Após relação abusiva, moradora do Capão Redondo cria blog sobre empoderamento

Grazi Gomes transformou seu blog pessoal, o lamoonier.com, em um canal para alertar e conscientizar outras jovens que estão em relações tóxicas.

Por Bianca Pedrina

21|07|2017

Alterado em 21|07|2017

Transformar a dor de vivenciar um relacionamento abusivo em empoderamento e alerta para outras mulheres. Foi com esse objetivo que a jovem Grazi Gomes, 19 anos, moradora do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, criou coragem e transformou seu blog pessoal, o lamoonier.com, em um canal para alertar e conscientizar outras jovens que estão em relações tóxicas.
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Grazi Gomes | Arquivo pessoal

“De tudo que passei, foi um remédio para mim. Sempre gostei de escrever e percebi que podia ajudar outras pessoas alertando sobre o assunto. Foi algo meio assustador, porque percebi que mulheres da minha família também sofriam isso”, lembra Grazi, que durante um ano foi vítima de um namorado abusador, aos 16 anos.

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Reprodução matéria relacionamento abusivo


O primeiro texto sobre o tema O que fazer depois do término de um relacionamento abusivo?” teve retorno imediato e surpreendeu a blogueira, com mais de 61 mil visualizações. A partir dele, jovens que também vivenciaram relações abusivas passaram a procurá-la para relatar casos semelhantes. “Recebo muitos comentários e histórias de garotas que passam por isso”, conta. Apesar da procura, ela reconhece que ainda existe muito medo e tabu para falar sobre abuso. ” Eu sinto elas envergonhadas para se abrir,  ainda é um processo”.
Para divulgar seus textos, ela utiliza grupos que debatem o tema no facebook e compartilha com amigas e pessoas de seu convívio pessoal.  O diferencial dos conteúdos está na forma espontânea de se comunicar,  “como se fosse uma conversa entre amigas”, compara.
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Como uma jovem mulher da periferia, ela acredita que ainda há muito a se avançar para empoderar as meninas em seu entorno e o blog nasce exatamente para colaborar nesse processo. Para ela, esse tipo de informação ainda não chega a todas as mulheres de maneira igual e se reconhecer em uma relação abusiva não é nada fácil. “Uma vez, estava em experiência em um serviço e perguntei para uma das meninas se elas sabiam o que era feminismo, ou relação abusiva, mas elas não sabiam. Falta informação ainda, mesmo com tantos projetos bacanas. Mas tento compartilhar meus posts, falar, ‘amiga, leia isso”.
Informar para empoderar
Apesar de relacionamentos abusivos serem os principais temas de seus textos, o conteúdo também traz assuntos sobre auto-estima, afetividade, bem estar feminino, e encoraja mulheres a serem donas de si. O próprio nome do blog  é uma abreviação de um sobrenome francês e remete à palavra amor, conta a criadora da página.”Eu me apeguei a esse nome de uma forma incrível (risos), eu achei ele em uma comunidade no Orkut na época. Escolhi para despertar o interesse, a curiosidade, ser algo diferente”, explica.
Depois de ter passado por todo esse processo de dor, hoje ela se sente mais segura, apesar de ainda ter seus momentos de incertezas. “Eu estou levando adiante um sonho, o blog me acompanhou em todas as fases. Amo falar sobre relações, empoderar mulheres através da leitura dos meus textos, chegar em todas as idades, passar as minhas informações, experiências”, reforça.

Sobre planos para o futuro, Grazi quer chegar longe e sonha em escrever um livro sobre relações abusivas e contar um pouco do que viveu. “Sei que perto do que muitas mulheres passam todos os dias, não vivi muita coisa, mas queria fazer uma junção de tudo isso. Ajudar cada vez mais mulheres a identificarem que estão em uma relação abusiva. Quero  trazer essa informação para o meu bairro, ir até a casa das mulheres, bater um papo como amiga, alertar, dar apoio emocional. Já presenciei agressões contra mulheres na minha família, verbais e físicas,  e isso só me dá um gás para lutar contra esse mal”.
Para saber mais sobre relacionamentos abusivos, empoderamento feminino, afeto entre outros assuntos desse universo, acesse o blog da Grazi amoonier.com e fortaleça essa rede de apoio.

Nota da autora: Conhecemos a Grazi em uma apresentação do documentário Nós, Carolinas, na Fundação Julita. Ela nos contou que havia se identificado com uma das mulheres, a Tarcila, que no filme relata, entre outras temas, sua vivência em um  relacionamento abusivo. Grazi fez um blog, a Tarcila participou de um documentário, ambas expuseram sua dor e a transformam em combustível para arrancarem suas amarras.  Que histórias como essas nos inspirem para que cada vez mais nós, mulheres da periferia, nos libertemos.