Sobre o #DesafiodaMaternidade: “Não precisamos romantizar nada”

Nos últimos meses, vimos algumas campanhas discutindo situações que envolvem mulheres nas redes sociais. Agora, chegou a vez das mães! Chamada de #DesafiodaMaternidade, a corrente consiste em publicar pelo menos três fotos que mostram por que você é feliz sendo mãe e depois marcar outras mulheres A atriz Tayla Fernandes, 25 anos, publicou em seu Facebook seu relato […]

Por Redação

17|02|2016

Alterado em 17|02|2016

Nos últimos meses, vimos algumas campanhas discutindo situações que envolvem mulheres nas redes sociais. Agora, chegou a vez das mães! Chamada de #DesafiodaMaternidade, a corrente consiste em publicar pelo menos três fotos que mostram por que você é feliz sendo mãe e depois marcar outras mulheres
A atriz Tayla Fernandes, 25 anos, publicou em seu Facebook seu relato da maternidade. Tayla é integrante do Movimento Aliança pela Praça e Coletivo feminista Ser Vi Elas. Mora em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.
Veja o depoimento
Eu tinha apenas 16 anos, com aparência de 13, era daquelas garotas que só pensavam em estudos e teatro, mas por ironia da vida encontrei um moço, juntamos os trapos, e meses depois lá estava eu: grávida!
Do dia pra noite, pra uma parte das pessoas que me cercavam, a patricinha nerd (como era ridiculamente chamada) virou a “vagabunda” do século, enquanto meu companheiro na época era visto como o gostosão que conseguiu me engravidar, pra outra boa parte era bênção de Deus, a luz que vinha me iluminar e blablablas…
Mas resumindo, eu ia às consultas, me olhavam como se eu fosse uma mutante, pegava ônibus só ouvia buchicho, na escola me tratavam feito lixo, meus pais só ouviam merda, me criaram mal, coitados.

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Crédito: arquivo pessoal


Conforme a barriga ia crescendo, eu fui cansando, não sentia nada, nem azia, nem enjoo, dor, o cansaço era mesmo de gente, eu não queria mais sair sem meu companheiro, não aguentava os olhares, não aguentava tanta gente me colocando em pauta, seja pra me desejar boa sorte, pra me ofender ou vir dar palpite de como eu tinha que me comportar na hora do parto e quando a bebê nascesse.
Daí chegou o “grande dia”: uma dor desgraçada que vinha e voltava toda hora até que senti um plock dentro da minha barriga. É, a bolsa estourou, pronto a festa tava feita todo mundo falando coisas diferentes, chamando o vizinho, a irmã, a sogra, porque a Bezerra ia ter outra bezerrinha, enquanto eu só queria tomar banho em paz pra ir pra maternidade. Sentia medo, não do parto em si, mas de viver a partir dali, mas pra isso ninguém estava nem aí.
Então fui, e foi o pior dia da minha vida, não deu tempo de chegar onde queríamos que a bebê nascesse, fomos pro publico, Hospital Tide Setúbal, onde fui deixada de lado por horas porque não tinha leito e não podiam me transferir porque eu já estava em trabalho de parto, mas o pior momento foi ouvir que iriam fazer cesariana porque demorou demais e a bebê defecou.
Eu queria morrer, já tinham me colocado todos os tipos de medo e eu, criança que era, só escutava, eu delirava até tirarem de dentro de mim um ser todo amarelo, que na hora só vi as pernas e dormi torcendo pra poder ver meus pais. A Gabs foi pra UTI e eu fiquei 18 horas sem me mexer porque esqueceram de mim e só lembraram quando meu pai chegou pra visita, me trouxe flores e presentes todo atencioso, me deu parabéns e disse que agora eu não era mais uma menina, era uma mulher. Eu ODIEI ouvir aquilo e receber flores num momento tão merda, mas tão merda que eu só queria ir embora e não lembrar nunca mais.
Mas passou, a Gabs passou por vários problemas internada também, e então chegou o dia de vir pra casa e eu pensava que ia ser tudo melhor a partir daí, mas só piorou, eu virei escrava do lar, não dormia nunca, fiquei pesando 48 quilos, meus seios sangravam, meu rosto murchou, minhas roupas não serviam mais, eu não podia brincar, ler ou qualquer coisa sozinha.
Ela foi crescendo e eu me acostumando com todos os palpites, todos os julgamentos e me desdobrando com casa, trabalho, comida, amamentação, escola, consultas médicas que mesmo emancipada era motivo pra falatório. A minha sorte é que minha família me apoiava em tudo, tive os melhores pais, irmãs e companheiro nessa primeira fase.
Acho importante enfatizar um período, quando a Gabs tinha uns dois aninhos e era a coisa mais fofa da face da terra, eu queria ficar bem, bem longe dela! Estava num momento difícil comigo mesma, cansada de tudo e muito mais dela, por meses fazia apenas o que tinha obrigação e minha família segurou a bronca, passado isso foi e é bomba atrás de bomba e se eu for expor vão chorar.
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Enfim, eu amo minha filha, e provavelmente sempre vou amá-la, mas isso de nenhuma forma me faz ver a maternidade essa coisa maravilhosa que estão falando, quero que ela cresça logo pra se cuidar sozinha, e NÃO, não sinto um pingo de saudade dela bebê, a única coisa que eu gostava era de amamentar, parece que era um jeito de embuti-la de novo em mim e protegê-la desse mundo de bosta, mas também não sinto falta.
Eu não sou e nem quero ser uma super mamãe, quero ser a Tayla que também é a mãe da Gabs e se fode muito pra cria-la, nem venham falar que é assim mesmo, ou que valeu a pena, não me arrependo de ter uma filha, mas me arrependo MUITO de ter com 16 anos.
Hoje o maior medo da minha vida é gerar outro filho, se ser mãe é ter “esse tal dom divino” eu nasci sem ele e pago muito caro pra conseguir exercer o papel de mãe. Gabi, gratidão por estar crescendo e ter paciência comigo!
Mulheres, não precisamos romantizar nada, nem nosso sofrimento diário com os guris.