papel assimétrico da mulher na sociedade, as exigências desiguais de gênero, a desigualdade social. Nosso objetivo é ocupar o lugar de falar. Ressignificar as narrativas hegemônicas e falar por nós mesmas. Com o olhar de dentro, o que acontece nas periferias e os duplos papeis das mulheres na sociedade. Queremos levantar essas questões, enquanto refletimos e aprendemos”, aponta Natalie.
Em 2014 realizaram o documentário ‘Mucamas’, um documentário que retrata o trabalho doméstico pela visão de algumas integrantes que entrevistaram suas próprias mães, empregadas domésticas. Desde então, participaram de festivais, rodas de conversas e distribuimos o Mucamas. Com essa experiência, seguimos inscrevendo projetos em editais e em 2016 realizamos os primeiros trabalhos como produtora audiovisual.
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Ao todo, gravaram em cinco diferentes bairros de São Paulo, mostrando que as periferias paulistanas também são diferentes entre si. “Gravamos em cinco quebradas diferentes e também geograficamente distantes uma das outras. Foi uma experiência incrível. Nenhuma das integrantes conheciam as cinco áreas que gravamos. As paisagens e a organização das periferias eram muito diferentes entre si. Foi uma oportunidade de conhecer e explorar a periferia de São Paulo”.
Atualmente, estão em processo de finalização de um projeto sobre a regularização fundiária no litoral paulista, um vídeo de cinema comunitário para a comunidade do Glicério, por meio do projeto Criança Fala, e o segundo edital para o VAI – Valorização de Iniciativas Culturais – sobre mulheres indígenas.